A palavra fanático vem do latim “fanus” que significa templo ou santuário. Na antiguidade o fanático era o porteiro e vigilante de um dado templo e cuidava com toda a dedicação possível de sua segurança e por isso mesmo da crença que aquele templo guardava. Na antiga Roma as pessoas cultuavam vários deuses, prestando-lhes homenagens e reverências, mas o fanático se apegava apenas a um e para ele a sua crença era a única que existia. Os outros deuses e templos não eram aceitos ou então eram considerados inferiores. O fanático é aquele que defende a sua crença com extremo fervor ficando surdo a tudo aquilo que o contradiga e ameace.
Podemos entender o fanatismo como um estado psíquico que promove uma adoração deslumbrada e irrestrita a uma determinada figura, causa ou movimento. O fanático está certo de sua ‘verdade’, ele não mente quanto a isso, mas acredita em qualquer mentira que venha a reforçar aquilo que crê ser a verdade. Exatamente devido a isso que o fanático é o maior alvo das fakenews e também o maior propagador delas.
Para o fanático as suas ideias estão corretas, mais até do que corretas, elas são a verdade e o ideal da pessoa fanática é mostrar essa dita verdade a todos os demais que ainda não a ‘viram’. Em outras palavras, ele quer ‘salvar’ todo aquele que não teve a revelação da verdade. E quem não quiser ser salvo representa um perigo e uma distorção tão grandes que precisaria ser eliminado. O inimigo passa a ser todo aquele que não comunga da mesma crença.
Vivemos atualmente o tempo do “nós contra eles” e isso vai acumulando agressividade e violência podendo explodir em atos de selvageria. Em tempos assim, nosso lado fanático pode ser estimulado e reforçado nos fazendo perder a cabeça. Tanto que muitas pessoas inteligentes, generosas e capazes praticam ações intempestivas assustadoras, por causa do fanatismo, fazendo com que elas não sejam mais reconhecidas. Essas pessoas ficam meio que ‘deformadas’.
Na proteção irracional da crença o fanático pode criar mentiras perigosas que geram generalidades imprudentes sobre o outro, aquele que difere. “Todo mulçumano é terrorista, todo mundo que mora na favela é traficante, todo mundo que tem dinheiro é insensível, etc.” Criam-se mentiras que são tratadas como verdades ou como partes da verdade. A mentira, sentida como verdade, sempre estará acompanhando a visão do fanático. Atualmente, nessa polarização política que vivemos vemos um grupo jogando as mentiras mais perniciosas no outro grupo e vice-versa.
No fanatismo ataca-se tudo aquilo que é diferente. O outro não é suportado e acaba não sendo mais um sujeito, mas um objeto de desprezo e de ataque. O contato com o diferente para quem é fanático é sempre traumático e assustador e por não conseguir usar a própria mente para tolerar e pensar, ele usa a mente para atacar e exterminar. A psicanálise só poderia ajudar alguém fanático na medida que ele suportaria, em algum grau, que não é dono da verdade e que seus sentimentos de vazio precisariam ser encarados e não tampados com falsidades que assegurem uma falsa certeza. Infelizmente, para quem é realmente fanático e fica tão apegado às suas certezas nenhum tratamento é eficaz.
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