Quando procuramos uma análise, psicoterapia ou um psiquiatra o que mais buscamos, desesperadamente, é acabar com a dor que sentimos. Essa dor não se trata de uma dor que é encontrada num exame laboratorial ou raio x, mas trata-se de um sofrimento diferente. Muitos até chamam essa dor de dor da alma porque ela não fica localizada propriamente no corpo orgânico, mas em todo o ser da pessoa. Podemos chamá-la também de dor mental, transtornos psíquicos e etc. Enfim, quem sofre com isso quer se ver livre desse sofrimento o mais rápido possível.
Essa dor se for bem ‘tratada’, ou seja, compreendida e examinada pode nos favorecer mudanças importantes na maneira que estamos levando a vida. A maioria dos nossos sofrimentos vêm de como nos conduzimos na vida, geralmente de uma forma que não nos é favorável e saudável. Nós mesmos criamos esses sofrimentos mesmo sem querer e sem perceber. Quando a dor surge queremos nos livrar dela, mas isso não acontece magicamente, porém vem como resultado de todo um processo que consiste num entendimento mais apurado do que criamos para nós mesmos e do quanto precisamos mudar.
A cura entendida pela psicanálise não é algo como uma pílula milagrosa que tomamos ou uma técnica que empregamos que faz o trabalho por nós e nos tira a dor e sofrimento, contudo algo bem mais complexo e que demanda do próprio analisando uma participação ativa. O paciente ou analisando nunca é passivo, mas participativo em seu processo de cura.
O significado da palavra cura, que vem do latim, é cuidar. Quando alguém é curado podemos dizer que esse alguém é cuidado. Um curador, por exemplo, é um cuidador. Numa análise o analisando tem a chance importantíssima de aprender a se cuidar devidamente. Quando entramos em enrascadas, quando continuamos a tropeçar nos mesmos erros ao longo da vida, quando sofremos além da conta é que não estamos nos cuidando bem. Daí que adoecemos.
O psicanalista cuida de seu analisando, só que não passando a mão na cabeça ou incentivando isso ou aquilo ou até mesmo consolando. Uma sessão de análise não é lugar para consolo, mas lugar de trabalho duro. Não que não haja empatia ou acolhimento do sofrimento, porém é lugar de aprender a se cuidar, talvez, como nunca foi cuidado na vida. É uma oportunidade de ouro para aprendermos a nos tratar mais humanamente.
Por isso mesmo é imprudente querer se livrar da dor que se sente de maneira rápida e urgente. Quando, no desespero, procuramos jogar fora a angústia que sentimos perdemos uma chance extraordinária de aprender a nos cuidar de uma maneira mais eficiente. Lembro-me do título do livro de Rubem Alves ‘Ostra feliz não faz pérolas’. Neste livro, de uma forma cativante, vemos o quanto aquela dor da ostra quando cuidada e não jogada simplesmente fora torna-se algo muito precioso virando uma pérola.
Cabe a cada um de nós decidir que direção dar para os nossos sofrimentos. Podemos nos afundar neles, ficar tão envolvido com eles que até nos tornamos nossas dores ou podemos aprender a cuidar deles, transformando-os em algo que nos enriqueça.