Tive
uma filha linda que morreu muito jovem. Ela foi fazer uma viagem de carro e
houve um acidente que a matou. Antes de ela fazer essa viagem eu me preocupava
muito com algum acidente. Parecia que eu estava prevendo e realmente aconteceu.
Hoje me culpo muito pela morte dela. Eu devia ter impedido ela de viajar tanto
por causa do trabalho. Mas ela era cheia de vida e ia achar que era preocupação
boba de pai. Sempre me dei muito bem com ela e ela era a luz da minha vida.
Hoje eu não faço mais nada de bom. Bebo todos os dias e nunca fui de beber.
Brigo com as pessoas e não deixo que ninguém se aproxime de mim para me ajudar.
Recuso qualquer tipo de ajuda e sofro até hoje com a morte dela. Como reconstruir
a vida depois da morte de uma filha?
Seguindo
a ordem natural do curso da vida espera-se que os pais morram antes que os
filhos e quando essa ordem é invertida traz uma dor muito grande e as vezes
insuportável. É isso o que te acontece ao se dar conta de que sua filha tão
querida e cheia de vida não está mais viva enquanto você ainda vive.
Ouvi,
uma vez, de um velho padre jesuíta muito sábio uma frase tão óbvia, mas tão
reveladora também: Para morrer, basta
estar vivo. Não há como impedir a morte, ela está muito além do nosso controle.
Todos gostaríamos de ser onipotentes para impedir as coisas tristes de
acontecer, porém a onipotência é um engodo. Nossa onipotência só existe na
ilusão e não na realidade.
O
que você poderia ter feito? A impedido de viajar? De trabalhar? Caso fizesse
isso prenderia sua filha e não a deixaria livre. Caso se fizesse onipotente e
tentasse controlar sua filha certamente acabaria por estragar a relação de
vocês. Com toda a certeza isso não seria bom.
Para
conseguir reconstruir sua vida é necessário que se livre da culpa que carrega
que vem da ilusão da onipotência de que você poderia ter impedido essa tragédia
de acontecer. Ninguém tem tanto poder assim e esse acidente não é culpa sua, é
uma acaso triste da vida. Aprenda a aceitar que nem tudo podemos, assim você
não precisará mais se castigar. Sua filha pode ter morrido, mas a lembrança
dela e de toda a sua vitalidade está em você. Não desonre a memória da sua
filha se castigando por algo que não é sua culpa. Não perca mais tempo e se
deixe ajudar.
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