segunda-feira, 21 de maio de 2012

A inveja vista por um psicoterapeuta



            A inveja é considerada pela igreja um dos sete pecados capitais e a psicanálise a entende como fonte de muitos sofrimentos mentais. Ninguém está imune de sentir inveja, o que a torna então algo natural, mas como tudo na vida qualquer sentimento requer equilíbrio para que não venha a trazer problemas.
            Como dito acima a inveja faz parte da vida e não há como negar sua existência. Alguém dizer que nunca sentiu inveja e que está acima disso está mentindo ou no mínimo se enganando. É que não gostamos de reconhecer que possuímos sentimentos desse tipo. Então não se assuste por perceber que tem inveja, até muitos santos admitiram a terem sentido.
            O problema é quando a inveja começa a corroer nossas vidas e estragar nossas potencialidades. É quando achamos que o outro tem tudo e nós nada, que o outro tudo pode e nós não podemos nada, que o outro tudo ganha e recebe e nós só ficamos com as migalhas. Ficar nesse estado é desesperador para não dizer até enlouquecedor. A pessoa dominada pela inveja não acredita nela mesma e se acha a pior das criaturas quando pensa que os outros são bem melhores do que ela. O invejoso está sempre se comparando e essa atitude só termina por fazê-lo se sentir pior.
            Para se defender disso tudo o invejoso passa a atacar o objeto de sua inveja, assim se sente superior e acha que se protege de uma comparação que só o desfavorece. Talvez um exemplo possa ajudar a entender. Imaginemos que alguém compre um carro e está muito feliz com sua aquisição e mostre para uma pessoa. Essa hipotética pessoa pode até sentir inveja, querer também ter um carro novo e bonito, mas mesmo assim ela pode se alegrar pelo sucesso do outro, ela consegue ficar feliz pelo outro e acredita no seu próprio potencial de que irá conseguir ter o seu carro assim que for possível. Essa é uma pessoa saudável e que sabe lidar com seu sentimento de inveja. Imaginemos agora uma outra pessoa que não seja tão saudável assim. Ela verá o carro novo e se sentirá mal, porque em sua comparação o outro tem e ela não e isso não é gostoso de sentir. Assim, para se proteger dessa sensação de falta, ela critica e acha um defeito Você comprou um carro verde? Mas branco é a melhor cor. Um carro dessa marca eu ouvi que traz muitos problemas, tal marca é bem melhor. Enfim, ela ataca o outro como forma de se defender. No entanto, o sentimento de menos valia continua a persistir e faz com que ela se sinta desprovida de coisas boas e passe a desacreditar de si mesma.
            Não é só sobre um objeto físico e concreto que podemos sentir inveja, mas de sentimentos também. Sentimos inveja de um outro que é amado e reconhecido. Podemos até sentir inveja de alguém que é capaz de nos amar quando nós mesmos não conseguimos. A inveja é destrutiva porque quem a sente não acredita no seu potencial, mas se denigre e destrói tudo que de bom possui. Vê o mundo como um lugar hostil que só serve para lembrar das coisas que não se tem e esquecer das coisas boas que tem. Para se vencer a inveja é necessário um trabalho interno que permita a pessoa crer mais em si e em desenvolver coisas boas internas. Se enriquecendo internamente ela poderá olhar para si própria de uma maneira bem mais amorosa e que a faça acreditar na sua capacidade de conseguir e viver coisas boas. Ser generoso consigo é a melhor maneira de não ficar vulnerável à inveja.

Um comentário:

  1. Depois de um final de semana atribulado, conflitante, onde a inveja era o origem de tudo, nesta segunda resolvi pesquisar sobre a inveja. Encontrei este texto, publicado em seu blog. Achei ótimo e vou publicá-lo no meu, cintando a fonte, é claro. Parabéns pelo texto.

    Ariel Argobe (Guajará-Mirim, Rondônia)

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