Hoje
estou com 22 anos e desde os meus 13 meu tio abusou sexualmente de mim. Isso me
deixou muitos traumas e até hoje nunca consegui ter um relacionamento sério e
nunca tive relações sexuais normais com alguém. E para piorar quando eu era
abusada eu sentia prazer. Como explicar isso? Será que sou uma desvirtuada? Meu
tio mora até hoje na minha casa e eu finjo que nada ocorreu. Ele também nem
toca no assunto do que já fez no passado. O que posso fazer para tirar essas
imagens da minha cabeça e parar de sentir prazer quando me lembro delas?
O
incesto é um ato antissocial dos mais graves tanto que Freud escreveu que a
civilização só é possível quando determinados atos podem ser contidos. Sem a
possibilidade de contenção de determinadas atitudes a civilização seria
impraticável. O incesto é um ato de violência potencializado e quem cai nele é,
certamente, louco. Esse é o caso do seu tio.
O
abuso sexual é catastrófico por si só, mas quando ele é praticado por alguém da
própria família que supostamente deveria zelar pelo bem estar e pela segurança
do menor é mais trágico ainda. Uma família que vive sem as regras básicas de
civilização é uma família sem a menor possibilidade de oferecer segurança
emocional para uma criança e de mostrar a ela que na vida nem tudo se pode e
que há determinados atos que só levam à desorganização psíquica.
Hoje
você se percebe assim, desorganizada internamente. Sente prazer com as
lembranças quando ao mesmo tempo também sente repulsa e é por isso que se sente
desvirtuada. Quando os órgãos genitais são manipulados é provável isso causar
certa excitação e esta pode ser sentida como prazer. Foi isso que lhe
aconteceu. Hoje você está em dúvida sobre qual sentimento mais lhe domina:
prazer ou repulsa e por isso vive em conflito. Não só seu corpo foi abusado,
mas também a sua mente e a sua autoimagem. Você não entende que o que lhe foi
feito é avassalador e criminoso, tanto que aceita morar sob o mesmo teto que o
abusador.
Para
se livrar das imagens e do prazer que te assustam vai ser preciso se tratar com
alguém que saiba te escutar para ouvir o que você tem a dizer desse ato que
sofreu. Em outras palavras, vai precisar se organizar internamente e desta vez
de uma maneira que lhe seja favorável e sadia. Atualmente você tem um trauma,
mas pode fazer desse trauma um trunfo que lhe permita entender que há barreiras
que não devem jamais ser ultrapassadas. Vai aprender a se fazer justiça, que é
o que lhe falta. Sartre, filósofo francês, dizia que mais importante do que os
outros nos fizeram é o que vamos fazer com o que os outros nos fizeram.
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