Assisti, num desses programas que mostram pessoas com seus bichos de
estimação, algo curioso e que também ocorre entre pessoas e que é extremamente
prejudicial. Nesse programa uma mulher, dona de um papagaio, o enchia de comidas engordativas
e que nem era parte de sua dieta natural. Fazia isso porque, segundo ela, lhe tinha
grande amor e não conseguia privá-lo das gostosuras. O resultado foi que o
papagaio ficou doente e estava quase para morrer quando o veterinário alertou
que se ela continuasse dando o que não podia iria certamente mata-lo. A mulher
alegou que fazia o que fazia porque tinha para com o papagaio excesso de amor.
A
verdade não é bem assim. Não existe isso de excesso de amor. Até como diz o
ditado: de boas intenções o inferno está
cheio, o excesso de amor é bem isso. Algo, que em princípio parece bom, mas
que na verdade é mau. A característica principal do amor é o cuidado do objeto
amado. Entretanto, quando essa mulher enchia seu bichinho de guloseimas ela não
estava de fato cuidando dele, porém o colocando em grave risco. Fazia mais mal
do que bem. Como poderia então ser amor se amor não faz mal?
O
problema é que muita gente não entende o que seja amor. Acreditam que entendem,
mas confundem amor com o sentimento de posse, por exemplo. Nestes casos o
objeto de amor, seja pessoa ou animal, ganha outra importância que
provavelmente tem mais a ver com o narcisismo do que com amor. O papagaio não
era amado pela mulher, que por isso mesmo não pôde cuidar dele, mas era usado
por ela como alguma outra representação. O animal era para servir às suas
carências, medos e angústias. Quando usamos algo ou alguém nesse sentido a
consequência é desastrosa.
Excesso
de amor é na verdade paixão e esta pode ser manifestação patológica. Enquanto o
amor cria condições favoráveis e saudáveis para o outro, a paixão aprisiona. A
paixão torna as pessoas ignorantes e incapazes de pensar, já o amor torna-as
mais sábias porque faz compreender que nem tudo se pode e que limites se fazem
importantes. A paixão, por sua vez, desconhece limites e quando determinados
limites são negados o resultado é sempre correr perigos desnecessários. O amor
sabe dizer não, pois “o não” pode também estar a serviço da vida. A paixão só
conhece o sim sem limites e com isso cria as condições perfeitas para os
excessos. A vida só pode existir no equilíbrio e nunca nos excessos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário