sexta-feira, 27 de junho de 2014

Pergunta de Leitora - Comprometer-se com a Vida


Há quatro anos meu filho morreu num acidente de carro. Ele tinha apenas 19 anos e era o centro da minha vida. Desde que ele era bem pequeno eu já estava separada e eu só tinha a ele. Agora não sei mais o que fazer da minha vida. Tenho 49 anos, mas sinto como se fosse bem mais velha. Sofro de síndrome do pânico e faço uso de remédios psiquiátricos. Me mudei para uma chácara afastada de todos e lá passo meu tempo lendo livros de auto-ajuda. Mas nada faz passar ou diminui a minha dor. Mesmo tendo um bom lugar para viver, tendo condições boas de vida nada me faz me sentir viva. Não sei mais o que fazer.

            A perda de um filho é algo terrível para a vida de uma mãe. E infelizmente é uma dor que sempre permanecerá, sendo que é praticamente impossível esquecer um fato tão trágico e doloroso. Mesmo assim, a sua vida continua e é preciso vivê-la o melhor que você puder. Dessa dor da perda você não se livrará, mas poderá se livrar desse estado em que se encontra.
            É um pouco duro o que vou lhe falar, mas a sua vida não deve girar apenas ao redor da memória do seu filho. Provavelmente você vivia muito através do seu filho. Até mesmo nas suas palavras ele era o centro da sua vida e depois de uma separação tão brusca e triste você sente que parte da sua personalidade foi perdida. O luto, nesse caso, é duplamente devastador, pois foi perdido o seu filho e grande parte da sua identidade.
            Você elegeu seu filho numa posição de suma importância na sua vida. Já era separada e sente que “só tinha a ele” na sua vida. Eventualmente, seu filho iria se separar de você para constituir a própria família ou simplesmente viver a própria vida. Lógico que essa seria uma separação mais aceitável e branda, mas perdas, por mais dolorosas que sejam, fazem parte da vida. Hoje você se encontra num estado interno lastimável, pois parece-lhe que nada de bom sobrou; e faz necessário juntar as partes despedaçadas para se integrar como uma pessoa inteira.
            Os livros de auto-ajuda não te ajudaram a se reconstruir ou se ajudaram foi muito pouco. Você se isola, talvez na esperança de que o tempo venha a curar sozinho o seu sofrimento. Entretanto, é melhor não deixar a sua cura apenas nas mãos do tempo e do acaso. Ao psiquiatra você já vai e segue o tratamento, mas porque não aliar ao tratamento medicamentoso o tratamento da psicoterapia? Ao poder falar sobre o seu sofrimento poderá se reestruturar de uma maneira que lhe integre e não te deixe tão fragmentada. Para a dor da perda não há remédio, mas para a dor de inviabilizar a própria vida há e se encontra a medida que você se decide a se ajudar. É preciso que você aprenda a se comprometer com sua vida e não só com sua dor.

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