segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

A Verdadeira Estrela Vive Em Nós



            Segundo a tradição cristã a estrela de Belém surgiu nos céus para anunciar ao mundo o nascimento de Jesus. Os Reis Magos a tomaram como guia para indicar-lhes o caminho para chegar até ao recém-nascido e sem a estrela eles não teriam conseguido encontrá-lo. Nos tempos após Cristo a religião nova que se formava não se chamava Cristã, recebendo esse nome séculos mais tarde, mas chamava-se O Caminho. Um nome, aliás, muito mais interessante, pois muito mais significativo. Chamava-se assim já que propunha uma outra interpretação dos preceitos religiosos judaicos da época que estavam “contaminados” pela corrupção e mau uso. Então, segundo a tradição, a estrela indicou o caminho até aquele que iria mostrar “o caminho”.
            Pensando sobre essa tradição podemos aprender coisas importantes para refletirmos em nossas vidas. Que se queremos chegar a algum lugar é preciso trilhar o caminho, mas aqui o caminho não se trata de seguir essa ou aquela norma religiosa, mas de construir um caminho pessoal para se viver de fato. Quem não está de bem com a vida é porque se encontra “perdido”, está fazendo mau uso de si mesmo e se encontra “corrompido”, ou seja, não sabe mais como chegar ao seu mundo interno para poder fazer bom uso dele. Sem um mundo interno a vida perde a graça e não tem sentido. Precisa-se, então, encontrar ou reencontrar esse caminho que leve alguém a andar na trilha que permita viver de um jeito mais favorável.
            Para se achar o caminho uma estrela guia se faz necessária e essa estrela pode ser encontrada dentro de nós mesmos. É aquele lado saudável que existe dentro de nós e que nos dá esperanças de melhorarmos tudo aquilo que não nos está bom. É aquela “luz” interna que nos faz sentir vivos e batalharmos por uma vida mais digna. Na tradição, os Reis Magos eram os únicos que conseguiram seguir o caminho indicado pela estrela. Eles eram considerados grandes sábios do mundo oriental, porém podemos entendê-los como sábios porque foram capazes de enxergar a própria estrela interna que jamais os deixavam perdidos.
Aqueles que têm acesso ao seu próprio mundo interno jamais se encontrarão perdidos, pois se conhecem e sabem dos seus caminhos. O autoconhecimento é uma das maiores riquezas na vida. Pena que seja tão pouco valorizado e muitas vezes até desprezado. Esse menosprezo acontece porque o autoconhecimento não vem fácil e nem é comprado no mercado, mas exige uma vida de prática para que ele venha a ser conquistado e faça parte da forma que funcionamos. O autoconhecimento demanda que trilhamos o nosso caminho.
O fim de ano se aproxima e esse momento é sempre usado como um período de reflexão, de um balanço do ano que se vai e das expectativas para o ano que se aproxima. É um bom momento para que cada um encontre a sua estrela interna que lhe mostre seu caminho. Uma boa oportunidade para cada um ousar achar seu caminho e não mais ficar perdido. Tomar consciência da maneira como vem vivendo e transformar aquilo que não traz nenhum crescimento para algo que seja enriquecedor. Essa estrela é simbólica e existe em cada um de nós. Que possamos abrir os olhos para ver o que realmente vale a pena e abandonar aqueles caminhos que não levam a lugar algum. Que todos se iluminem internamente e descubram em si próprios que têm uma vida que precisa ser vivida.




Agradeço a todos os leitores deste blog que o enriqueceram com seus comentários, dúvidas e sugestões. Desejo um bom fim de ano e um 2013 repleto de boas novas. Desejo, acima de tudo, que cada um encontre e deixe brilhar a sua estrela interna e que ela aponte sempre o melhor caminho para cada um seguir sua vida. 
Entro de férias e retomo os meus escritos aqui no blog Mundo Vivo a partir de 11 de janeiro de 2013. 
Boas Festas!
Sylvio do Amaral Schreiner

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Pergunta de Leitora - Na Corda Bamba



Sou uma mulher de meus 35 anos e posso dizer com toda a certeza de que jamais me apaixonei na vida. Nunca! Há gente que acha isso estranho, mas apara mim é assim que tem que ser. Acho que a paixão é algo doente e que leva as pessoas a fazer besteira. Não quero perder a cabeça. Sigo sempre a lógica e a racionalidade e gosto de entender tudo muito bem antes de me comprometer com o que quer que seja. Estou sempre perguntando se tal coisa ou relacionamento vai me trazer benefício. Caso a resposta seja uma negativa eu não perco mais tempo e esqueço o assunto. Quanto mais racionais formos menos iremos nos surpreender. Não encontrei um parceiro que pense como eu e que aceite viver desta maneira. Mas não me importo, porque se não for deste jeito prefiro não me envolver. Só que com isso algumas pessoas teimam em dizer que eu sou fria. Isso me magoa pois eu não sou fria. Apenas sei me defender. Como convenço as pessoas de que sou feliz desse jeito?

