Na antiga mitologia grega Procrusto era um bandido louco que tinha em sua casa uma cama de ferro, no seu exato tamanho, para a qual convidava todos o viajantes a se deitarem. Caso os hóspedes fossem demasiados altos, ele amputava o excesso de comprimento para ajustá-los à cama, e os que tinham pequena estatura eram esticados até atingirem o comprimento suficiente. Ele torturou e assassinou muitos até que foi capturado por Teseu que prendeu Procrusto em sua própria cama e cortou-lhe a cabeça e os pés, aplicando-lhe o mesmo suplício que infligia aos seus hóspedes. Essa estória mitológica revela algo que vem acontecendo muito hoje em dia e que acaba por trazer muita confusão e mal-entendidos: a padronização.
Padronizar
é perigoso e inútil porque cada ser é diferente dos outros. Comparar crianças
pequenas, por exemplo, e que tanta gente faz, é algo que deveria ser evitado
porque não traz verdade. Há crianças que se desenvolvem mais rápidos e outras
mais devagar e a maneira e velocidade de cada criança não é um indicativo de
que algo, necessariamente, vai mal. É preciso saber respeitar o tempo de cada
um. No entanto, existem muitas pessoas e escolas para crianças bem pequenas que
insistem em criar padrões que só levam os pais ao desespero achando que seus
filhos têm algum problema porque comparado com outra criança ainda não faz uma
determinada coisa.
Obviamente que os adultos devem estar atentos
aos sinais dos pequenos e procurar ajuda quando percebem que algo está
destoando. Mas esse exercício de observação deve ser feito com cautela e com
muito respeito ao tempo de cada criança, senão vira um exercício persecutório,
ou seja, paranoico. Uma demora mais longa na criança aprender a falar, a andar
ou a mastigar não deve ser encarado com angústias excessivas. Pelo contrário,
quanto mais angústias os pais ou tutores dessa criança viverem mais podem
assustar o pequeno que fica mais inibido em seu desenvolvimento. Algumas
crianças precisam de mais tempo do que outras. Agora, o que não se deve fazer é
colocar todas as crianças na cama de Procrusto.
As
crianças não nascem todas iguais. Há inúmeras diferenças entre elas. Podemos
ver que há crianças mais agressivas e outras menos agressivas, lembrando que
agressividade quer dizer uma pulsão que faz com que uma dada criança seja mais
intolerante ou tolerante, o que por sua vez muda a forma como ela se relaciona
com o mundo em sua volta. Cada criança vai ter suas peculiaridades e respeitar
e estar presente para ajuda-la é o que importa para que ela possa viver um bom
desenvolvimento.
Einstein,
que ninguém tem dúvidas de sua genialidade, demorou anos para aprender a dizer
as primeiras palavras e a andar e houve até mesmo um episódio no qual um
professor disse aos seus pais que deveriam desistir dele porque ele não seria
ninguém na vida. Pois é, esse professor colocou Einstein no modelo que ele
considerava que era uma criança padrão e com isso fez mais mal do que bem e
passou para a história como ridículo. Teseu já venceu Procrusto, devemos agora
vencê-lo nas nossas ideias e pensamentos para que muitas crianças possam se
desenvolver no seu ritmo e com confiança.
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