Diz a piada “Nossa, seu bebê é a coisa mais linda do mundo!!" E a mãe replica: "Você ainda não viu nada! Devia ver as fotos dele no Instagram!!” As pessoas estão vivendo assim. Ao invés de experimentarem diretamente uma dada vivência, se envolvem com a imagem, com o reflexo de uma vivência. Quem olha para as redes sociais vê uma profusão de fotos de pessoas vivendo as mais variadas situações, mas nem sempre tudo o que parecer ser, é. Não estou condenando nem olhando para as redes sociais com olhar moralista. Elas vieram para ficar e desempenham maravilhas quando bem usadas. Portanto, as redes sociais não são os inimigos. Dito isso, chamo a atenção para o fato de que muitas vezes estamos vivendo mais nas redes sociais do que na própria vida em si.
Nos pontos turísticos isso é visto com bastante frequência. As pessoas tiram fotos e selfies freneticamente, mas são poucas as que realmente param num determinado ponto, observam e “sentem” onde realmente estão. Nos museus famosos, que muita gente se sente na obrigação de visitar, passam pelas obras de arte e desesperadamente tiram fotos que, em segundos, vão parar nos feeds das redes sociais, mas é raro encontrar pessoas que conseguem apreciar uma obra de arte de maneira mais contemplativa e pessoal.
O grande problema é que as verdadeiras experiências perdem espaço para pseudo-experiências. E uma coisa parcial jamais forma a coisa total. Se eu for nas Cataratas do Iguaçu, eleita umas das sete maravilhas naturais do mundo, e puser um pouco de sua água num pote e levar esse pote por aí e mostrar para as pessoas, isso não vai dar a dimensão e a beleza que são as cataratas. Um pedacinho dela, a água no pote, nunca fará justiça às cataratas reais. As fotos são lindas e servem como recordações que sempre vamos carregar, mas elas não são a vida.
Infelizmente, sabemos mais dos pedaços da vida do que dela propriamente dita. E assim a vida fica recortada. Quando digo vida aqui me refiro às experiências que passamos, como emoções, sentimentos e tudo o que é despertado dentro de nós. Essas são as coisas que nos formam e que nos transformam. Como na piada acima, as fotos do bebê eram consideradas mais reais que o próprio bebê.
Já vi pais nas apresentações de fim de ano nas escolas dos filhos (isso antes da pandemia, claro) tirando fotos para postá-las enquanto os filhos estavam lá no palco se apresentando e procurando na plateia os olhares do pai e da mãe. Porém, os olhares dos pais estavam nas telas de seus celulares. Parece até que se não for postado não existiu. A existência de uma experiência não fica dentro, na mente, no psiquismo, mas fora e gravada na nuvem de informações. Isso tudo é muito triste e sério.
As palavras e imagens que postamos excessivamente todos os dias são reflexos inadequados da realidade que vivemos. A realidade não é algo para ser capturado, mas algo a ser vivido, experimentado. E uma vez que vivemos algo, mudamos, ampliamos o espaço interno dentro de nós. Pode haver, a partir daí, uma expansão. Se eu for no Egito e roubar um pedacinho da maior pirâmide e levar para casa eu não vou ter um pedaço da pirâmide, mas apenas uma pedra sem valor algum que, certamente, uma hora vai acabar no lixo. A pirâmide não podemos possuir, mas podemos vivenciá-la, podemos nos abrir a tudo o que ela nos desperta quando a contemplamos. A vida é assim.
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