sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Pergunta de Leitora - Criança indesejada


Oi Sylvio! Assisti sua entrevista na TV quando vc falou da depressão pós-parto. Me identifiquei muito com o tema porque eu estou grávida de 8 meses e tenho apenas 17 anos! Tenho medo de ter depressão pós-parto e ser como aquela mulher que ligou na sua entrevista e disse que tinha vontade de matar o filho. Eu engravidei sem querer, foi uma bobagem. Transava com meu namorado mas nunca usamos camisinha. Então achei que não ficaria grávida uma hora, mas aconteceu. Meus pais ficaram muito decepcionados comigo. Meu namorado não quer nem saber de mim e da criança. Estou sozinha. Todo mundo me olha como se eu tivesse cometido um crime. Agora sei que minha vida acabou e que não vou poder ir pras baladas e me divertir. As vezes queria que a criança nascesse morta para eu poder continuar vivendo minha vida como sempre. Quero ser uma jovem normal e agora não vejo possibilidades de viajar, gastar dinheiro comigo e comprar as cosas que quero. Tenho ódio dessa criança e me sinto má. Vc acha que eu posso mudar o que sinto em relação a essa criança?

            Praticamente todo mundo sabe como fazer para evitar gravidez. Camisinhas e pílulas são alguns dos métodos ao alcance para que uma indesejada gravidez não aconteça. Praticar sexo bom exige responsabilidade. Você e o pai dessa criança foram irresponsáveis quando não pensaram nas conseqüências de se entregar ao prazer de forma tão descuidada.
            O grande problema é que essa criança não pediu para nascer, ela não tem culpa de estar vindo ao mundo. Mesmo assim ela já tem a posição de indesejada, aquela que vem para trazer problemas e acabar com sua vida. Nascer sob esse signo é ruim e pode marcá-la muito negativamente. Numa gravidez desejada os pais sonham com a criança, se encantam, já vocês, sonham em se livrar dela. Não pôde nem mesmo dar uma identidade a ela, chamando-a apenas de criança, nem mesmo dizendo se se trata de uma menina ou menino. Com 8 meses de gestação você possivelmente já sabe o sexo.
            Claro que sua vida não vai ser mais a mesma e é isso que te assusta. Muitas mudanças ocorrerão. Mas isso não é o fim da vida. Você fala como se assim fosse. Você não precisa deixar de viver porque tem um(a) filho(a), só que agora vai demandar que você seja mais responsável pelos seus atos e pense bem antes de agir. Vai precisar aprender a viver sua juventude com a responsabilidade de ser mãe. Sei que não é fácil, mas não é impossível.
            Acho que seria muito bom você procurar a ajuda de um analista que saiba te escutar e te ajude nessa fase que está vivendo. Falar pode te ajudar a pensar sobre tudo isso que está te acontecendo e tirar aprendizagens importantes para a sua vida. Ao saber mais sobre você, talvez você possa mudar o que sente em relação a essa criança, que não tem culpa do que você está passando.

Um comentário:

  1. Desejo de coração que este ser que vai nascer,através de mudanças hormonais e da própria relação com a mãe e os avós, possa ser o veículo de mais união e amor nesta família. A vida intrauterina é marcante no psiquismo de uma pessoa, que este ser consiga transmutar tanta rejeição.
    Ainda bem que a moça te procurou e pode ouvir seus sábios conselhos, buscando ajuda para que sua felicidade vá além do se divertir, viajar e "comprar".

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