segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Hora de Crescer


            Depois de alguns meses dos protestos que movimentaram o Brasil e das notícias e manchetes estampadas em tudo que era lugar fica-se a pergunta: e o que mudou? Pouca coisa, quase nada ou praticamente nada. É claro que grandes mudanças demoram mesmo para se estabelecer e não se faz da noite para o dia. Entretanto, as manifestações mais eram carnaval do que realmente uma mudança. Saímos às ruas, alguns para realmente protestar, outros apenas para delinqüir, mas nenhuma mudança foi feita na mente. É a velha estória de trocar seis por meia dúzia.
            Todo o mundo espera por mudanças, querem que algo aconteça, porém desejam a mudança externa, ou seja, querem que o mundo mude e seja um lugar melhor. Quanto comodismo! Assim é fácil mesmo. São crianças gritando, mimadas, esperando que o papai e mamãe façam as coisas acontecer e caso isso não ocorra ficam muito revoltadas e saem para fazer birra e outras para quebrar tudo o que enxergam na frente. Mudanças só acontecem com o crescimento e enquanto as pessoas não resolverem de fato crescer nada mudará.        
            Eu não posso esperar que o mundo seja melhor sem ter participação nisso. Participar não é sair para depredar, segurar placas escritas nas ruas ou gritar palavras jogadas ao vento. Não é a revolta que traz algum benefício e nem que conserta as coisas. A revolta é apenas um estágio que deve ser levado adiante, mas muitos param na revolta e acham que basta sustentá-la e tudo se resolve. Isso é ingenuidade infantil. A verdadeira participação implica uma mudança interna, é a maneira que vivemos que deve mudar, que precisa se transformar para algo melhor e sustentável.
            É um fato que os humanos têm uma péssima tendência de procurar fora o que lhes falta dentro. É compreensível, pois procurar do lado de fora é sempre mais cômodo e confortável, apenas que isso não leva a lugar algum. Já procurar dentro exige a mente e não os órgãos dos sentidos e mente é algo que precisa ser construída e constantemente trabalhada. Pouco ligamos ou damos importância a como lidamos conosco mesmo ou com nossos vizinhos, que valores colocamos em primazia e que atitudes realmente admiramos. Gritamos em se fazer justiça, mas admiramos personagens que são perversos e só sabem tirar vantagem de tudo e todos. Falamos em valores, porém dificilmente os praticamos em nossas vidas diárias. Enfim, as pessoas estão divididas entre crescer de verdade ou querer apenas que os outros cresçam.
            Devemos usar esse momento que ocorre como uma grande oportunidade para mudar a forma que nos relacionamos, para descobrir mais sobre nosso mundo interno e saber mais de nós mesmos e como podemos viver bem. Creio que basta de tanta ignorância e mais do mesmo, é preciso mudar, mas a verdadeira mudança que vem com o crescimento. Obviamente essa mudança é trabalho de todos, daqueles que saem às ruas, daqueles que trabalham aqui e ali, nisso e naquilo, daqueles que são jovens e velhos, daqueles que estão na escola ou nas universidades. Ninguém está excluído. O poeta e sábio sufi Rumi escreveu uma frase interessante: Ontem eu era inteligente e queria mudar o mundo, mas hoje sou sábio e aprendi a mudar a mim mesmo.  Enquanto quisermos mudar o mundo sem jamais ter que passar por uma reflexão conosco as coisas continuam na mesma. Ao olhar para fora nos enganamos e nos iludimos facilmente. A maturidade, que realmente faz a diferença, é suportar olhar para dentro e mudar o que precisa ser mudado na forma que se vive. Crescer é difícil, mas é vital para o mundo. 

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