segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Olhar de Espetáculo


            Segundo uma pesquisa americana os sites de fofoca sobre a vida das celebridades são os sites mais acessados do planeta, quase se igualando ou perdendo por pouco dos sites de pornografia. Por que será que isso se dá? O que será que leva tantas pessoas a procurar saber da vida de outras que no fundo não conhecem e jamais, provavelmente, vão vir a conhecer de fato?
            Provavelmente a resposta para essas perguntas seja que no fundo não pensamos sobre nós mesmos verdadeiramente. Quase nunca somos objetos de auto-reflexão. Preferimos pensar sobre os outros e nunca sobre nós. É uma forma de se irresponsabilizar perante a própria vida. A avidez por fofocas revela que muitas pessoas são curiosas apenas quando se refere ao mundo dos outros e não demonstram o menor esforço para entender o próprio mundo interno.
            Secretamente queremos ser todos celebridades. É que ser uma celebridade traz a ilusão de ser amado amplamente e incondicionalmente e quem não quer ser amado? Todos queremos e com isso nos identificamos com figuras que ocupam esse lugar, mesmo que esse lugar seja pura ilusão e não a realidade de fato. Para abrir mão da ilusão é necessário crescer, ou seja, se responsabilizar pela própria vida, pensar sobre si. Enfim, tudo o que muita gente foge.
            Ao mesmo tempo que nos identificamos com algumas das celebridades que se colocam disponíveis para tal também temos, secretamente, um prazer quando uma delas derrapa e se torna vítima de intrigas. Esse prazer é como se fosse uma vitória sobre essas mesmas celebridades que nos despertaram inveja. Ficamos regalados ao saber que nem tudo é tão dourado assim em suas vidas e nos sentimos compensados.
            Se ao invés de olharmos tanto para fora e lá procurarmos sentidos, pudéssemos olhar mais para nós esses sites de intrigas não fariam tanto sucesso e nem precisaríamos criar celebridades. Nossos objetos de pensamento seriam nossas próprias vidas. Nos reiventaríamos mais e viveríamos mais. As palavras estariam mais a serviço de nosso desenvolvimento e não dos preconceitos e julgamentos. Nossos sentimentos mais nobres teriam lugar. O mundo teria muito a ganhar se passássemos da posição de observadores alheios para a de auto-observadores.

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