segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Não um, mas vários caminhos



            A resposta à leitora do dia 24 de agosto despertou vários tipos de reações entre os leitores deste blog. A consulente é casada e possui um amante, vive os dois relacionamentos, um de forma aberta e pública e outro de forma clandestina. Segundo as palavras da própria ela ama os dois e não consegue se ver tendo que fazer uma escolha entre eles, pois a perda de um deles seria para ela dolorido. Quando contou sua historia a consulente deixou claro sua posição e de que não se sente errada. Com base nesse discurso talvez o único caminho para ela fosse mesmo continuar vivendo esses dois relacionamentos, só que sem culpa, já que esta sim estraga a vida. Essa história, que aliás acontece com muitas pessoas, mas que jamais admitiriam, causou muita indignação entre vários leitores que não aceitam essa situação. Segundo a grande maioria ela deveria fazer uma escolha entre um dos dois e não ficar com os dois, ainda mais que um dos relacionamentos é clandestino.
            Acontece que não existe um único caminho possível e certo. Os caminhos são muitos e dependem de tantas variáveis que fica impossível dizer o que é certo ou errado em muitos casos. No filme brasileiro Eu, tu, eles (2000) dirigido por Andrucha Waddington e baseado em fatos reais conta-se a história de uma mulher nordestina que grávida e solteira apaixona-se por um homem e ele por ela. Depois de um tempo ela cai de amores por um segundo e vive os dois relacionamentos e mais depois ainda ela arranja um terceiro homem. O nordeste brasileiro é conhecido por ser uma região onde o machismo é muito presente e ela fica com três “maridos” e não um, subvertendo a lógica onde era o homem que podia ter várias mulheres. Era o caminho possível para ela e para os maridos. Apesar dos maridos estranharem esse tipo de arranjo, acabaram por aceitar, pois era o caminho possível.
            Uma grande diferença entre esta mulher do filme e a consulente é que uma fazia tudo de forma pública e aberta e a consulente de forma secreta e clandestina. Porém, ninguém pode culpá-la por fazer isso secretamente. Sendo a vida dela é ela quem decide a melhor maneira de viver. Apesar de fazer isso secretamente não sei se o marido de fato não sabe. Talvez até saiba, mas prefira fechar os olhos, talvez não saiba e não queira nem saber. Caso saiba e não aceite tem todo o direito de ir embora e não mais olhar na cara dela, mas qualquer que seja o caso depende deles e não do que seria um suposto caminho certo ou errado. Não existe uma cartilha universal do bom comportamento. Insistir nisso é perigoso, pois coloca como única via, as vezes, um caminho que a pessoa não pode trilhar.
            Não é fácil aceitar a diferença, principalmente quando o que é diferente nos parece tão errado. Ficamos chocados e tememos o diferente. O temor desperta facilmente o preconceito que coloca tudo em tom de preto e branco e esquece de outras nuances. O preconceito nega a diferença porque não admite a sua existência, não admite o que lhe é estranho, só que com isso limita a experiência humana. O caminho que serve para um, não necessariamente serve para outros.

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