Aconteceu em Taiwan no fim de agosto algo que me fez pensar. Era um domingo e um festival ocorria num parque onde se encontrava muitas pessoas. Uma menina de três anos estava perto de uma pipa gigante que estava prestes a alçar voo. Quando uma rajada de vento chegou subitamente e elevou a pipa os fios se amarraram na cintura da pequena menina e a fizeram subir numa altura de 30 metros por 30 segundos. Parece um tempo curto, mas imagina o desespero da garota ao ser arrebatada para cima de forma tão brusca e inesperada e numa altura equivalente a um prédio de 10 andares? Deve ter sido muito angustiante. O pior ainda podia acontecer caso o vento parasse repentinamente, o que faria com que a menina caísse com tudo e tivesse uma batida muito violenta. Felizmente, o vento colaborou e foi amainando aos poucos, o que tornou possível que a menina fosse baixando devagar até o chão. Fora o susto, imenso, ela não sofreu machucados sérios.
O que fiquei pensando desse incidente me levou para outra dimensão. A dimensão mental. Muitas pessoas temem entrar em contato consigo próprias, temem abrir espaço para descobrir suas emoções e fantasias. Insistem em evitar o menor contato que seja com a própria mente. O que povoa nossa mente são nossas fantasias e desejos, nossos anseios e pensamentos. Ocorre que tememos ser içados por tudo o que se passa no nosso mundo interno.
É claro que corremos riscos quando uma fantasia nos surge. Ela pode tanto nos levar para algo que nos enriqueça, nos faça expandir como também fazer a gente perder o chão de forma abrupta e sem o menor cuidado. Podemos nos espatifar. Há essa possibilidade, porém, podemos usar a nossa mente para nos proteger dessas situações.
Usar a mente implica em abrir espaço para as fantasias e desejos e também pensar sobre eles. É uma mistura de sensibilidade e bom senso. Um equilíbrio. Sem equilíbrio nossa vida mental fica comprometida. Nossas fantasias podem nos abrir novas possibilidades, o que cria novas formas de se relacionar com o mundo, de crescer e de trazer mudanças. Sem fantasias não seríamos reconhecidos como ser humano, já que ela nos possibilita viver esse lado humano. Sem fantasias não existiriam obras de artes, músicas, literatura. Sem fantasiar não construiríamos tecnologia cada vez mais eficiente, não desenvolveríamos a culinária. Se alguém não tivesse sonhado antes, não haveria medicina de ponta, engenharia tão eficaz e por aí vai. Deu para ter uma ideia.
Todavia, a mesma fantasia que cria tanta coisa boa pode tal como na história da pipa acima nos levantar repentinamente e fazer a gente se machucar feio. Pode nos levar a um tombo com consequências catastróficas. Perder o chão com a fantasia pode ser trágico. Isso significa que precisamos destruir todas as pipas? Não mais sonhar e deixar de levantar voo? Não, apenas precisamos aprender a lidar com nossas fantasias, não nos enredarmos nela a ponto de nos colocar em risco. Podemos continuar empinando as pipas de nossas mentes, mas sem precisar estar amarrados nelas. Nós é que a conduzimos; não precisamos ser conduzidos por elas.