            Você é feliz desse jeito? Se fosse realmente não estaria tão preocupada em convencer os outros. Parece-me que querer convencer as pessoas da certeza da felicidade desse seu jeito tem mais a ver com você convencer a si própria.
            Apesar de tanta racionalidade e lógica da sua parte você cometeu um erro de digitação que acredito ser na verdade um ato falho. Você diz que jamais se apaixonou e depois diz que apara mim é assim que tem que ser, em vez de dizer “que para mim...”. os atos falhos não seguem a lógica normal do consciente, porém seguem a lógica que se encontra no inconsciente onde o mundo pode estar de cabeça para baixo e emoções contraditórias podem existir conjuntamente. Aparar, nesse caso, pode ter o mesmo sentido que podar. Será que é isso que quis dizer? Que se sente podada?
            Apaixonar-se é um ato difícil e que exige bastante coragem. A paixão que falo aqui é aquela boa, que permite o encanto com a vida e com as pessoas e torna tudo mais saboroso e prazeroso, uma aventura. Não me refiro àquela paixão doentia que aliena o individuo da realidade e o enlouquece. Agora, se apaixonar é difícil porque pode ser bem doloroso. Quando nos apaixonamos e nos entregamos a uma boa emoção queremos mantê-la sempre por perto e guardada. Só que tudo que obtemos também podemos perder. Creio que seja esse o seu caso. Tem medo de se apaixonar, se abrir para as experiências da vida e depois, caso algo ruim aconteça, ter que lidar com o sentimento de perda.
            Acredito que seja isso, pois no final do seu email você diz que ao se fechar às paixões você está se defendendo. Sentir para você é algo meio assustador e você se defende disso ao preço da própria vida. Isso não quer dizer que precisa pular de cabeça em tudo, mas que pode aprender a usar a sua mente para encontrar um equilíbrio entre razão e emoção. Se um lado receber mais peso o desequilíbrio se faz presente e nos leva a cair. O equilíbrio entre razão e emoção é o que nos mantêm em cima da corda bamba que é a vida.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

As Dore de Cada Um


“Mesmo o leão tem que se defender contra as pulgas.” (Provérbio alemão)

            As pessoas têm uma tendência a achar que seus próprios problemas são sempre piores do que os dos outros. Ao olhar para a vida de algumas pessoas que conhecemos ou que ouvimos falar pensamos quão mais simples são e quão mais leves são seus problemas. Mas ao agir assim nos enganamos.
            Até pode ser que um outro tenha uma vida melhor, mas certamente é porque sabe lidar de forma mais adequada e madura com seus problemas. É impossível alguém existir sem que não haja necessidade de resolver e melhorar as coisas. Acreditar que uma pessoa qualquer não tenha problemas é se apegar à uma falsidade. Todos têm problemas e todos precisam lidar com suas angústias e dores.
            Em vez de nos apegarmos a uma mentira de que é possível uma vida sem trabalho, é muito melhor enfrentarmos aquilo que precisamos encarar. Não dá para fugir da própria vida e quem quiser isso corre o risco de não viver. Para se viver é preciso enfrentar angústias, pois é somente ao enfrentá-las que temos a chance de aprender e crescer, de nos tornarmos melhores. O problema do seu vizinho pode até parecer para você insignificante e fácil de se resolver, mas pode ter certeza de que para o seu vizinho não é. E vice versa. Seu vizinho também ao olhar para as suas angústias deve achar que não significam nada, porém você sabe muito bem que as coisas não são assim.
            É fato que estamos todos aqui nessa vida para aprender e que ninguém sabe tudo, o que torna então o ato de encaramos nossas questões, algo natural. O que não é natural é achar que se pode viver sem ter trabalho. Isso tem mais a ver com nossa imaturidade de  querer negar a realidade. As pulgas do ditado acima estão presentes em todos nós e cabe a cada um de nós nos livrarmos dela da melhor forma.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Pergunta de Leitora - Protagonizar a Própria Vida



