A resposta à leitora do dia 24 de agosto despertou vários
tipos de reações entre os leitores deste blog. A consulente é casada e possui
um amante, vive os dois relacionamentos, um de forma aberta e pública e outro
de forma clandestina. Segundo as palavras da própria ela ama os dois e não
consegue se ver tendo que fazer uma escolha entre eles, pois a perda de um
deles seria para ela dolorido. Quando contou sua historia a consulente deixou
claro sua posição e de que não se sente errada. Com base nesse discurso talvez
o único caminho para ela fosse mesmo continuar vivendo esses dois
relacionamentos, só que sem culpa, já que esta sim estraga a vida. Essa história,
que aliás acontece com muitas pessoas, mas que jamais admitiriam, causou muita indignação
entre vários leitores que não aceitam essa situação. Segundo a grande maioria
ela deveria fazer uma escolha entre um dos dois e não ficar com os dois, ainda
mais que um dos relacionamentos é clandestino.
Acontece que não existe um único caminho possível e
certo. Os caminhos são muitos e dependem de tantas variáveis que fica impossível
dizer o que é certo ou errado em muitos casos. No filme brasileiro Eu, tu, eles (2000) dirigido por
Andrucha Waddington e baseado em fatos reais conta-se a história de uma mulher
nordestina que grávida e solteira apaixona-se por um homem e ele por ela. Depois
de um tempo ela cai de amores por um segundo e vive os dois relacionamentos e
mais depois ainda ela arranja um terceiro homem. O nordeste brasileiro é
conhecido por ser uma região onde o machismo
é muito presente e ela fica com três “maridos” e não um, subvertendo a lógica onde
era o homem que podia ter várias mulheres. Era o caminho possível para ela e
para os maridos. Apesar dos maridos estranharem esse tipo de arranjo, acabaram
por aceitar, pois era o caminho possível.
Uma grande diferença entre esta mulher do filme e a consulente
é que uma fazia tudo de forma pública e aberta e a consulente de forma secreta
e clandestina. Porém, ninguém pode culpá-la por fazer isso secretamente. Sendo a
vida dela é ela quem decide a melhor maneira de viver. Apesar de fazer isso
secretamente não sei se o marido de fato não sabe. Talvez até saiba, mas
prefira fechar os olhos, talvez não saiba e não queira nem saber. Caso saiba e
não aceite tem todo o direito de ir embora e não mais olhar na cara dela, mas
qualquer que seja o caso depende deles e não do que seria um suposto caminho
certo ou errado. Não existe uma cartilha universal do bom comportamento. Insistir
nisso é perigoso, pois coloca como única via, as vezes, um caminho que a pessoa
não pode trilhar.
Não é fácil aceitar a diferença, principalmente quando o
que é diferente nos parece tão errado. Ficamos chocados e tememos o
diferente. O temor desperta facilmente o preconceito que coloca tudo em tom de
preto e branco e esquece de outras nuances. O preconceito nega a diferença
porque não admite a sua existência, não admite o que lhe é estranho, só que com
isso limita a experiência humana. O caminho que serve para um, não necessariamente serve para outros.
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