segunda-feira, 9 de novembro de 2020

(Des)Idealizar

 

     A escritora Rupi Kaur após um sofrido término de um relacionamento amoroso escreveu: “não é o que deixamos para trás que me destrói, é o que podíamos ter construído se ficássemos.” Todo término é sofrido. Qualquer coisa que estamos vivendo e que nos traz prazer e satisfação quando termina gera, também, sofrimento. A dor do fim dos relacionamentos amorosos acontece no mundo inteiro e atinge pessoas de qualquer idade. 
    Não é mesmo fácil passar pelo fim de um relacionamento, mas é importante ser paciente quando estamos vivendo um término. Pacientes porque leva tempo para as feridas cicatrizarem. De início, tudo parece ficar muito ruim, como se a vida tivesse sido contaminada letalmente. Parece que o Sol nunca mais vai brilhar e se brilhar, parece que nunca vamos obter nenhum prazer nisso. Nesses momentos, onde tudo parece ficar sem cor e sabor, a paciência se faz necessária mais do que nunca.
     Como já diz um antigo ditado “o tempo tudo cura”. Na verdade, não é o tempo que cura, ele apenas dá espaço para que uma cura vá se operando dentro de nós. Cura nada mais é que cuidado, então quando estamos passando por um processo de cura estamos aprendendo a nos cuidar. Como continuar em frente quando alimentamos tantos sonhos? Como encontrar sentido quando parecia que o sentido estava intensamente localizado naquele relacionamento que agora chegou ao fim? 
     Imagino, e aqui é só uma hipótese minha, que quando a escritora escreveu que o difícil era abandonar o que podia ter sido ela estivesse falando de algo que idealizou. Muitas vezes o mais difícil de suportar no fim de um relacionamento é abrir mão das idealizações. É fato que estar num relacionamento faz com que idealizemos as experiências e a pessoa com quem nos relacionamos e, quando há um rompimento, a idealização a que nos apegávamos fica destruída.
    Curar-se ou aprender a se curar do fim de uma relação é conseguir des-idealizar. É sofrido deixar de lado nossas idealizações de como eram as coisas e de como poderiam ser. Se o par romântico terminou é porque não era tão bom assim, alguma coisa não estava bem, senão não haveria terminado. Talvez o que sustentava esse relacionamento da escritora fosse mais da dimensão da idealização do que da realidade. Claro que essas coisas só são percebidas depois que conseguimos suportar a dor da desilusão, mas uma coisa é fato: junto com a desilusão vem o crescimento. Não é possível crescer quando ficamos apegados à ilusão. Para crescer é preciso abrir mão das idealizações.
    A grande verdade é que nascemos sozinhos nesse mundo e vamos morrer sozinhos. Esquecemos com muita facilidade disso e esquecer algo assim tão real nunca é um bom negócio. Se temos em mente que nascemos e morreremos sós podemos encarar melhor os fatos e ganhar perspectivas mais realistas. Quando sabemos disso aprendemos que nossa vida não é dependente de algo lá fora. E que mesmo sem um relacionamento temos nós mesmos. Esse é o único relacionamento que somos obrigados a desenvolver de fato. O relacionamento consigo próprio. Dele não dá para escapar.

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