Está todo mundo chocado com o tal do desafio da baleia
azul que está rondando os jovens através da internet. Nesse desafio os jovens
são instigados a completar determinadas “tarefas” para prosseguir para a
próxima etapa. Quem completa todos os desafios ganha “sucesso” e o “respeito”
dos colegas. O problema, contudo, é que os desafios são autodestrutivos e vão,
à medida que se passa de fase, tornando-se mais perigosos até chegar o desafio final
que é o suicídio. Como um jogo desses pode fazer tanto sucesso e constituir uma
ameaça que está dando o que falar?
Diga-se de passagem que desafios assim não são novidades.
Isso existe há séculos. A roleta russa, por exemplo, sempre foi um jogo perigoso
que ceifou a vida de muita gente. Até mesmo antes de existir armas de fogo
existiam jogos com espadas e facas que atentavam contra a vida e o bem estar.
Portanto, esses jogos não são novos, apenas mudam de forma e com a facilidade
da internet propaga-se com muito mais rapidez. O que assusta, porém, é o
aumento de número de jovens que estão se engajando nesses tipos de desafios.
Muitos perguntam-se por que jovens que têm condições de
vida boas, com bom nível sócio-enconômico e acesso a cultura arriscam suas
vidas em uma atividade autodestrutiva. O erro é olhar apenas as condições
externas das vidas desses jovens. Por fora parece que têm tudo e nada falta,
mas uma espiadela por dentro mostra um cenário diferente. A perspectiva com que
olhamos o problema pode mudar completamente todo o sentido dele. E eles estão
com falta de algo muito importante.
O que falta de fato na vida desses jovens são
relacionamentos humanos de qualidade. Existe uma família, pessoas que moram
juntas e é assim na maioria das casas, porém faltam elementos que unam essas
pessoas. Relacionamento de qualidade é raro. Enquanto isso não for visto e
transformado existirão cada vez mais desafios malucos.
Muita gente culpa os pais trabalharem tanto, que a
família acabou e que até o feminismo que põe as mulheres no mercado de trabalho
está destruindo valores. Bobagem! Não vamos voltar atrás no tempo e ficar
saudosos de coisas que também não funcionavam muito bem. A questão não são os
pais trabalharem e nem muita coisa na estrutura da família estar mudando
atualmente, mas a qualidade dos relacionamentos entre as pessoas. Não se trata
e nunca se tratou de quantidade de tempo e de manter tradição conservadora, mas
de qualidade nas formas de se lidar um com o outro.
O problema é a ausência de contato. Só nos tornamos
humanos quando nos relacionamos com os outros. Não nos tornamos humanos
sozinhos. Aprendemos a nos cuidar quando primeiramente somos cuidados.
Aprendemos a nos comunicar quando há gente que se comunica conosco. Sem contato
humano nos tornamos vulneráveis. Se não nos tornamos humanos teremos um corpo,
sensações, mas não saberemos como preservar esse corpo, não teremos construídos
uma identidade e ficaremos como bobos, pois não teremos consciência de nós
mesmos.
Quando há relacionamento de qualidade aprendemos a nos
preservar e a entender que temos uma responsabilidade por nós mesmos e por isso
não aceitaremos qualquer convite. Na ausência de relações que nos ajudam a
criar identidade só sobra mesmo a busca por sensações, mesmo que estas nos
coloquem em perigo. Apenas combater esses desafios não adiantará. É preciso um
passo além e mais profundo. Sem repensar como nos relacionamos conosco e com os
outros, sem desenvolver consciência, ficará aberto o ambiente para que loucuras
desse tipo surjam. Que tal o desafio de nos tornarmos humanos melhores? Esse
desafio vale a pena.
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