segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Esperança (ou fé) é essencial


        A nossa felicidade depende, principalmente, da nossa capacidade de tolerar o sofrimento a manter a esperança na vida. Se somos capazes de aprender a lidar de maneira eficiente com o sofrimento e com as adversidades que a vida sempre nos traz, podemos ser felizes. A felicidade não se caracteriza por um estado onde não exista sofrimento e dificuldades, mas pela possibilidade de se sobreviver a eles e crescer apesar deles.
         Quando sofremos (e todo o mundo sofre nessa vida das mais variadas formas) podemos passar pela dor com o coração inteiro, ou seja, não ficamos despedaçados, fragmentados. O que torna tudo pior é quando nós nos fragmentamos diante de todos os empecilhos que a vida nos dá, porém se podemos suportar os infortúnios sem nos abalarmos podemos manter a esperança de viver melhor e mais fortes. Sem esperança não há saúde mental.
             O sentimento de esperança é um dos mais importantes que podemos cultivar nessa nossa vida. A esperança é que mantem viva nossa crença de que podemos aprender diante de tudo o que vivemos e sairmos mais fortalecidos. Com ela sempre temos um amanhã que pode ser melhor. E a esperança não se trata de um sentimento otimista bobo, passivo, mas de algo bem ativo.
             Na esperança passiva fica-se esperando que tudo aconteça, que tudo nos seja dado, mas isso não é uma boa atitude frente à vida. Isso só cria uma situação de abandono de si próprio e de certo relaxo para com os autocuidados. Chega a ser quase que uma preguiça. O preguiçoso tem, acima de tudo, preguiça de cuidar de si mesmo. A preguiça é sempre uma resistência em se responsabilizar pela própria vida.
             Já na esperança de fato há um desejo por cuidar de si, uma necessidade de crescer, de se fortalecer. Algumas pessoas até chamam a esperança de fé. São sinônimos. O problema é que fé acaba trazendo um peso religioso porque acredita-se que a fé esteja em algum deus ou deuses, conforme a religião que se tenha como referência.
            A fé, como sinônimo da esperança, também tem esses dois lados: o ativo e o passivo. Tem gente que diz ter fé em deus, por exemplo, e deixa tudo nas mãos da divina procedência sem fazer nada por si e sem se responsabilizar-se pela própria parte. Vira uma fé estéril, muito infantilizada. Crianças é que normalmente acreditam que tudo o que necessitam precisa ser dado por alguém maior. Gosto muito de um provérbio árabe antigo que diz: "Crê em Deus, mas amarra o seu camelo". Esse provérbio mostra bem que se não fizermos nossa parte nessa vida de nada adianta no que acreditamos.
        A verdadeira esperança ou sentimento de fé reside no fato de que confiamos em nós mesmos, na nossa capacidade de aprender e de nos elevarmos diante das dificuldades. A fé recai no potencial humano que existe dentro de nós e que precisa ser aperfeiçoado constantemente para que possamos contar conosco. Quem conta consigo mesmo nunca fica só e quem desenvolve a si próprio fica sempre em boa companhia. Só assim a felicidade pode ser possível.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

O que significa melhorar a si mesmo?


