Vejo,
com muito desgosto, que muitos profissionais da área psicológica têm um
compromisso maior com as teorias do que com os pacientes em si. Muitos se
apegam às teorias e dela não largam mais, como se a teoria fosse a coisa mais
importante e justificasse tudo. É claro que as diversas teorias existentes
possuem importância e cada profissional tem uma identificação com uma ou outra,
no entanto não são as teorias que fazem o trabalho clínico acontecer.
As
teorias servem para se pensar sobre os casos e para dar um contexto estrutural.
Porém, é a prática clínica que cria a teoria e não o contrário. Quando algum
profissional passa a usar a teoria que gosta para criar a sua prática clínica o
atendimento se torna superficial e não se importa com o que o paciente está
realmente comunicando. Nesses casos passa-se a valorizar apenas aquilo que o
paciente diz e que confirma a teoria e todo o resto corre o risco de ser jogado
de lado. A clínica verdadeira não funciona assim.
No
atendimento clínico o mais vital é saber escutar o paciente. É saber acolhê-lo
e ao conseguir escutar o que ele comunica devolver para ele o que ele disse de
uma outra forma que o ajude a pensar. Isso que é interpretar a fala do paciente,
essa que é a tão necessária disponibilidade de escuta no exercício clínico.
Basicamente é assim que trabalham todas as teorias, mas obviamente cada teoria
tem a sua escuta própria.
Se
criar a “escuta” para ouvir o paciente de modo que venha ajudá-lo é o objetivo
de todas as teorias é porque é o paciente que importa. Sendo assim é a teoria
que deve servir o psicoterapeuta e o paciente e não o psicoterapeuta e paciente
que precisam servir à teoria. Quem usa uma teoria como se ela se tratasse de uma
verdade única e inconteste é uma pessoa presa e quem está preso fica
indisponível para escutar o outro verdadeiramente. Infelizmente há muitos
profissionais que não entendem isso e causam um mal terrível quando atendem as
pessoas que os procuram por ajuda. Quem atende o outro tem uma responsabilidade
grande e deve aprender a ficar disponível. Só com a escuta disponível que o
trabalho clínico pode ter sucesso.
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