segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Imediatismo


            Circula na internet um quadrinho, cujo autor eu desconheço, onde aparece um gênio da lâmpada falando com um cachorro deitado de barriga para cima. O gênio informa o cachorro de que este só tem mais um desejo e pergunta se ele quer mesmo mais um carinho na barriga. Muito provavelmente já sabemos a resposta a essa pergunta. O cachorro responderá que sim. Com essa piada, bem bolada, aprendemos sobre a natureza da mente que se não trabalhada quer apenas o imediatismo.
            Tal como o cachorro desse quadrinho as crianças e muitos adultos se comportam dessa mesma maneira. Querem ter todos os seus desejos realizados rapidamente e com isso não conseguem “pensar” e assim construir uma vida mais estruturada. Freud, criador da psicanálise, observou algo que chamou de princípio do prazer que significa a pessoa não ter nenhuma tolerância a esperar pela não realização de um desejo agora para poder realizar algo bem melhor no futuro. No princípio do prazer os desejos são imperativos e quaisquer obstáculos são sentidos com grande frustração e ódio. Nesse estado não há espaço para o pensamento, apenas para a satisfação.
            O problema é que viver só desta forma nos torna muito primitivos. Porque quem não pensa não consegue fazer planos e quem não faz planos fica impossibilitado de construir algo de valor. A vida se torna empobrecida já que a única ciosa que conta é a satisfação do aqui e agora. O planejar, aguardar e ir construindo algo se torna intolerável e fonte de inúmeras frustrações. Buscar pelo imediatismo tão somente nos torna primitivos e para amadurecer é preciso transformar esse estado.
           O princípio da realidade que Freud também descreveu é o que transforma um estado primitivo de busca imediata por prazer em algo mais refinado e amadurecido. O princípio da realidade permite que exista um pensamento e pensar significa bem avaliar seus desejos e decidir se vale apena realizá-los e até mesmo como realizá-los. O sujeito, nesses casos, não fica mais preso ao império da satisfação, mas pode decidir o que lhe é melhor. Deixa de estar numa posição passiva (preso à satisfação do desejo) para adotar uma posição ativa (livre para escolher). Deixa o primitivismo e passa a ser humano. Uma pessoa assim saberia bem melhor lidar com a própria mente e poderia escolher bem mais proveitosamente quais desejos quer de fato realizar. Enfim, com o estabelecimento do princípio da realidade a pessoa passa a ser dona de si mesma.

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