Recentemente
circulou na internet e nos jornais uma notícia de um padre irlandês que numa
conversa com pais de alunos de um colégio católico ao fazer uma apresentação de
slides trocou a pen drive e em vez de surgir no retroprojetor a apresentação
esperada, apareceu fotos pornográficas homossexuais. O padre, envergonhado,
abandonou a audiência sem dizer nada e é claro que causou uma comoção geral,
sendo esse assunto levado até ao Vaticano. Pensando nessa notícia acho que
podemos refletir sobre o inconsciente e sua influência nos atos das pessoas.
Uma
das grandes descobertas de Freud ao formular a psicanálise foi criar o conceito
de inconsciente. Podemos entender a mente, de forma grosseira, como tendo um
consciente, que é tudo aquilo que é de fácil acesso e conseguimos saber que
pensamos e é tudo aquilo que acreditamos que somos, e tendo um inconsciente,
que é cheio de conteúdos emotivos e geralmente reprimidos, esquecidos e
desconhecidos. É que muitas vezes não gostamos de nos dar conta que sentimos
determinadas coisas que julgamos erradas e feias ou que ás vezes não sabemos
como lidar e que traz muita angústia e com isso a “colocamos” no inconsciente
para que lá fique esquecida, mas fica apenas esquecida porém esses conteúdos
não são “jogados fora” para sempre. Ao estudar as patologias da mente Freud
percebeu que os sintomas, que são sempre desagradáveis, tinham como origem a
emoção que havia sido reprimida no inconsciente. Até mesmo nos chamados atos falhos, que é quando trocamos nomes
e fazemos coisas opostas do que conscientemente queríamos fazer, têm origem nos
conteúdos provenientes do inconsciente, ou seja, o inconsciente até pode ser
desconhecido, mas é bastante ativo nas nossas atitudes.
Sabendo
disso podemos entender que muitos dos nossos atos e falas vêm dessa parte de
nossa mente que tentamos trancar. No entanto, em algum momento aquilo que foi
reprimido pode retornar, em alguns casos sem querer, à nossa mente e revelar
algo. Esses momentos são reveladores bem como embaraçosos, principalmente
quando mostra algo de nossa identidade que desejaríamos que jamais fosse
conhecido, tanto por nós mesmos quanto pelos outros.
Podemos
levantar uma hipótese de que nessa historia do padre irlandês o que o fez
trocar a pen drive tenha sido um ato
falho. Lógico que não é possível afirmar com certeza de que tenha sido isso,
pois para tanto seria preciso analisar a historia dele com ele próprio, mas
mesmo assim dá para se pensar que dentro de si ele estava vivendo um conflito.
Obviamente ele tinha aquelas fotos pornográficas e as via, mas também devia
sentir muita culpa por fazer isso. De alguma maneira, em seu engano, ele pôde
se punir por seu desejo inconfessável e também revelar esse mesmo desejo. Pois é,
o inconsciente é todo paradoxo e não segue uma lógica racional. No seu ato
falho, podemos pensar que o padre alcançou tanto a punição como revelação por
sentir algo que deseja e detesta ao mesmo tempo. Fatos como esse mostram a
força do inconsciente e de que ele é algo, em nossa vida mental, que é inegável
e formador de quem realmente somos. Entender o inconsciente é colocar mais uma
peça no quebra-cabeça humano.
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