sexta-feira, 26 de julho de 2013

Pergunta de Leitora - Depoimento


Tenho 74 anos e fui casada por 50 anos. Tive, no relacionamento com meu marido, muitos momentos ruins e de dor, mas de forma geral os momentos positivos e de grande amor sempre prevaleceram. Não tenho do que me queixar. Ele foi e é, apesar de já se encontrar falecido, o homem da minha vida. Quando acordo sempre converso com ele, mesmo sabendo que isso só se dá em meu íntimo e não na realidade, e conversar com ele me apazigua a alma. Sinto muita falta e saudades dele. É duro eu ter sobrevivido e não ter ido com ele. Com isso não digo que queria estar morta. Gosto da vida e sei que posso aproveitá-la bem. Te escrevo não com uma pergunta, mas como um depoimento para, quem sabe, as pessoas saberem que existe amor, como foi o meu caso. Vejo muitas pessoas perdidas e que não desenvolvem o amor. Desistem muito facilmente e deixam de viver coisas especiais. Não sou exemplo todavia, apenas mais um ser humano perdido neste mundo que procura sempre encontrar um bom caminho. Gosto do que você escreve e aprendo muito lendo seu blog. Felicidades!


            Seu email muito me comoveu pela sua honestidade em falar da sua vida e pela sua humanidade. É bom ouvir depoimentos dessa qualidade que mostram que mesmo com as adversidades e problemas que a vida sempre nos traz, ainda assim, há chances de encontrarmos felicidade e prazer por viver.
            Você é feliz pois fez boas escolhas no seu percurso pela vida. No budismo, que vejo muito mais como uma reflexão sobre a vida do que propriamente uma religião, se diz que uma das três virtudes para se estar bem é ser sábio e ser sábio significa fazer boas escolhas. Parece-me que você as fez e aquelas que não foram tão boas ao menos te ensinaram algo e no fim te enriqueceram.
            É sábia, também, porque sabe que seu marido não está morto apesar de já estar falecido. A morte não precisa significar necessariamente a separação. Ele continua a existir em você e em sua memória. Vivemos entre duas realidades: a externa e a interna. Na externa ele já não mais participa, mas da sua realidade interna ele continua sendo seu homem e isso ninguém pode lhe tirar.
           Viver não é mesmo algo fácil e exige muito de cada um. No entanto impossível não é. Você está certa quando se refere em seu email em se desenvolver o amor. Ninguém nasce sabendo amar, mas é algo que se aprende se nos permitirmos a tanto. Parabéns por ter se aberto àquilo que a vida pode oferecer de bom.

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