segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Qual Compromisso?



            Vejo, com muito desgosto, que muitos profissionais da área psicológica têm um compromisso maior com as teorias do que com os pacientes em si. Muitos se apegam às teorias e dela não largam mais, como se a teoria fosse a coisa mais importante e justificasse tudo. É claro que as diversas teorias existentes possuem importância e cada profissional tem uma identificação com uma ou outra, no entanto não são as teorias que fazem o trabalho clínico acontecer.
            As teorias servem para se pensar sobre os casos e para dar um contexto estrutural. Porém, é a prática clínica que cria a teoria e não o contrário. Quando algum profissional passa a usar a teoria que gosta para criar a sua prática clínica o atendimento se torna superficial e não se importa com o que o paciente está realmente comunicando. Nesses casos passa-se a valorizar apenas aquilo que o paciente diz e que confirma a teoria e todo o resto corre o risco de ser jogado de lado. A clínica verdadeira não funciona assim.
            No atendimento clínico o mais vital é saber escutar o paciente. É saber acolhê-lo e ao conseguir escutar o que ele comunica devolver para ele o que ele disse de uma outra forma que o ajude a pensar. Isso que é interpretar a fala do paciente, essa que é a tão necessária disponibilidade de escuta no exercício clínico. Basicamente é assim que trabalham todas as teorias, mas obviamente cada teoria tem a sua escuta própria.
            Se criar a “escuta” para ouvir o paciente de modo que venha ajudá-lo é o objetivo de todas as teorias é porque é o paciente que importa. Sendo assim é a teoria que deve servir o psicoterapeuta e o paciente e não o psicoterapeuta e paciente que precisam servir à teoria. Quem usa uma teoria como se ela se tratasse de uma verdade única e inconteste é uma pessoa presa e quem está preso fica indisponível para escutar o outro verdadeiramente. Infelizmente há muitos profissionais que não entendem isso e causam um mal terrível quando atendem as pessoas que os procuram por ajuda. Quem atende o outro tem uma responsabilidade grande e deve aprender a ficar disponível. Só com a escuta disponível que o trabalho clínico pode ter sucesso.

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