Me sinto mal com a vida que estou levando. Engordei muito, muito nesses últimos anos e não venho fazendo nada para mudar. é que não tenho força para mudar. Até tento, mas quando penso em fazer algo me dá um desânimo. Eu comecei a dançar, mas parei. Acabo comendo salgadinhos no almoço e janta. Faz tempo que não como uma fruta por preguiça. Salgadinho parece ser mais fácil e sacia mais. Não faço exercícios e nem me arrumo mais. Não sei o que me acontece. Estou com quase 30 anos e nunca namorei. Me sinto feia e fora do mundo. A internet é a única coisa que me interessa e fico olhando as mulheres bonitas e fico com inveja. Minha família não se interessa por mim e nem as pessoas do meu trabalho. As vezes dá vontade de dormir e não mais acordar. Acho que se isso acontecesse ia ser bem mais fácil. Não consigo entender como as pessoas conseguem ter força pra viver bem. Me sinto um lixo. Queria ter uma vida diferente mas como conseguir isso?


            Por que tanto auto-ódio? Por que se ataca com tanta violência e se desvaloriza? O que mais vi em seu email foi um exercício onde você demonstra uma grande raiva que sente de você mesma. Entender a fonte de tantos autos-ataques lhe é fundamental para mudar de vida.
            Você vive cada novo dia como um grande tormento. É difícil encontrar gosto pela vida desse jeito. Com isso você passa a ficar relaxada em cuidar de si própria, a vida perde o sabor e haja salgadinhos para tentar compensar! O problema é que nenhum salgadinho vai te saciar de fato, pois o que pode realmente te saciar é dar um sentido na sua vida e sentido é algo que se constrói, se você se permitir.
            Em vez de perder tempo se lamentando e sentindo pena de si própria poderia procurar se entender melhor. Ao se entender poderá dar um sentindo para a sua vida onde antes não havia nenhum. Você fica na internet olhando outras mulheres e se ressente com sua condição. É preciso aprender a mudar de posição, de espectadora para protagonista de sua vida. Se você não viver a vida que tem, ninguém mais irá vivê-la por você.
            O fato de sua família e colegas não se interessarem por você não significa que você deva fazer o mesmo. Com um analista que saiba te escutar você poderá prestar mais atenção em si mesma e começar a desenvolver um interesse maior naquilo que você pode viver em vez de se colocar de lado perante a vida. Ao gostar mais de você própria poderá se desapegar do auto-ódio que hoje te domina. Mas para isso é preciso deixar a preguiça e o comodismo de lado e se propor uma mudança e isso só você poderá fazer, ninguém mais. 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Crianças e armas de brinquedo



           Recebi três emails de mães preocupadas que seus filhos brincam com armas de brinquedo e queriam saber se essa brincadeira poderia fazer mal ou levar à violência. Aliás, essa é uma dúvida de muitas pessoas, como se só o fato de se brincar com armas de brinquedo pudesse ter o poder de transformar uma criança em um delinquente.
As armas sempre fizeram parte das brincadeiras infantis. Até mesmo em desenhos de televisão clássicos como Pica-Pau e Tom e Jerry há armas tais como facões, revólveres e espingardas. E mesmo assim diríamos que esses desenhos estimulam a violência? Certamente que não. No decorrer do desenvolvimento da criança ela aprende, com a devida orientação, que há uma diferença entre realidade e fantasia e que em fantasia podemos fazer determinadas coisas, mas que no mundo real essas mesmas coisas são proibidas e acarretam sérias conseqüências.
É também sabido que as crianças têm agressividade e que nessas brincadeiras a agressividade é expressa de forma lúdica e proveitosa. O fato de se brincar com armas de brinquedo não estimula a violência de forma alguma, aliás, mesmo sem os brinquedos em questão, as crianças, principalmente os meninos, fingem que suas mãos ou qualquer outro objeto são armas.
Não há porque reprimir essas brincadeiras em crianças. Elas só precisam de educação. Alguém diria que a prática do boxe estimula a violência? Se diz, deveria abandonar o preconceito e se informar mais. Há até pesquisas que indicam que bairros outrora extremantes violentos, depois que foi aberto uma escola de boxe tiveram o nível de violência reduzido. É porque na aula eles aprenderam que nem tudo se pode e a escola e instrutores envolvidos serviram como continentes para ajudar os jovens a controlar e a conter a própria agressividade. Lutar boxe, no lugar certo e com pessoas certas, é uma brincadeira e é através das brincadeiras que aprendemos a ser humanos. Com isso podemos ver que a brincadeira não estimula a violência, pelo contrário, pode até ajudar a controlá-la.