sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Pergunta de Leitor - Palavrões e Xingamentos




Sou estudante de filosofia e gosto muito de observar as pessoas e seus comportamentos. Uma coisa que observo são os xingamentos. Se um homem quer xingar outro ele usa palavras como filho da puta, viado, broxa, etc. E quando quer xingar uma mulher usa palavras como puta, vadia, vagabunda, vaca. Por que na maior parte das vezes os xingamentos têm referências sexuais? O que isso quer dizer?

            Xingar é uma forma de expressar raiva e ódio e de tentar ferir o outro. Quando xingamos desejamos que o outro tenha a sua honra maculada bem como evidenciamos que o caráter do outro não deve ser levado a sério, muito pelo contrário, deve ser depreciado e ser motivo de zombarias. Em todas as línguas e em todos os povos xingar é comum e como você mesmo já observou tem conotações sexuais.
            Usar-se da orientação sexual ou da atividade sexual de alguém como base para um xingamento apenas mostra que somos muito reprimidos sexualmente. Apesar de que já foi pior a sexualidade é ainda um tabu e não é encarada como natural na vida. Quando se xinga alguém de “puta” está se dizendo que essa mulher é de caráter duvidoso por causa de sua atividade sexual e quando se chama um homem de “viado” está, supostamente, evidenciando que uma dada orientação sexual desmerece alguém.
            Referências sexuais em xingamentos são comuns também porque utiliza-se da vida sexual considerada errada para projetar no outro. Assim, a vida sexual que se considera pervertida pertence ao outro que consideramos o inimigo e  nunca a nós mesmos. A sexualidade não é vista, infelizmente, como algo bom, mas em muitos casos como arma, como recurso de ataque e desmoralização.
            Apenas quando a sexualidade for mais bem acolhida e aceita é que insultos desse tipo não encontrarão razão para existência. A revolução sexual iniciada a partir da década de 60 do século passado abriu muitas oportunidades para a sexualidade ser mais bem encarada, mas muito ainda ficou por ser feito. A verdadeira revolução sexual ainda está para ser realizada nas mentes das pessoas e na educação sentimental que todos recebem e que permitiria ver a sexualidade com outros olhos. Não havendo repressão não haverá mais combustível para insultos. A sexualidade, então, será natural e nela não se projetarão os desejos reprimidos com tanta violência cujo único resultado é apenas ódio. 

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