Há
quatro anos meu filho morreu num acidente de carro. Ele tinha apenas 19 anos e
era o centro da minha vida. Desde que ele era bem pequeno eu já estava separada
e eu só tinha a ele. Agora não sei mais o que fazer da minha vida. Tenho 49
anos, mas sinto como se fosse bem mais velha. Sofro de síndrome do pânico e
faço uso de remédios psiquiátricos. Me mudei para uma chácara afastada de todos
e lá passo meu tempo lendo livros de auto-ajuda. Mas nada faz passar ou diminui
a minha dor. Mesmo tendo um bom lugar para viver, tendo condições boas de vida
nada me faz me sentir viva. Não sei mais o que fazer.
A perda de um filho é algo terrível para a vida de uma
mãe. E infelizmente é uma dor que sempre permanecerá, sendo que é praticamente
impossível esquecer um fato tão trágico e doloroso. Mesmo assim, a sua vida
continua e é preciso vivê-la o melhor que você puder. Dessa dor da perda você
não se livrará, mas poderá se livrar desse estado em que se encontra.
É um pouco duro o que vou lhe falar, mas a sua vida não
deve girar apenas ao redor da memória do seu filho. Provavelmente você vivia
muito através do seu filho. Até mesmo nas suas palavras ele era o centro da sua
vida e depois de uma separação tão brusca e triste você sente que parte da sua
personalidade foi perdida. O luto, nesse caso, é duplamente devastador, pois
foi perdido o seu filho e grande parte da sua identidade.
Você elegeu seu filho numa posição de suma importância na
sua vida. Já era separada e sente que “só
tinha a ele” na sua vida. Eventualmente, seu filho iria se separar de você
para constituir a própria família ou simplesmente viver a própria vida. Lógico
que essa seria uma separação mais aceitável e branda, mas perdas, por mais
dolorosas que sejam, fazem parte da vida. Hoje você se encontra num estado
interno lastimável, pois parece-lhe que nada de bom sobrou; e faz necessário
juntar as partes despedaçadas para se integrar como uma pessoa inteira.
Os livros de auto-ajuda não te ajudaram a se reconstruir
ou se ajudaram foi muito pouco. Você se isola, talvez na esperança de que o
tempo venha a curar sozinho o seu sofrimento. Entretanto, é melhor não deixar a
sua cura apenas nas mãos do tempo e do acaso. Ao psiquiatra você já vai e segue
o tratamento, mas porque não aliar ao tratamento medicamentoso o tratamento da
psicoterapia? Ao poder falar sobre o seu sofrimento poderá se reestruturar de
uma maneira que lhe integre e não te deixe tão fragmentada. Para a dor da perda
não há remédio, mas para a dor de inviabilizar a própria vida há e se encontra
a medida que você se decide a se ajudar. É preciso que você aprenda a se
comprometer com sua vida e não só com sua dor.
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