sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Pergunta de Leitora - Com muita paciência



Bem, eu tenho 16 anos, e muitos problemas... Mas só queria te pedir opinião para os 3 piores...
1. Na minha idade é praticamente impossível ser independente... O problema é que em minha família eu sou como alguém que não devia existir. Não conheço meu pai, ele era casado e minha mãe não quis falar com ele quando engravidou. Tenho um meio irmão que é filho do meu padrasto. O problema mesmo é meu padrasto. Ele não deixa minha mãe me tratar como filha, e quando deixa, é reclamando. É um fato que ele trate o filho dele, melhor que eu. Eu não me importo com isso. Ou não me importaria, se ele não fizesse da minha vida um inferno. Além de querer que eu faça tudo em casa ele não me deixa sair, não me deixa escolher minhas roupas, não me deixa em paz com meu namorado, e exige meu silêncio quando ele está falando mal de mim. Não tenho amigos e nem faço questão deles, porque trazê-los aqui é loucura e sair com eles é impossível, então eu acabo sendo apenas mais um alvo a "zoação" de todo mundo.
2. Minha mãe é quase uma fanática evangélica. Eu sou evangélica, mas encontro certa dificuldade pra falar com ela. Minha família toda é cristã. Então acabo sem ter quem me ouvir. E isso tão ruim para mim que acabei "criando pessoas". Sei que não é normal pra uma garota de 16 anos ter "amigos imaginários", mas foi a forma que achei de aliviar um pouco as vezes... Fingir que alguém está lá para me ouvir... Mas isso está piorando e agora eles estão aparecendo mesmo sem que eu "mande" que apareçam. Estou me sentindo uma louca, mesmo que eu ainda me controle, não quero que isso piore. Não quero ser tirada como uma esquizofrênica ou endemoniada.
3. Descobri que sofro de algo chamado Mitomania, ou algo do gênero. Que seria a "mania de mentir". Minha vida é uma mentira. Isso me deprime, mas eu simplesmente não sei como parar.... Poucas pessoas que sabem disso dizem que eu seria uma ótima atriz até. Eu crio, minto, até para mim mesma. Mas não queria continuar nisso...
Se puder me ajudar com esses 3 pequenos problemas, eu ficaria muito grata
.

            O que percebi nesse seu longo email foi um tom de desabafo e de um pedido de esperança. Desconhece quem seja seu pai, ou seja, não sabe de toda a sua história de vida, tem uma mãe que se omite em lhe proteger e um padrasto que te destrata. Você se sente abandonada e solitária e começa a duvidar de si mesma e da sua capacidade. Ao mesmo tempo, com tudo isso, você também carrega uma esperança em reverter toda essa situação a seu favor. Caso não fosse assim não me escreveria tão detalhadamente e pedindo ajuda. É esse lado seu, o que tem esperança, que é necessário ser preservado e cultivado.
            Não há muito que você possa fazer no âmbito da sua família. Eles funcionam desta maneira e dificilmente irão mudar. O importante, contudo, é você não permitir que toda essa carência de afetos e sentido que existe na sua família te contamine. Quero dizer com isso que apesar de você viver num ambiente que não te ajude no seu desenvolvimento você não passe a duvidar de si própria. Vai precisar aprender a cuidar de si com amor e paciência.
            Você tem 16 anos e tem toda a vida pela frente. Não está condenada a ficar nessa posição em que se encontra agora para todo o sempre. Mas para isso é necessário que faça uso da paciência. Ser paciente não significa ficar numa posição passiva, mas usar do tempo para se construir de outra forma. Você é boa em criar, então pode se recriar. Sei que gostaria que tudo se resolvesse agora, mas não é possível e só podemos trabalhar dentro da realidade que nos encontramos.
            Você é uma jovem sensível e inteligente e vai lhe ser bastante proveitoso usar dessas características para contribuir para o seu desenvolvimento. Posso também acrescentar que é preciso diferenciar as boas fantasias das más. Use do seu rico mundo de fantasias para alcançar caminhos que te levem para fora do mundo em que se encontra. Porém, tome cuidado com as fantasias que te alienam da realidade. Sartre, filósofo francês, tem uma frase que pode te servir: não importa tanto o que os outros nos fizeram, o que importa é o que nós faremos com o que os outros nos fizeram. Reflita sobre isso e caminhe para criar dias melhores. 

Um comentário:

  1. Sylvio, quero deixar aqui o meu encantamento com a maturidade e a consciência desta moça. Com o potencial e a lucidez que tem dá pra perceber que poderá ter um futuro bom e belo. Quem sabe consegue que a família aceite que ela frequente algum curso de teatro, escrita ou outro onde possa canalizar sua imaginação de forma positiva?
    Fica aqui minha admiração por ela.

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