Quando uma criança, lá pelos seus 4 anos, pergunta aos
seus pais como nascem os bebês, está buscando a sua origem e mostrando
curiosidade sobre o funcionamento da vida e dos corpos. Essas indagações por
parte das crianças são importantes para que elas construam uma imagem de si
próprias mais realista. E agora, quando o filho é adotado e essas questões
surgem? Como devem ser respondidas? Como ficam os pais adotivos?
Não se deve esconder da criança que ele é adotada.
Ocultar isso seria ocultar a origem dessa criança e sua possibilidade de se
construir. No entanto, muitos pais têm dificuldades de lidar com esse assunto
porque este remete à suas dores particulares que não foram bem resolvidas.
Quando um casal fica impossibilitado de gerar filhos biológicos pode criar uma
mágoa. Seja devido à infertilidade ou qualquer outro impedimento o ideal de
família que muitas vezes alimentaram é destruído gerando sofrimento e
sentimento de perda. Muitos pais adotivos têm medo de sentirem essa perda novamente
quando seus filhos questionam sobre seus pais biológicos.
A ideia de que os filhos irão certamente procurar seus
pais biológicos não é verdadeira. Há muito mais uma curiosidade sobre a sua
história de vida do que qualquer outra coisa. Dúvidas sobre porque os pais o
abandonaram, sobre o que aconteceu ficarão presente, mas quando pais adotivos e
filhos adotados podem aceitar que isso faz parte de suas histórias e da
formação de suas famílias cria a possibilidade de todos se construírem como
pais e filhos numa base verdadeira. A verdade é sempre importante para todos,
mesmo que traga dor. Entretanto a mentira também traz dor e muito pior.
Pais não são quem apenas geram biologicamente uma
criança, mas todos aqueles que se dedicam ao exercício diário da parentalidade.
Podem ser biológicos ou adotivos, mas são aqueles que doam tempo, disposição,
afetos, carinho e recursos internos e externos para a criação de um lar e de
uma família. Quando os pais ficam angustiados e inseguros com o fato de terem
adotado seus filhos pode impedir de criar um espaço onde a criança se sinta à
vontade para perguntar e se deparar com sua história e aprender que família é
muito mais forte do que apenas semelhança entre os genes. Família é uma
construção e não uma verdade biológica.
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