A morte de Marat (Jacques-Louis David)
Já ouvi relatos sobre a existência de cursos preparatórios para a morte. Nesses cursos ou ‘terapias’ se aprende a morrer em paz ou a não temer a morte como muita gente por aí teme. Não há mesmo limite para a imaginação humana quando se trata de explorar e tirar dinheiro dos outros. E também não há limites quando se trata do ser humano criar as mais mirabolantes ilusões para achar que consegue driblar a natureza da vida.
Lembro-me de uma frase espirituosa do físico Albert Einstein; “Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”. Porém, não sejamos tão duros com o bicho homem que cai na estupidez porque nunca aprendeu a lidar com a própria natureza, a natureza humana, de maneira mais inteligente. Entendo mesmo que não é fácil.
Somos seres dotados de alguma razão e criamos, através da ciência e do pensamento, muitas tecnologias que são eficientes e pródigas em lidar com muitos desafios que o mundo e a realidade nos oferecem. Em alguns momentos nos sentimos muito poderosos, arrogantes até, todavia quando olhamos mais atentamente nossa condição vemos o quão impotente somos de fato. Toda nossa tecnologia que nos auxilia e facilita a vida não nos isenta de ter que lidar com nossa condição humana, com nossas angústias, sentimentos e emoções. Sofremos e temos que tolerar o quanto somos criação e não criadores do mundo.
Para muitas situações ao longo da vida não temos respostas e tudo aquilo que está na dimensão mental sempre apresenta paradoxos dolorosos que é difícil de aceitar. Uma delas é a nossa finitude. Sabemos que vamos todos, um dia, morrer e isso nos assusta imensamente. Nos sentimos vulneráveis e desamparados frente à muitos eventos da vida e procuramos meios desesperados de tentar escaparmos, mesmo que sejam ilusórios. O famoso “me engana que eu gosto” é algo bem comum aos humanos. Daí existir esses tais cursos que prometem aplacar nossas ansiedades.
Não há como morrer bem, isso aliás nem deveria ser pensado ou almejado. Por que raios alguém iria querer morrer bem ou em paz? Todo um trabalho e esforços apenas para morrer bem? Que desperdício! Deveríamos gastar nossas energias em viver bem, pois na verdade morre-se como se vive. Não dá para aprendermos a morrer, coisa que nem entendemos direito, mas podemos aprender a viver melhor, com mais alegria e prazer. Nem aprendemos a viver e queremos aprender a morrer. Não faz sentido.
Viver bem, viver o melhor possível com nossos familiares, amigos, colegas, com nossas comunidades e atividades é o que realmente importa. Só mesmo uma pessoa que vive tem condições de morrer em paz. Viver bem, entretanto, não é apenas uma questão de lidar com os aspectos concretos da vida, mas de se relacionar bem com ela. É necessária uma boa educação sentimental, coisa que falta muito, para podermos viver bem. Quem cuida de seu mundo mental com zelo tem muito mais chances de viver com qualidade e, portanto, até de morrer bem. Antes de pensarmos na morte temos que dar conta da vida. Infelizmente, deixamos isso de lado e nos enganamos.
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