sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Pergunta de Leitora - Ídolos, Salvadores e Mitos




Por que sempre buscamos ídolos e heróis. Não sei se os dois termos podem ser usados como sinônimos, mas isso me ocorreu durante a Copa do Mundo. Apesar da seleção ter 11 jogadores, era o "time do Neymar". O grande ídolo (que acabou por decepcionar, diga-se de passagem). Na política as pessoas também têm essa necessidade, com Lula é assim, o salvador da pátria, com Bolsonaro, o “mito”. Esta é uma necessidade humana? Não sei se faz sentido, mas é uma dúvida que tenho.


            Sua percepção captou o quanto construímos ídolos, heróis, salvadores e mitos. Isso tem origem na nossa infância. Quando crianças pequenas nos sentimos muito vulneráveis frente à vida. Os adultos parecem ser muito fortes e invencíveis, têm respostas para tudo e parecem ser capazes de fazer tudo. Alguns adultos são colocados, pela imaginação da criança, como ainda mais fortes virando verdadeiros heróis. Daí que personalidades do mundo esportivo, capazes de quebrar recordes e assombrar a todos com suas habilidades, acabam virando ídolos.  Com o tempo vemos que adultos também vivem os seus problemas, medos e inseguranças e nos decepcionamos ao nos deparar que heróis como imaginávamos não existem. Contudo nem sempre abandonamos essa idealização.
            Pessoas de todas as idades, mas principalmente entre os adolescentes e jovens, criam fã-clubes de seus artistas favoritos e esportistas. As celebridades tornam-se figuras que vão ganhando toda uma “mitologia” que os distinguem dos meros seres humanos mortais. São endeusados assim como no passado os bebês endeusaram os pais e adultos. Porém deuses só poucos podem existir senão se tornaria muito comum. Por isso num time de 11 jogadores um ou, no máximo, alguns poucos são colocados no olimpo estratosférico. 
            É normal que os jovens criem seus ídolos, faz parte do desenvolvimento. O problema passa a ser quando adultos precisam criar ídolos. Espera-se que um adulto seja capaz de lidar com a vida com mais base no princípio da realidade, sem tantas fugas ilusórias e sem recorrer à idealização. Quando um adulto cria uma figura mítica ou salvadora é a parte infantil que está atuando. Ora, um adulto sendo dirigido pela parte infantil não tem mesmo como fazer boas escolhas nem pensar apropriadamente. Fica infantilizado e recorre facilmente a seus heróis como substitutos de seus papais e mamães.
            Hoje vemos na política esse movimento de infantilização. Seja o candidato que for, de qualquer partido, mas se ele for visto e apresentado como salvador da pátria, pai do povo, mito, herói na verdade está havendo uma idealização. E perigosa. A política não é lugar para crianças que torcem por seus heróis. Não se trata de torcer para algum candidato e vaiar o oponente, mas de avaliar sobre o que nós como um povo realmente precisamos. Não se trata de dizer “Meu candidato é mais forte que o seu”. Isso são brigas infantis.
            Olhar e avaliar os candidatos e as necessidades políticas com mais pé no chão requer abandonar a infância e as idealizações. Infelizmente nem todos desejam crescer (a grande maioria) ou são capazes de crescer e daí vemos hordas de eleitores/fãs se digladiando por seus “mitos e salvadores”. Um povo é resultado da mente de cada um de seus membros e vemos o quanto o Brasil precisa amadurecer urgentemente. Temos medo de crescer e nos responsabilizar pelas nossas vidas e por isso procuramos avidamente um herói que seja nosso “adulto” que cuide de nós.

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