domingo, 19 de março de 2023

Sentando com as próprias emoções

 

                                        Silêncio - Henry Fuselli (1799)

Como conhecemos uma pessoa de fato? Estando com ela o maior tempo possível. Assim, podemos observar quem de fato a outra pessoa é. Saberemos como reage, como lida com as situações, como se relaciona e etc. Não conhecemos alguém baseado apenas em fugazes observações ou no que falam sobre ela nem no que ela posta nas redes sociais. É preciso mais, uma experiência própria e direta para sabermos sobre o outro. Com nossas emoções não é diferente e para sabermos sobre elas é preciso que entremos e permaneçamos em contato com elas. 

Numa sessão de análise, por exemplo, é comum haver em algum momento períodos de silêncio. Muitos pacientes sentem isso como algo incômodo e constrangedor e querem preencher esse silêncio com qualquer coisa. Por não suportarem esse silêncio falam as mais variadas banalidades com o intuito de preencher o silêncio. Isso ocorre porque nesse silêncio o paciente pode começar a se dar conta de suas próprias emoções e sentimentos, bem como de suas fantasias, desejos, medos e angústias. A maioria das pessoas procura evitar o contato com o que vem de dentro delas mesmas. 

Fugimos ou arremessamos nossos conteúdos mentais o mais longe possível e perdemos uma chance importante de nos conhecermos mais. Estar presente ou se ‘sentar’ com algo nosso que é desconhecido pode fazer com que fiquemos incomodados, mas é a melhor maneira de estabelecermos contato com partes nossas. Afinal, um dos objetivos da análise é conhecer aquilo que desconhecemos em nós mesmos e na maior parte das vezes desconhecemos nossas emoções, apesar de que achamos que as conhecemos. Falar teoricamente sobre emoções é fácil, mas vivenciá-las e lidar com elas é bem diferente.

O psicanalista nesses momentos tem um papel muito importante e ativo. Ele ‘apresenta’ o que vai surgindo do mundo mental do paciente para o próprio paciente. Em outras palavras, o psicanalista faz as devidas apresentações entre quem o paciente é de fato para quem ele pensa que é. Essas apresentações podem gerar muitas angústias e geralmente são momentos fundamentais numa análise e carregado de emoções e afetos. Para vivenciar isso tudo, contudo, é necessário suportar esse contato com o desconhecido e não simplesmente jogar longe o que sentimos. 

Não conseguimos jogar partes nossas fora, mas podemos travar contato íntimo com elas e nos beneficiar imensamente disso. Quem nunca teve uma experiência onde encontrou-se com alguém e não foi, inicialmente, com a cara da pessoa? Achou que a outra pessoa era muito estranha ou alguém sem atrativos algum, mas após algum tempo convivendo com a pessoa em questão acabou por ver que a outra pessoa era bem interessante e por fim tornaram-se grandes companheiros e em alguns casos até mesmo grandes amigos? O mesmo pode ocorrer com os conteúdos de nossa mente que sentimos.

É uma escolha o que fazemos com o que sentimos. Podemos nos afastar rapidamente sem nenhuma consideração e perdemos uma oportunidade ou podemos aprender a tolerar e conhecer o que não era conhecido e ampliarmos nossos horizontes.  


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