        ​Todos podemos melhorar nessa vida. Sempre há o que melhorarmos, sempre há espaço para isso. Ainda bem. No entanto, acredita-se, entre alguns, que melhorar significa mudar completamente a ponto de ser outra pessoa. Isso, obviamente, não é possível. Ninguém consegue deixar de ser si mesmo. É um engano crer que ter uma vida melhor implica em se transformar em uma outra pessoa. Melhorar nada mais é do que aprimorar verdadeiramente a si mesmo.
        ​Querer abandonar a si mesmo e ser outro é algo muito violento e também impossível. Não há como isso acontecer, porém o que é possível e recomendável é aprender a lidar consigo mesmo, aprender a desarmar os entraves que criamos ao longo da vida e expandir as virtudes que estão ao nosso alcance. Apesar de ser trabalhoso, isso tudo é viável e pode ser conseguido se nos comprometermos nesse caminho.
        Se prestamos atenção em nossas qualidades e defeitos tomamos consciência do quanto podemos melhorar como vivemos e nos relacionamos com a vida. Já que não podemos e nem precisamos nos tornar outras pessoas, podemos mudar como vivemos e como olhamos para a vida.
    Todos temos essa tarefa de se auto aprimorar; isso é crescimento. Não nascemos crescidos, na verdade não nascemos humanos, como sempre gosto de dizer, mas aprendemos a ser humanos. Auto aprimorar-se é aprender a ser humano. Hoje em dia, vira e mexe se ouve pessoas falando que a humanidade não tem jeito, que é um caso perdido. Só que não é bem assim. O que falta nesse mundo é humanidade, é as pessoas aprenderem a serem humanas. Do contrário vamos sempre ficar numa posição que nunca atinge aprimoramento (humanidade). 
    Quando abrimos espaço para nos aprimorar, ou seja, crescer, isso nos permite que aprendamos a tomar conta de nós mesmos. Esse longo e custoso aprendizado nos leva a ser verdadeiramente adultos. O adulto é aquele que não quer ser outra pessoa, mas que aprende a lidar consigo mesmo, a se responsabilizar pelo que faz da própria vida. É aquele também que não procura externamente um pai e uma mãe para tomar conta de si. O adulto cuida de si mesmo melhor do que qualquer pai ou mãe fariam. Ser adulto é contar consigo mesmo para viver essa vida.
    Nesse processo de evolução, que é cuidar de si mesmo, vamos podendo tomar consciência daquelas ideias que nos fazem bem e daquelas que nos limita desnecessariamente. Vamos reformulando muitas coisas que anteriormente dávamos como certas e imutáveis. Quando nos propomos uma reforma podemos corrigir muitas coisas dentro de nós mesmos. Corrigir implica em abrir mão daquilo que não serve e nutrir aquilo que nos fortalece. 
        Crescer e se aprimorar só pode vir como resultado de um constante processo onde nos observamos, onde nos permitimos nos questionar sempre que for necessário. Por isso mesmo que viver bem é só para os ousados, para aqueles que se colocam disponíveis para explorar a própria vida. Já para aqueles que querem se tornar outras pessoas, mas não se aprimorar, só resta mesmo a posição de se sentirem sempre inadequados, de estarem sempre fora de lugar.

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Flores autênticas não são sujeiras



            No mês de setembro a primavera chega e os ipês aqui em Londrina se abrem em flores. No bairro onde moro há bastantes ipês de cor branca e é um espetáculo ver as árvores, após uma leve chuva antecedida por uma severa seca, explodir em flores. Porém, nem tudo são flores e, andando pelas ruas e admirando os ipês, vi algumas faxineiras de alguns prédios bastante irritadas varrendo o tapete das flores que naturalmente caem nas calçadas.
        Cheguei a escutar de uma delas que a árvore deveria ser cortada porque só fazia sujeira. Que coisa mais triste! Flores, mesmos as caídas, não são sujeiras. É um processo natural as árvores perderem flores e folhas, tal como nós perdemos fios de cabelo. Sim, as calçadas precisam ser varridas e isso dá trabalho, mas é bem melhor varrer flores e folhas do que latinhas, garrafas, bitucas de cigarro e sacolinhas plásticas que são, sim, sujeiras que jogamos pela cidade afora. Mesmo caindo fios de cabelo não precisamos necessariamente raspar a cabeça para evitar o trabalho de aspirar ou varrer nossa casa. Por que, então, deveríamos cortar as belas árvores que nos dão tanta beleza?
        A questão jaz, na minha opinião, menos nas reclamações das pessoas que dizem que dão trabalho ou de que fazem sujeira, mas na incapacidade de se admirar e suportar o que é belo. A verdade é que muitas pessoas não conseguem tolerar aquilo que é belo e bom nas próprias vidas. Quando algo interessante acontece e é digno de nota, muitas pessoas correm para cortar isso de suas vidas.
        O fato é que apesar da grande maioria das pessoas afirmarem que querem que suas vidas se transformem em coisas boas, isso está mais na boca do que no coração. Ou seja, está mais no discurso, no que se fala, do que nas verdadeiras atitudes. Há um prazer frequente, muito empobrecedor, em lamentar. Prefere-se, entre muita gente, reclamar do que admirar aquilo que é bom.
        Quando vamos atacando tudo aquilo que é bom e belo em nossas vidas cada vez mais vamos tirando as “flores” que podem tanto nos enriquecer e dignificar. Uma cidade repleta de ruas sem árvores fica uma cidade feia, pobre, seca, quente e sem vida. Hoje em dia, os planejadores urbanos enfatizam o quanto precisamos de mais áreas verdes nas cidades. O quanto isso tudo traz qualidade de vida aos moradores. As cidades sem vida são na verdade reflexo do que se passa dentro de muitas pessoas. Elas ficam com a mente também sem vida, sem nada preservado, sem nada que possa florescer.
        As flores de verdade morrem, caem, dão trabalho. Uma música brasileira diz que as flores de plástico não morrem, mas elas também não vivem. Uma flor artificial jamais poderá substituir uma verdadeira. Com a vida também se passa o mesmo. Ela também dá trabalho, também perdemos, mas uma vida artificial, cheia de reclamações, não poderá substituir, nem mesmo por um instante, uma vida autêntica. Se queremos “florescer” em nossas vidas precisamos aceitar o trabalho que tudo isso nos dá. Só que quando florirmos será verdadeiro e de uma forma que vale a pena viver.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Estereótipos são enganosos



