sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Pergunta de Leitora - Intolerância e ignorância


É um absurdo os conselhos que você dá. Fico revoltada. Você incentiva a homossexualidade e destrói os valores da família. Prega o divorcio como se isso fosse bom. Fala que homens pode ficar com homens. Onde isso vai parar? Só existe uma pessoa autorizada a resolver problemas. JESUS CRISTO. Os psicólogos são um câncer na sociedade e todos deviam ser exterminados. As pessoas pecisam saber a noção do que é certo e errado e não serem incentivadas a fazerem o errado. Voce consegue dormir sabendo que está contribuindo para a destruição do mundo? Duvido que voce publique meu e-mail. Pessoas como vc não admitem ser criticados.

           Você desconhece que há uma enorme diferença entre criticar e atacar. Você faz uso do ataque, pois teme as diferenças e quem pensa diferente de você. Por você, todos seguiriam uma mesma cartilha, ou seja, você valoriza a falta de liberdade.
           Atacar as diferenças demonstra ignorância e intolerância tornando-a parecida com uma radical extremista. Os radicais odeiam aqueles que pensam diferente deles e fazem uso do ataque, que pode ser a violência verbal ou até física, para impor o medo. Foi assim que tentou fazer comigo. Você esperava que eu temesse sua ira e ficasse calado.
           Cada um tem o direito de viver a vida como bem entender, contanto que não tire a liberdade e a dignidade do outro. A noção do que é certo ou errado para a vida de alguém não é algo estabelecido e permite toda uma variedade de tonalidades. Você só consegue enxergar preto e branco. Limita sua visão e com isso tem raiva daqueles que podem e se permitem enxergar outras cores.
           É interessante notar que apesar de você não gostar e até repudiar meus pensamentos, você bem que lê bastante o que eu escrevo. Faz isso porque é dominada pela inveja. Não admite alguém ser livre para pensar por conta própria e não seguir nenhuma cartilha e também você não é capaz de perceber que ao se entregar ao ódio você se torna uma pessoa amargurada e inconveniente.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Análise de filme - Cisne Negro


            No filme Cisne Negro (EUA, 2010) temos a estória da degradação mental de uma dançarina. Nina é uma exímia bailarina que quer conquistar o papel da Rainha Cisne no balé O lago do cisne. Para tanto ela precisa interpretar dois papéis: a do cisne branco (a princesa) e a do cisne negro (a feiticeira). O papel do cisne branco não apresenta nenhum desafio à sua performance e ela não duvida que possa fazê-lo com graça e suavidade. Ela se identifica com o cisne branco que é virginal, sem muita intensidade e até mesmo infantil. Porém, seu grande receio é não ser capaz de dar vida ao papel do cisne negro que é extremamente intenso em agressividade e sexualidade.
            Nina vive sozinha com sua mãe, uma ex-bailarina frustrada. Não se faz menção a figura do pai, como se ele não existisse. Já temos aí um ambiente onde não há um terceiro e bastam apenas as duas, tornando a relação simbiótica e por isso mesmo doentia. A mãe vive através da filha, não parece ter vida própria. Nina satisfaz essa mãe sendo sempre a menina perfeita, cercada de bichinhos de pelúcia e paredes cor de rosa. A mãe exige que a filha sempre seja um sucesso e jamais erre. Para alguém crescer de fato é inevitável errar, mas para Nina isso lhe está proibido. Ela não tem saída a não ser agradar essa mãe ao custo de se manter num estado infantilizado. Não lhe é permitido conhecer a agressividade que tem dentro de si para não magoar a mãe. Desenvolve, então, sintomas como arranhar a própria pele e se machucar, que nada mais é do que um ataque inconsciente que faz à sua mãe.
            Para viver o papel da Rainha Cisne ela tem que substituir outra bailarina que é tirada do espetáculo pelo diretor por já estar “velha”. Isso já causa um primeiro choque em Nina que percebe que na vida adulta é preciso lidar com frustrações. Não é um mar de rosas. O diretor percebe que falta em Nina agressividade e vivência sexual e começa a provocá-la com palavras e com atitudes que têm por objetivo fazê-la despertar para o que lhe falta. O diretor passa então a ser a primeira pessoa que começa a quebrar a forte ligação que ela tem com sua mãe. Entra um terceiro na estória que mostra que há todo um mundo diferente lá fora e que precisa ser experimentado. Mas Nina é pega por essa nova descoberta de repente e não está preparada para viver e conhecer dentro de si a agressividade e a sexualidade.
             O crescimento se dá com o tempo, na medida em que vamos descobrindo os impulsos que existe dentro de nós e que vamos criando recursos para lidar com eles de uma forma saudável. Da infância à adolescência é uma época conturbada onde esse processo ocorre, onde há a chance de se construir mecanismos de contenção para não nos perdermos nos impulsos. Nina não tem esse tempo. Ela precisa tomar consciência do que há de mais primitivo dentro de si para conseguir viver o cisne negro com autenticidade. Com isso ela se entrega, sem nenhuma contenção, aos seus impulsos e acaba perdendo a noção de realidade.
            Passa a se identificar tão maciçamente com a sexualidade e a agressividade que são necessárias para o papel que já não consegue mais diferenciar o que está acontecendo do que imagina que está acontecendo. Tem alucinações que a deixam mais confusa e mais agressiva. Começa a romper com sua mãe de uma forma violenta. Por outro lado também se sente culpada por estar sentindo todos aqueles sentimentos que nunca antes pudera tomar conhecimento e seus auto-ataques se intensificam.
            No entanto, sua entrega aos impulsos havia sido muito forte e não foi criada uma mente que pudesse dar conta deles, seja pensando ou sublimando. Ela termina por se tornar de fato o cisne negro. Não há mais uma mente. Há apenas impulsos desgovernados e por demais violentos para permitir espaço para uma mulher crescida e adulta. Ela é possuída por tudo aquilo que jamais lhe foi possibilitado conhecer em si e trabalhar para refiná-lo. Essa possessão a permite viver o cisne negro com suprema perfeição, mas ao preço de sua vida.

