segunda-feira, 16 de junho de 2014

O amor cuida, não aprisiona


            Assisti, num desses programas que mostram pessoas com seus bichos de estimação, algo curioso e que também ocorre entre pessoas e que é extremamente prejudicial. Nesse programa uma mulher, dona de um papagaio, o enchia de comidas engordativas e que nem era parte de sua dieta natural. Fazia isso porque, segundo ela, lhe tinha grande amor e não conseguia privá-lo das gostosuras. O resultado foi que o papagaio ficou doente e estava quase para morrer quando o veterinário alertou que se ela continuasse dando o que não podia iria certamente mata-lo. A mulher alegou que fazia o que fazia porque tinha para com o papagaio excesso de amor.
            A verdade não é bem assim. Não existe isso de excesso de amor. Até como diz o ditado: de boas intenções o inferno está cheio, o excesso de amor é bem isso. Algo, que em princípio parece bom, mas que na verdade é mau. A característica principal do amor é o cuidado do objeto amado. Entretanto, quando essa mulher enchia seu bichinho de guloseimas ela não estava de fato cuidando dele, porém o colocando em grave risco. Fazia mais mal do que bem. Como poderia então ser amor se amor não faz mal?
            O problema é que muita gente não entende o que seja amor. Acreditam que entendem, mas confundem amor com o sentimento de posse, por exemplo. Nestes casos o objeto de amor, seja pessoa ou animal, ganha outra importância que provavelmente tem mais a ver com o narcisismo do que com amor. O papagaio não era amado pela mulher, que por isso mesmo não pôde cuidar dele, mas era usado por ela como alguma outra representação. O animal era para servir às suas carências, medos e angústias. Quando usamos algo ou alguém nesse sentido a consequência é desastrosa.
            Excesso de amor é na verdade paixão e esta pode ser manifestação patológica. Enquanto o amor cria condições favoráveis e saudáveis para o outro, a paixão aprisiona. A paixão torna as pessoas ignorantes e incapazes de pensar, já o amor torna-as mais sábias porque faz compreender que nem tudo se pode e que limites se fazem importantes. A paixão, por sua vez, desconhece limites e quando determinados limites são negados o resultado é sempre correr perigos desnecessários. O amor sabe dizer não, pois “o não” pode também estar a serviço da vida. A paixão só conhece o sim sem limites e com isso cria as condições perfeitas para os excessos. A vida só pode existir no equilíbrio e nunca nos excessos.

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