Depois de alguns meses dos protestos que movimentaram o
Brasil e das notícias e manchetes estampadas em tudo que era lugar fica-se a
pergunta: e o que mudou? Pouca coisa, quase nada ou praticamente nada. É claro
que grandes mudanças demoram mesmo para se estabelecer e não se faz da noite
para o dia. Entretanto, as manifestações mais eram carnaval do que realmente
uma mudança. Saímos às ruas, alguns para realmente protestar, outros apenas
para delinqüir, mas nenhuma mudança foi feita na mente. É a velha estória de
trocar seis por meia dúzia.
Todo o mundo espera por mudanças, querem que algo
aconteça, porém desejam a mudança externa, ou seja, querem que o mundo mude e
seja um lugar melhor. Quanto comodismo! Assim é fácil mesmo. São crianças
gritando, mimadas, esperando que o papai e mamãe façam as coisas acontecer e
caso isso não ocorra ficam muito revoltadas e saem para fazer birra e outras
para quebrar tudo o que enxergam na frente. Mudanças só acontecem com o
crescimento e enquanto as pessoas não resolverem de fato crescer nada mudará.
Eu não posso esperar que o mundo seja melhor sem ter
participação nisso. Participar não é sair para depredar, segurar placas
escritas nas ruas ou gritar palavras jogadas ao vento. Não é a revolta que traz
algum benefício e nem que conserta as coisas. A revolta é apenas um estágio que
deve ser levado adiante, mas muitos param na revolta e acham que basta
sustentá-la e tudo se resolve. Isso é ingenuidade infantil. A verdadeira
participação implica uma mudança interna, é a maneira que vivemos que deve
mudar, que precisa se transformar para algo melhor e sustentável.
É um fato que os humanos têm uma péssima tendência de
procurar fora o que lhes falta dentro. É compreensível, pois procurar do lado
de fora é sempre mais cômodo e confortável, apenas que isso não leva a lugar
algum. Já procurar dentro exige a mente e não os órgãos dos sentidos e mente é
algo que precisa ser construída e constantemente trabalhada. Pouco ligamos ou
damos importância a como lidamos conosco mesmo ou com nossos vizinhos, que
valores colocamos em primazia e que atitudes realmente admiramos. Gritamos em
se fazer justiça, mas admiramos personagens que são perversos e só sabem tirar
vantagem de tudo e todos. Falamos em valores, porém dificilmente os praticamos
em nossas vidas diárias. Enfim, as pessoas estão divididas entre crescer de
verdade ou querer apenas que os outros cresçam.
Devemos usar esse momento que ocorre como uma grande
oportunidade para mudar a forma que nos relacionamos, para descobrir mais sobre
nosso mundo interno e saber mais de nós mesmos e como podemos viver bem. Creio
que basta de tanta ignorância e mais do mesmo, é preciso mudar, mas a
verdadeira mudança que vem com o crescimento. Obviamente essa mudança é
trabalho de todos, daqueles que saem às ruas, daqueles que trabalham aqui e
ali, nisso e naquilo, daqueles que são jovens e velhos, daqueles que estão na
escola ou nas universidades. Ninguém está excluído. O poeta e sábio sufi Rumi
escreveu uma frase interessante: Ontem eu
era inteligente e queria mudar o mundo, mas hoje sou sábio e aprendi a mudar a
mim mesmo. Enquanto quisermos mudar
o mundo sem jamais ter que passar por uma reflexão conosco as coisas continuam
na mesma. Ao olhar para fora nos enganamos e nos iludimos facilmente. A
maturidade, que realmente faz a diferença, é suportar olhar para dentro e mudar
o que precisa ser mudado na forma que se vive. Crescer é difícil, mas é vital
para o mundo.
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