            

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pergunta de Leitora - Crescimento e sofrimento


Oi Sylvio
Tenho gostado de ler seus textos.
Minha questão é sobre a sua observação nos textos.
Será que o trabalho árduo não é ideologia?
Por que a evolução só poderia vir dessa forma e não simplesmente com o prazer?
O que amamos, fazemos intensamente sem questionarmos ou sentirmos o esforço.
Detesto a idéia de ter que sofrer pra crescer...

            Você detesta a idéia de ter que sofrer para crescer assim como todo mundo também não gosta disso. Não é uma idéia que em princípio seja muito motivadora. Ninguém gosta de sofrer e se pode evita o sofrimento a todo custo. No entanto, apenas evitar o sofrimento e se prender ao prazer é uma forma de negar a realidade da vida.
            Isso não quer dizer que precisamos buscar o sofrimento à toa. Ir atrás dele é masoquismo e não leva a nada. Mas não podemos fugir dele quando ele aparece e o sofrimento, uma hora ou outra, quer queiramos ou não, sempre aparece e se pudermos passar por ele e aprender só teremos a ganhar. Para crescer é preciso lidar com o sofrimento. O próprio ato de nascer já traz sofrimento para a mãe e o bebê.
         Em 1911 Freud escreveu um de seus artigos mais importantes: Formulações sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental que apresenta a idéia do princípio do prazer e do princípio da realidade. O principio do prazer se caracteriza pela atividade psíquica que deseja se livrar de qualquer coisa que causa desprazer.  Evita o sofrimento seja negando, alucinando, recalcando e etc. Já o princípio da realidade é aquele que permite ver que a vida não é como gostaríamos que fosse e que nem tudo podemos. Saber disso causa sofrimento já que acaba com nossa noção de um mundo idealizado. Porém, ao aceitarmos essa realidade há a chance de usar nossa mente para melhorar e construir um mundo melhor. Enfim, há a chance de evoluir.
            Peter Pan não queria crescer, desejava sempre permanecer num estado de prazer, pois não admitia o sofrimento inevitável que vem com o crescimento. É claro que se aprendemos a amar a vida, mesmo com todo o sofrimento que ela impõe, o fardo se torna bem menor de se carregar. Pode sim se tornar prazeroso e nos fazer dar vivas por estarmos vivos. 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Pensamento

“O homem cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, o homem sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro. Quando o homem e seu amigo desciam pela rua, o amigo perguntou:
- Ele sempre trata você com tanta grosseria?
- Sim, infelizmente sempre foi assim.
- E você é sempre tão polido e amável com ele?
- Sim, procuro ser.
- Por que você é tão educado, já que ele é tão grosseiro com você?
- Porque não quero que ele decida como eu devo agir.”

