segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Análise de Filme - Eu, mamãe e os meninos


O que é ser homem ou ser mulher? Como definimos o que é próprio de cada sexo? E hetero e homossexualidade são tão distintas assim? Como podemos ver essas perguntas não são fáceis de serem respondidas e as linhas de separação entre o que é ser uma coisa ou outra são extremamente tênues. O filme francês Eu, mamãe e os meninos (2014) transita por essas e muitas outras questões de forma bem constituída e torna esse filme uma aprendizagem para encararmos com mais naturalidade muitas questões que são, geralmente, encaradas sob a ótica do preconceito e da ignorância.
O filme, que é baseado numa peça de teatro autobiográfica do ator e escritor, conta a estória de Guillaume que foi criado como uma menina e não um menino. Seus dois irmãos mais velhos são vistos como meninos e fazem coisas que usualmente são associadas ao que um menino faria. Guillaume, por sua vez, é preso numa posição que sua mãe o coloca: a de ser uma menina. Como se não bastasse toda essa situação, Guillaume possui uma grande sensibilidade, que o torna ainda mais associado à características femininas. No começo de sua vida ele não sabe se é menino ou menina, fica confuso. É repelido pelos outros homens, incluindo seu pai e seus irmãos, e é acolhido pelas mulheres que ele passa a admirar e a imitar. O resultado disso é que ele fica cada vez mais “feminino”.
A mulher que Guillaume mais admira é sua mãe. Ele fica verdadeiramente obcecado por ela. Sua mãe é uma mulher cheia de trejeitos e bastante possessiva e controladora. É até mesmo uma mulher fria, mas como ela é a única a mostrar um pouco de atenção à Guillaume ele fica identificado com ela. Não há outros modelos para identificação além da sua mãe. Seu pai e seus irmãos são rudes, o que acabava por espantar Guillaume que sempre foi delicado. Sua sensibilidade e delicadeza o faz se aproximar mais das figuras femininas e afastá-lo das masculinas. Um grande erro é associar à feminilidade à delicadeza e sensibilidade e a masculinidade à rudeza. A verdade é que essas características não são exclusivas de cada sexo, não são definidas biologicamente, mas dependem muito do que a sociedade interpreta sobre o que seja próprio do masculino e feminino.
O que fazer então quando um menino delicado vive em um ambiente onde o homem precisa ser mais grosseiro e insensível? Está aí o enredo e o centro dessa história. Guillaume, que é um menino doce e sensível, delicado e nada agressivo é levado à confusão sobre a sua sexualidade. Afinal, quando ele descobre que não é uma menina, mas que também não se encaixa nos padrões típicos masculinos, só tem um caminho que ele consegue vislumbrar para vir a ser: a homossexualidade. Mas nem tudo é tão fácil e simples assim. Quem disse que para ser homossexual precisa-se, necessariamente, ser delicado e sensível? E quem disse que para ser homem necessita-se, obrigatoriamente, ser rude e durão?
Homossexualidade e heterossexualidade nada tem a ver com o que comumente se designa ser típico do homem ou da mulher. Dividir categoricamente algo tão complexo como a sexualidade em preto e branco fere o que há de mais humano nas pessoas e só traz dor e confusão para aqueles que não se encaixam nos padrões. Os seres, fora dos padrões, se sentem como párias e destituídos de um direito de existir. Sendo insuportável não se ver através de um rótulo, muitas dessas pessoas terminam por abraçar qualquer forma de vir a ser que já foi rotulada, apenas para se sentirem mais seguras. Certamente, esse é um caminho que só leva à infelicidade.
O filme mostra, lindamente, que a sexualidade precisa ser mais bem entendida e acolhida. Descobrir a própria sexualidade já um processo sofrível imagine então quando, aos jovens, são acrescentados preconceitos desumanos. Não é fácil construirmos uma identidade de gênero ou identidades. Afinal de contas, somos muito mais do que homens, mulheres, heterossexuais, homossexuais ou qualquer outra coisa assim. Somos todos, no fim, humanos procurando viver o melhor que pudermos e esse direito ninguém pode nos roubar.

Um comentário:

  1. Querido Sylvio do Amaral Schreiner.
    Eu posso dizer que sempre fui ensinada a ser feminina, mas nunca consegui me situar na "casinha ".Tentei várias vezes entrar no esquema social , mas não durou muito.Comprei produtos de beleza e estragaram dentro dos armários, roupa bonitas e voltei aos trapos,sapatos de salto e voltei aos chinelos,falar docemente ,andar com charme,nada disso durou.Até para andar de carro( carona) não era feminina.Colocava o braço para fora como um homem.Casei, descasei.Tive vários amores.Tive três filhas lindas e femininas (dentro do conceitual) Uma mãe de santo me disse um dia que eu nunca seria feliz no amor porque eu tinha cabeça de homem em corpo de mulher.Sou ""feliz ""com o seu Valdemar porque ele é um homem muito paciencioso.Estamos juntos há 18 anos.Na velhice, agora com 73 anos quase tudo arrefece mesmo no meu corpo e alma.mas ainda quero ser " a chefe ""em tudo que me permitirem.Acho que andei em cima do muro ao fazer uma análise de mim mesma.Sou um homem feminino ou uma mulher masculina,como cantava o querido cantor aquele que se pintava e fantasiava que tinha uma dança e voz maravilhosa.Pepeu Gomes.

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