domingo, 19 de junho de 2011

Amor e Paixão


              Recentemente reli Os Maias de Eça de Queiroz. Me fez pensar bastante. A primeira vez que eu li era muito mais jovem e não tinha a cabeça que tenho agora. Com o tempo e as aprendizagens que se tem na vida nossos pensamentos mudam.  Relendo essa obra fiquei boquiaberto ao perceber quão fantástica é essa estória. Em minha opinião Eça de Queiroz se figura entre os grandes escritores do mundo.
            O enredo de Os Maias me fez refletir bastante sobre a diferença entre o amor e a paixão.  Muitas vezes esses dois sentimentos são confundidos como a mesma coisa, mas são de naturezas bem distintas. Enquanto a paixão é puro impulso e entrega o amor é bem mais inteligente e contido. É importante, contudo, que digo aqui daquela paixão avassaladora que nos domina completamente e nos tira o chão da realidade. Não me refiro àquela paixão que nos encanta e faz a vida valer a pena. A paixão que me refiro é aquela que cega e não mede conseqüências e que pode levar a tragédia.
            É justamente isso que acontece nessa obra portuguesa. A personagem Maria Monforte se entrega a todas a suas paixões e principalmente por causa delas muitas tragédias acontecem. Ela não levou em consideração que suas ações teriam uma repercussão tão funesta sobre as pessoas em sua volta. Ela simplesmente só quis saber de si e agiu como se não pudesse pensar.
            Penso que precisamos ter nossas paixões e trazer regalo à vida, mas tudo com consideração para sabermos se a entrega a essa paixão vale a pena. Enfim, é sermos verdadeiramente responsáveis pelo que fazemos. Se entregar apenas pela paixão em si é um gesto egoísta. É a mesma atitude que têm os radicais religiosos, políticos ou idealistas de qualquer matiz. Perde-se o respeito e a dignidade e nos leva a um caminho perigoso. Até porque a paixão avassaladora tem muito mais a ver com as ilusões do que com a realidade. Tem mais a ver com aquilo que imaginamos e nos apegamos em nossas mentes. Já o amor tem a ver com o cuidado e o bom pensar. Maria Monforte, de Eça de Queiroz, não amou e nem sabia o que era amar e por isso sofreu imensamente e levou filhos, familiares e amigos para o sofrimento. Um drogado, em certos aspectos, é tal qual um apaixonado. Não se desapega desse seu desejo pela droga mesmo que o leve para o fundo do poço.
            Quão diferente que é o amor verdadeiro. Esse raramente faz besteiras, pois põe a vida e a dignidade em primeiro lugar. Por ser tão mais inteligente não leva à tragédia. Por ser tão mais cuidadoso leva o bem estar do outro a serio. Lembrei-me agora do final do romance O Fantasma da Ópera de Gaston Leroux para representar o amor. O fantasma quase se entregou à paixão e com isso quase trouxe destruição à sua amada e ao seu rival, mas instantes antes disso acontecer ele pensou no bem estar físico e mental de sua amada e pôde renunciar a sua paixão mesmo que isso lhe causasse imensa dor. No fim o amor venceu e o tornou muito mais sábio e um ser humano melhor. Não era mais um fantasma.

3 comentários:

  1. Gostei muito deste texto!

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  2. Refletir sobre a paixao e o amor, me fez refletir a respeito da propria existencia. O quanto nos apaixonamos e erramos durante a vida. Ja o amor, sentimento que subjetiva, que modifica, que acrescenta e transforma; e uma dadiva.

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  3. Gosto muito de ler e o seu comentário me entusiasmou a ler a obra. Obrigada,
    M.

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