           
         Criar um espaço dentro da mente que nos preserve é essencial. Toda hora nos deparamos com pessoas mal-educadas e até mesmo violentas que facilmente nos tiram do sério. Mas cair nisso é se mostrar fraco e deixar que outras pessoas, de fora, ditem como devemos reagir e sentir.
            À medida que criamos na mente um espaço onde possamos pensar verdadeiramente ficaremos menos vulneráveis ao que os outros nos fazem e agiremos de acordo com aquilo que consideramos mais correto e que seja melhor. Ao fazer isso nos tornamos também mais independentes, ou seja, contaremos mais com nossos recursos internos do que ficarmos dependentes das atitudes dos outros para conosco.
            É muito fácil reagir negativamente às grosserias dos outros. Seja no trânsito, no trabalho, na rua e até mesmo dentro das famílias. Se algo nos espeta já nos armamos até os dentes e mandamos tiros para todos os lados. Achamos, equivocadamente, que assim nos defendemos, mas isso só serve para trazer mais chateações, pois não resolve nada. Para começar a mudar essa situação é necessário que cada um de nós se proponha a criar em suas mentes esse espaço interno onde possam se preservar sem a necessidade de reagir impulsivamente e que possam escolher qual atitude então tomar. Isso é a verdadeira liberdade.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Pensamento

Amar é ter um pássaro pousado no dedo. 
Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que,  a qualquer momento, ele pode voar”

(Rubem Alves)

            Realmente é uma bela imagem do que significa amar. Nunca teremos a posse do outro, nem mesmo podemos ter garantias de que quem amamos sempre estará presente. As vezes a morte, a separação ou a vida impõe a perda do ser amado. Creio que seja por isso mesmo que é tão difícil amar verdadeiramente. Tememos esse pássaro vistoso que pode partir e caso isso aconteça ficaremos com um sentimento de perda muito doloroso.
            Ao mesmo tempo que amar é difícil, se nos aventurarmos a acolher esse pássaro em nós também teremos um ganho formidável. Esse tempo que ele estiver conosco será cheio de encantos e aprendizagens e amando nos tornamos humanos.
            Para amar é preciso coragem no espírito e mesmo se a perda ocorrer ainda assim vale a pena, pois depois de amar já não somos os mesmos, mas já nos transformamos em um outro bem melhor. 