            Há muitas ideias que portamos que são na verdade estereótipos e não frutos de um verdadeiro pensamento. A maternidade, por exemplo, é um desses casos. Tem-se a ideia de que toda mulher quando engravida torna-se, naturalmente, mãe. Isso é um grande equívoco, pois coloca todas as mulheres como se fossem uma coisa só, sem considerar as diferenças entre elas. Nem todas as mulheres querem ser mães e não há problema nenhum nisso. É um
direito de cada uma saber e entender a si própria para poder viver o que quer e o que pode na vida. Contudo, há toda uma ideia de que as mulheres são predestinadas a serem mães, que é algo natural, como um instinto. Pura bobagem.
           Quando nos guiamos por estereótipos reduzimos as pessoas, as limitamos e toda  uma gama de características particulares são desconsideradas. Fica-se “as mulheres,  os homens, os gays, os 'isso e os aquilo'”. Como se todas as mulheres desejassem de maneiras idênticas, como se todos os homens fossem os mesmos, etc. Isso é muito limitador e uma verdadeira miopia. Há mulheres e mulheres, há homens e homens, há gays e gays. Cada um com sua história de vida, seus talentos, seus desejos, etc. 
        Outro engano que se tem muito frequentemente é que toda mãe é boa e, por conseguinte, ama seus filhos. Bela bobagem. Nem toda mãe ama seu filho. São muitas as pessoas que querem tapar o sol com a peneira e não querem enxergar a realidade. A verdade é que tem muitas mães que fazem um mal terrível a seus filhos. É só ver esse caso recente do menino Henry, do Rio de Janeiro, de 4 anos, sendo torturado pelo padrasto com conhecimento da mãe, que nada fez. O resultado foi o menino ter sido tão torturado que morreu.
         Estereótipos são sempre enganadores. Há mães que prejudicam seus filhos, que fazem um mal terrível. A maternidade é uma coisa interna, psicológica e não apenas biológica. O fato de uma mulher engravidar e parir não significa que ela se tornou mãe. Isso pode ser apenas um ato orgânico e não ter nenhuma contrapartida interna, simbólica. Não é a biologia que define uma mãe, mas a disposição interna. Nem mesmo é necessário ser mulher para exercer a  função materna. Homens também podem, sejam eles homossexuais ou não. Tem a ver com o interno e não com o gênero biológico. 
        O mesmo acontece com a função paterna, sendo possível ser exercida por mulheres. Tanto que existem aquelas mães incríveis que são chamadas de mães e pais ao mesmo tempo. Se basear em estereótipo é uma maneira de não se abrir à vida e reduzir tudo a certas premissas pré-estabelecidas. Os ciganos são perigosos, os espanhóis são estourados, os italianos são falantes. São todas formas de acharmos que conhecemos as coisas, de nos anteciparmos à experiência que podem sempre ser surpreendentes. Ao invés de formarmos opiniões tão forte e rapidamente poderíamos nos abrir a conhecer o outro, sem preconceitos. Assim, não nos equivocaríamos tanto nem falaríamos tantas bobagens.