sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Pergunta de Leitora - Simplicidade


Sou psicóloga e atendo pacientes em clínica. Me esforço sempre por oferecer interpretações elaboradas para os meus pacientes, mas muitos deles parecem que nem me escutam. Não sei o que ando fazendo de errado ou se é assim mesmo que se dá o processo psicoterapêutico. Estudo muito, me esforço para entender o que eles falam, mas alguns olham para mim como se eu estivesse falando grego. Teve uma vez que numa sessão com uma paciente eu dei interpretações que considerei importantes e boas mas na sessão seguinte ela disse que não havia gostado da sessão. Tivemos uma visão diferente do que havia sido a sessão. É assim mesmo? Como saber se estou fazendo as coisas direito?

            Muito provavelmente você está mais preocupada com a sua performance do que em estabelecer uma comunicação de qualidade com seus pacientes. É claro que você se preocupa com eles e com a forma que você trabalha, caso contrário não me escreveria e nem se abriria. É natural você querer dar boas interpretações já que são elas que fazem o trabalho psicoterapêutico se desenvolver, no entanto você parece confundir o que seja boas interpretações.
            Nem sempre interpretações elaboradas vão ser eficazes com os pacientes. Essas “interpretações elaboradas” servem mais ao terapeuta do que aos pacientes em si. O que é mais importante para os pacientes é eles entenderem as interpretações de uma maneira que os toque, que forneça um sentido para uma dada experiência de vida. Portanto as interpretações precisam ser eficazes e não elaboradas.
         Para poder “tocar” o paciente é necessário primeiro compreender o que se passa com ele. Quais as emoções, as dores em jogo? Sem empatia, ou seja, sem se colocar no lugar do paciente não haverá comunicação eficaz. Ao entender com mais propriedade o que se passa com o paciente te permitirá encontrar uma maneira de se comunicar melhor com ele.
            As interpretações muito elaboradas podem servir apenas para alimentar o narcisismo do terapeuta, coisa que não deve acontecer numa sessão. Os pacientes não são idiotas e não se deixam enganar por pirotecnias. Eles desejam, primeiramente, o sentimento de serem compreendidos e é justamente esse sentimento que pode fazer muita diferença na vida deles. Se você não está em análise procure uma para melhor entender a dinâmica desse processo do lado de dentro, a partir da sua própria experiência e se basear naquilo que você mesma sente. Nada substitui a própria experiência para simplificar as coisas.

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