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A mente e a flor de lótus

            A flor de lótus é associada ao budismo por sua pureza. Ela nasce em pântanos e lugares insalubres e quando se abre mostra toda a sua força e brancura. Suas pétalas intrigam cientistas, que tentam imitar, em tecidos, suas propriedades auto-limpantes e que repelem qualquer sujeira. Com todas essas características não é de se surpreender que ela fosse escolhida como símbolo da pureza. Mesmo vivendo em um ambiente fétido e sujo ela sempre se mantém intocada e bela.
            Pensando nessa flor creio que há uma lição a ser aprendida aí. E se tratássemos nossas mentes como essa flor admirável se trata? Não é a toa que o budismo, que é uma bela filosofia de vida, a elegeu para simbolizar a transcendência. No budismo acredita-se que temos uma grande responsabilidade na vida em nos tornarmos cada vez melhores num mundo que muitas vezes oferece injustiças, maldades e dores. Precisamos sempre nos manter puros e não nos entregar ao que há de pior. Tal como a flor que se mantém pura em seu ambiente.
            E o que é tudo isso se não cuidar da própria mente? Transcender é se superar. É se refinar e parar de agir somente através dos impulsos mais primitivos e se tornar verdadeiramente humano. Infelizmente esse processo nem sempre se dá tão facilmente. Ao contrario da flor a gente, com muita freqüência, se apega a pensamentos e atitudes que nos sujam e nos destrói. Ficamos presos a uma vida que perde a graça e a cor e com isso ficamos amargos e desesperançosos. Aí nos assemelhamos mais a uma vegetação morta, marrom e sem vibração onde as possibilidades de sentir prazer e se deixar surpreender se tornam cada vez menos possíveis.
            O budismo não prega a conversão, mas a iluminação e nisso essa filosofia e a psicanálise têm muito em comum. Ambas buscam que cada um encontre sua luz e siga seu caminho. Podemos e devemos criar simbolicamente uma flor de lótus em nossas mentes para que possamos nos livrar das coisas que nos pesam e não nos acrescenta nada construtivo. Fazer analise é tal como deixar uma flor de lótus nascer na mente. É se abrir para revelar o que cada um carrega de melhor em si. É se erguer de um pântano e produzir algo mais refinado e belo. Apesar de tudo isso soar bastante poético, na pratica para se conseguir desenvolver esse estado é necessário muito trabalho. Aliás, as recompensas que mais valem a pena são sempre frutos de trabalho árduo. Na vida nada vem de graça. Não há como desejar estar num estado refinado sem lutar por isso.
            Neste trabalho, uma pessoa em analise se depara com muitas coisas dolorosas e que gostaria de não ver. É sempre mais fácil fugir daquilo que nos causa desgosto. Mas fechar os olhos para as próprias verdades é encobrir-se, quando, na realidade, o que mais precisamos é descobrir. Todos temos muito a ganhar se pensarmos no significado das palavras. Se pensarmos na palavra descobrir veremos que significa tirar a coberta e revelar. Logo, encobrir-se é a mesma coisa que se deixar afogar pelos lodaçais da vida e se entregar. Já se trabalharmos para criar em nossas mentes um espaço de pureza vamos cada vez mais viver verdadeiramente em vez de apenas sobreviver. Buda costumava dizer um pensamento: Somos o que pensamos. Tudo o que somos surge com nossos pensamentos. Com os nossos pensamentos, fazemos o nosso mundo. Com tudo isso em mente vale a pena pensar sobre o que fazemos conosco.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Pergunta de Leitor - Definições


Tenho 23 anos e sempre fui um cara que gosta de mulher. Já estou na minha terceira namorada fora alguns casos que já tive. Mas algo me aconteceu que me deixou com medo. Um dia eu tinha bebido além da conta e eu e um amigo fizemos sexo. Não nos falamos mais depois disso e na verdade não sei como isso foi acontecer. Desde então eu estou achando que posso ser gay. Mas se eu gosto de mulher como posso ser gay? Existe mesmo a tal da bissexualidade? Que será tudo isso?Queria que vc me respondesse se é possível alguém virar gay.

            A identidade sexual não é uma coisa tão definida e fixa quanto a maioria das pessoas acreditam. Você diz que sente atração por mulheres e se assustou muito por perceber que também pode sentir atração por homens já que acabou transando com o colega. Mas por que você precisa de um nome para o que você é? Procura por um rótulo para assim se sentir mais seguro e menos confuso?
           Freud foi um gênio quando ousou estudar a sexualidade humana sem falsos moralismos e descobriu que as pessoas não se encaixam na faixa dos cem por cento heterossexual ou homossexual, mas que há gradações nessa escala. E uma delas é a bissexualidade. Claro que ela existe!
          Se você é bissexual eu não sei, mas também procurar por rótulos não vai te ajudar em nada. Até porque a identidade sexual é maleável e portanto as definições mudam conforme você for mudando e se conhecendo mais.
         O fato de ter transado com o colega não o torna gay, mas também não precisa ser o fim do mundo caso você venha a se descobrir mais atraído por homens do que por mulheres. Homossexual também é gente e não um ser do outro mundo.
        Alfred Kinsey foi um zoólogo americano que realizou uma das maiores pesquisas sobre sexualidade já feita. Numa das conclusões, que criou um escândalo que causou sérios danos à sua reputação, foi descobrir que mais ou menos 37% dos homens americanos da década de 30 havia tido pelo menos uma relação homossexual. Como você pode notar isso é mais corriqueiro do que você pensa.