O poder sempre esteve na moda. Quase todo mundo o deseja
e valoriza as pessoas que o tem. Quem não tem o poder da influência e de ditar
regras não se sente alguém e se encontra despido de qualquer valor. Talvez
esteja na hora de reavaliar o que seja realmente o poder.
Na grande maior parte das vezes o poder que é valorizado
é o poder do controle sobre os outros e sobre as instituições. Na verdade, isso
em psicanálise tem outro nome: perversão. Políticos corruptos, celebridades que
quebram qualquer regra e lei são exemplos que a perversão é, sim, valorizada e
não o verdadeiro poder. Perversão não deve ser confundida com poder. O sujeito
perverso tem prazer em romper com qualquer norma estabelecida e que serve para
manter a vida em sociedade aceitável. Ele se sente melhor do que os outros e
com mais razão e por isso mesmo consegue fazer coisas que em outras pessoas
causaria vergonha e culpa. Nem todo sentimento de culpa precisa ser
necessariamente negativo, depende do contexto em que se encontra. A perversão
está imune a culpa e permite que qualquer ato possa ser praticado. Infelizmente
muita gente considera que perversão é o mesmo que poder.
O poder verdadeiro implica em reconhecer limites e em
saber que nem tudo se pode. Poder exige respeito e a capacidade de fazer
escolhas que promovam a vida e o desenvolvimento desta. Pessoas que vivem em
prol da construção da dignidade são as que realmente são poderosas, mas são
menos valorizadas porque não tiram proveito próprio e nem saem nas colunas
sociais. A perversão tomou um lugar importante que deveria pertencer ao
verdadeiro poder. Quantos professores, enfermeiros e muitos outros
profissionais idôneos são valorizados e reconhecidos? Entretanto, quantos
políticos de má cepa e sub-celebridades são alçados a postos importantes?
Alguma coisa deve estar muito errada nos nossos valores.
Enquanto direcionarmos nossos valores às coisas sem real
importância contribuímos para que o verdadeiro poder se encontre ausente e que
o poder vazio da perversão seja personagem central da vida. Enquanto os
perversos forem investidos de admiração e os que realmente trabalham forem
desmerecidos vai ser impossível viver dignamente. Resta agora refletirmos sobre
isso e fazermos nossas escolhas.
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