segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Análise de filme - Cisne Negro


            No filme Cisne Negro (EUA, 2010) temos a estória da degradação mental de uma dançarina. Nina é uma exímia bailarina que quer conquistar o papel da Rainha Cisne no balé O lago do cisne. Para tanto ela precisa interpretar dois papéis: a do cisne branco (a princesa) e a do cisne negro (a feiticeira). O papel do cisne branco não apresenta nenhum desafio à sua performance e ela não duvida que possa fazê-lo com graça e suavidade. Ela se identifica com o cisne branco que é virginal, sem muita intensidade e até mesmo infantil. Porém, seu grande receio é não ser capaz de dar vida ao papel do cisne negro que é extremamente intenso em agressividade e sexualidade.
            Nina vive sozinha com sua mãe, uma ex-bailarina frustrada. Não se faz menção a figura do pai, como se ele não existisse. Já temos aí um ambiente onde não há um terceiro e bastam apenas as duas, tornando a relação simbiótica e por isso mesmo doentia. A mãe vive através da filha, não parece ter vida própria. Nina satisfaz essa mãe sendo sempre a menina perfeita, cercada de bichinhos de pelúcia e paredes cor de rosa. A mãe exige que a filha sempre seja um sucesso e jamais erre. Para alguém crescer de fato é inevitável errar, mas para Nina isso lhe está proibido. Ela não tem saída a não ser agradar essa mãe ao custo de se manter num estado infantilizado. Não lhe é permitido conhecer a agressividade que tem dentro de si para não magoar a mãe. Desenvolve, então, sintomas como arranhar a própria pele e se machucar, que nada mais é do que um ataque inconsciente que faz à sua mãe.
            Para viver o papel da Rainha Cisne ela tem que substituir outra bailarina que é tirada do espetáculo pelo diretor por já estar “velha”. Isso já causa um primeiro choque em Nina que percebe que na vida adulta é preciso lidar com frustrações. Não é um mar de rosas. O diretor percebe que falta em Nina agressividade e vivência sexual e começa a provocá-la com palavras e com atitudes que têm por objetivo fazê-la despertar para o que lhe falta. O diretor passa então a ser a primeira pessoa que começa a quebrar a forte ligação que ela tem com sua mãe. Entra um terceiro na estória que mostra que há todo um mundo diferente lá fora e que precisa ser experimentado. Mas Nina é pega por essa nova descoberta de repente e não está preparada para viver e conhecer dentro de si a agressividade e a sexualidade.
             O crescimento se dá com o tempo, na medida em que vamos descobrindo os impulsos que existe dentro de nós e que vamos criando recursos para lidar com eles de uma forma saudável. Da infância à adolescência é uma época conturbada onde esse processo ocorre, onde há a chance de se construir mecanismos de contenção para não nos perdermos nos impulsos. Nina não tem esse tempo. Ela precisa tomar consciência do que há de mais primitivo dentro de si para conseguir viver o cisne negro com autenticidade. Com isso ela se entrega, sem nenhuma contenção, aos seus impulsos e acaba perdendo a noção de realidade.
            Passa a se identificar tão maciçamente com a sexualidade e a agressividade que são necessárias para o papel que já não consegue mais diferenciar o que está acontecendo do que imagina que está acontecendo. Tem alucinações que a deixam mais confusa e mais agressiva. Começa a romper com sua mãe de uma forma violenta. Por outro lado também se sente culpada por estar sentindo todos aqueles sentimentos que nunca antes pudera tomar conhecimento e seus auto-ataques se intensificam.
            No entanto, sua entrega aos impulsos havia sido muito forte e não foi criada uma mente que pudesse dar conta deles, seja pensando ou sublimando. Ela termina por se tornar de fato o cisne negro. Não há mais uma mente. Há apenas impulsos desgovernados e por demais violentos para permitir espaço para uma mulher crescida e adulta. Ela é possuída por tudo aquilo que jamais lhe foi possibilitado conhecer em si e trabalhar para refiná-lo. Essa possessão a permite viver o cisne negro com suprema perfeição, mas ao preço de sua vida.

            

5 comentários:

  1. Esse filme me deu medo. Medo de um dia ficar assim que nem ela. Louca

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  2. O filme é espetacular e e cheio de interpretações!!
    Parabéns!!

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  3. Filme poderoso, não só visualmente, mas simbolicamente. A cena onde Natalie dança o Cisne Negro é espetacular, pura libertação, onde ela transcende a condição humana e atinge o potencial completo de sua verdadeira vontade. Ótimo filme.

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  4. ESPETACULAR. e tudo oque tenho adizer desse filme.

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  5. Interessante sua análise, muito parecida com a que eu fiz, quando assisti esse filme, apesar deu não ter a formação de psicologa, apenas com meu dom, sensibilidade que tenho para trabalhar com analises consegui, ter também essas observações sobre esse filme. Fiquei feliz que não estava errada! :)

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