Há um psicoterapeuta americano que
anda propagando que consegue curar qualquer distúrbio psicológico em 28 dias.
Lançou um livro que vem fazendo estrondoso sucesso e com isso consegue prestar
um imenso desfavor às pessoas, pois o que ele faz é vender ilusões e isso é
sempre prejudicial.
Quem se coloca numa psicoterapia e
seja ela de qual base for: comportamental, psicanálise, existencial, etc. entra
num processo de autoconhecimento que vai trazendo à tona importante revelações
que por sua vez vão pedindo por novas elaborações. Não há como fixar o tempo de
uma psicoterapia já que a mente não funciona como algo que podemos estabelecer
metas fixas. E mais, um distúrbio é indicativo de algo interno, um
funcionamento que não anda bem e que exige uma reflexão.
O que esse psicoterapeuta americano
propõe é apenas um apagar incêndios, ou seja, focar no sintoma que tanto
assusta um determinado indivíduo sem nem mais ligar para a causa que provocou
aquele mesmo sintoma. Talvez uma analogia com a medicina possa ser
esclarecedor. Se uma pessoa padece de terríveis dores de cabeça a solução não é
ela viver tomando analgésico para o resto da vida. Isso é tapar o sol com a
peneira e fingir que o problema está solucionado. O sintoma, nesse caso a dor
de cabeça, possui uma causa e esta precisa ser investigada. Pode ser um
problema dentário, em algum órgão ou indicativo de uma alergia entre muitas
outras possibilidades. Enfim, o problema só pode ser solucionado quando a causa
pode ser identificada e tratada. Com a psicoterapia é assim também.
Quando trabalhamos com algo tão
complexo quanto a mente é impossível saber de antemão tudo o que vai surgir e o
que teremos, psicoterapeutas e pacientes, de lidar. Portanto é impossível
estabelecer metas fixas. Esse terapeuta americano tem um problema que é
terrível para alguém que se propõe a exercer a psicoterapia. Ele não suporta
estar com seus pacientes. Num processo psicoterápico o sofrimento mental se faz
presente e o terapeuta suportar estar com alguém que sofre é vital. A tendência
é a gente sempre fugir daquilo que nos causa dor e espanto. Como os terapeutas
também são gente eles também tentam evitar sentir qualquer desprazer e querer
se livrar de seus pacientes é um meio de fazer isso. Um terapeuta que estabelece
metas rígidas para seu trabalho impede que seu paciente se revele e tenha a
possibilidade de descobrir quem realmente é. Com essas metas ilusórias o
psicoterapeuta não dá espaço para que seu paciente saiba mais acerca de si.
Não é fácil trabalhar com psicoterapia.
Significa desenvolver uma capacidade eficiente para lidar com a frustração e
nesse trabalho são muitas. Os próprios limites do psicoterapeuta que descobre
que nem tudo pode e nem tudo resolve, estar com alguém que sofre e pede por
ajuda muitas vezes de forma desesperada, nunca saber se o desejo do paciente
por se cuidar vai ser forte o suficiente para mantê-lo no trabalho
psicoterápico e ajuda-lo a progredir, etc. Não é a toa que muitos profissionais
começam a trabalhar na clínica e depois de um tempo a abandonam por não
suportarem tudo o que são obrigados a sentir e a lidar de uma maneira madura e
eficaz. O psicoterapeuta americano sente medo de atender seus pacientes e
resolveu isso estabelecendo o tempo que tem com eles. Assim se protege, falsamente,
de lidar com coisas mais profundas e verdadeiras e que venham realmente a mexer
tanto consigo quanto com quem atende.
Nenhum comentário:
Postar um comentário