sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Pergunta de Leitora - Crescimento e sofrimento


Oi Sylvio
Tenho gostado de ler seus textos.
Minha questão é sobre a sua observação nos textos.
Será que o trabalho árduo não é ideologia?
Por que a evolução só poderia vir dessa forma e não simplesmente com o prazer?
O que amamos, fazemos intensamente sem questionarmos ou sentirmos o esforço.
Detesto a idéia de ter que sofrer pra crescer...

            Você detesta a idéia de ter que sofrer para crescer assim como todo mundo também não gosta disso. Não é uma idéia que em princípio seja muito motivadora. Ninguém gosta de sofrer e se pode evita o sofrimento a todo custo. No entanto, apenas evitar o sofrimento e se prender ao prazer é uma forma de negar a realidade da vida.
            Isso não quer dizer que precisamos buscar o sofrimento à toa. Ir atrás dele é masoquismo e não leva a nada. Mas não podemos fugir dele quando ele aparece e o sofrimento, uma hora ou outra, quer queiramos ou não, sempre aparece e se pudermos passar por ele e aprender só teremos a ganhar. Para crescer é preciso lidar com o sofrimento. O próprio ato de nascer já traz sofrimento para a mãe e o bebê.
         Em 1911 Freud escreveu um de seus artigos mais importantes: Formulações sobre os Dois Princípios do Funcionamento Mental que apresenta a idéia do princípio do prazer e do princípio da realidade. O principio do prazer se caracteriza pela atividade psíquica que deseja se livrar de qualquer coisa que causa desprazer.  Evita o sofrimento seja negando, alucinando, recalcando e etc. Já o princípio da realidade é aquele que permite ver que a vida não é como gostaríamos que fosse e que nem tudo podemos. Saber disso causa sofrimento já que acaba com nossa noção de um mundo idealizado. Porém, ao aceitarmos essa realidade há a chance de usar nossa mente para melhorar e construir um mundo melhor. Enfim, há a chance de evoluir.
            Peter Pan não queria crescer, desejava sempre permanecer num estado de prazer, pois não admitia o sofrimento inevitável que vem com o crescimento. É claro que se aprendemos a amar a vida, mesmo com todo o sofrimento que ela impõe, o fardo se torna bem menor de se carregar. Pode sim se tornar prazeroso e nos fazer dar vivas por estarmos vivos. 

3 comentários:

  1. Lembrei da estoria da borboleta, que precisa sofrer para romper o casulo, mas que esse "sofrimento" é o que permite que ela se desenvolva e possa finalmente voar.

    Muito bom o conteúdo!

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  2. Não gosto de Freud, mas bem que ele fez algumas coisas interessantes.

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  3. Se não me engano, Arthur Guyton, em um dos tratados de fisiologia mais respeitados até hj, atesta (com evidências científicas)que a estimulação das "áreas" cerebrais relacionadas a sentimentos "aversivos" como medo e punição, por exemplo, podem ter precedência sobre a estimulação das "áreas" relacionadas a sentimentos "agradáveis" como prazer e a recompensa.
    Ou seja, fisiologicamente teríamos uma tendência a "aprender" mais efetivamente através das dificuldades (dor, punição) que pela facilidade (amor, recompensa).
    Dureza, hein!

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