O culto ao corpo é algo que se tornou uma ditadura.
Podemos entender uma ditadura como uma forma de governo onde não há liberdade
para se reconhecer as diferenças e o direito a elas, só há um único jeito, uma
única maneira e caso essa não seja seguida rigidamente corre-se o risco de se
tornar um fora da lei. Hoje, quem não tiver o corpo tido como ideal se sente
culpado e excluído.
Não prego ao dizer isso que não devemos ligar e cuidar
bem dos nossos corpos. Afinal, eles são considerados o templo da alma, porém o problema aparece quando não se liga mais
para a saúde do corpo, mas em idealizar o corpo. A idéia de um corpo ideal é
uma grande inimiga porque engana, já que o que é ideal não existe. Desejamos um
corpo irreal para a grande maioria das pessoas e quando esse não é atingido
adoecemos.
Há uma variedade de tipos de pessoas, portanto, há uma
variedade de tipos de corpos. Há pessoas que por mais dietas que fazem jamais
conseguirão alcançar aquele padrão que desejam justamente porque sua constituição
física não permite. É inútil querer mudar a estrutura do corpo de forma radical.
É como querer que uma macieira dê figos em vez de maçãs. Só se pode exigir do
corpo o que é possível, senão vira caso de agressão contra a própria natureza.
Homens sarados, mulheres sílfides são considerados como
modelos necessários para se sentir bem e feliz. Como se a todos isso pudesse
ser possível. Quem não se encontra inserido nesses modelos passa a se sentir
mal, como se cometesse pecados e seu corpo fosse o símbolo de seus fracassos.
Quem pode ser feliz ao ficar preso nessa ditadura quando o que importa é o
ideal e não o possível?
Quem quer melhorar seu corpo e cuidar dele vá em frente,
mas sempre respeitando sua natureza e não ir em busca de um corpo mítico que
jamais se realizará. Quem deseja o impossível está destinado a ser infeliz,
porque se engana e nega a realidade. Como já dizia um provérbio antigo Mente sã, corpo são percebemos que se a
mente não se liberta de uma ditadura, não se há a menor chance de se estar bem.
Viver numa ditadura é acatar a prisão e se opor as diferenças abraçando a
angústia e a infelicidade.
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