Um dia desses fui à uma reunião de condomínio e foi uma
excelente oportunidade para se observar um grupo funcionando. Numa reunião de
condôminos imagina-se que seja um lugar e um momento para se pensar nas
questões do edifício, a fim de melhorar suas condições. Porém, a realidade é
outra. Nessas reuniões, muitas vezes, está mais em jogo as questões pessoais de
cada um do que a objetividade de se pensar sobre o que se precisa.
É incrível poder observar a dinâmica de um grupo
funcionando. Bion, psicanalista inglês, falou da existência de dois tipos de funcionamento
da dinâmica grupal: o grupo de trabalho e o de suposto-básico. O primeiro
funciona com mais praticidade e objetivo. As pessoas não estão nesse grupo para
atuarem, ou seja, agirem de forma irracional, mas com uma idéia bem definida de
um trabalho que demanda ser feito. É um grupo que funciona bem e de forma
organizada. Atinge seus objetivos e não traz nenhum mal estar. Já os grupos de
suposto-básico têm uma dinâmica diferente. Apesar de aparentemente existir um
objetivo ele fica perdido pelas questões inconscientes de cada membro do grupo
e acabam se voltando mais para a desconstrução do que para a construção de algo
bom coletivamente.
Os grupos de suposto-básico são divididos em três: os de
dependência, os de ataque-fuga e os de pareamento. O primeiro, como o próprio
nome indica, funciona quando o grupo elege um líder carismático e fica em volta
dele dependendo desse líder tal qual crianças. O líder, para esse grupo, ganha
aura mágica e encarna poderes especiais projetados pelos membros do grupo e se
torna alguém extremamente poderoso e inatacável. O resto dos membros se torna
irresponsável por tomar quaisquer decisões e espera sempre pela decisão de seu
líder.
Muitos governos com líderes carismáticos funcionam dessa
maneira. Isso é destrutivo pois convida as pessoas a adotarem uma posição
infantil de dependência. Ninguém mais decide nada, mas entrega o poder como se
não lhe dissesse respeito. O voto, nesse tipo de sociedade, perde completamente
o real valor e só serve para dar tintas de uma sociedade democrática. As
pessoas não exercem mais sua obrigação de serem ativas e ficam no aguardo de
uma figura poderosa que tudo dará e fará por elas. Um grupo com tal funcionamento,
seja um governo ou uma simples reunião de condôminos, não enfrenta as questões
necessárias que se fazem pertinentes já que abdicaram de pensar verdadeiramente
e perde-se facilmente numa alucinação coletiva empobrecedora.
A continuar
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