domingo, 26 de fevereiro de 2023

O que você faz com sua dor?

 



Quando procuramos uma análise, psicoterapia ou um psiquiatra o que mais buscamos, desesperadamente, é acabar com a dor que sentimos. Essa dor não se trata de uma dor que é encontrada num exame laboratorial ou raio x, mas trata-se de um sofrimento diferente. Muitos até chamam essa dor de dor da alma porque ela não fica localizada propriamente no corpo orgânico, mas em todo o ser da pessoa. Podemos chamá-la também de dor mental, transtornos psíquicos e etc. Enfim, quem sofre com isso quer se ver livre desse sofrimento o mais rápido possível.


Essa dor se for bem ‘tratada’, ou seja, compreendida e examinada pode nos favorecer mudanças importantes na maneira que estamos levando a vida. A maioria dos nossos sofrimentos vêm de como nos conduzimos na vida, geralmente de uma forma que não nos é favorável e saudável. Nós mesmos criamos esses sofrimentos mesmo sem querer e sem perceber. Quando a dor surge queremos nos livrar dela, mas isso não acontece magicamente, porém vem como resultado de todo um processo que consiste num entendimento mais apurado do que criamos para nós mesmos e do quanto precisamos mudar.


A cura entendida pela psicanálise não é algo como uma pílula milagrosa que tomamos ou uma técnica que empregamos que faz o trabalho por nós e nos tira a dor e sofrimento, contudo algo bem mais complexo e que demanda do próprio analisando uma participação ativa. O paciente ou analisando nunca é passivo, mas participativo em seu processo de cura.


O significado da palavra cura, que vem do latim, é cuidar. Quando alguém é curado podemos dizer que esse alguém é cuidado. Um curador, por exemplo, é um cuidador. Numa análise o analisando tem a chance importantíssima de aprender a se cuidar devidamente. Quando entramos em enrascadas, quando continuamos a tropeçar nos mesmos erros ao longo da vida, quando sofremos além da conta é que não estamos nos cuidando bem. Daí que adoecemos. 


O psicanalista cuida de seu analisando, só que não passando a mão na cabeça ou incentivando isso ou aquilo ou até mesmo consolando. Uma sessão de análise não é lugar para consolo, mas lugar de trabalho duro. Não que não haja empatia ou acolhimento do sofrimento, porém é lugar de aprender a se cuidar, talvez, como nunca foi cuidado na vida. É uma oportunidade de ouro para aprendermos a nos tratar mais humanamente.


Por isso mesmo é imprudente querer se livrar da dor que se sente de maneira rápida e urgente. Quando, no desespero, procuramos jogar fora a angústia que sentimos perdemos uma chance extraordinária de aprender a nos cuidar de uma maneira mais eficiente. Lembro-me do título do livro de Rubem Alves ‘Ostra feliz não faz pérolas’. Neste livro, de uma forma cativante, vemos o quanto aquela dor da ostra quando cuidada e não jogada simplesmente fora torna-se algo muito precioso virando uma pérola. 



Cabe a cada um de nós decidir que direção dar para os nossos sofrimentos. Podemos nos afundar neles, ficar tão envolvido com eles que até nos tornamos nossas dores ou podemos aprender a cuidar deles, transformando-os em algo que nos enriqueça.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

Uma observação e uma reflexão para 2023

 

O ano de 2023 está ainda em seu começo e vale uma importante observação e reflexão. A observação se refere ao fato de que somos bombardeados cotidianamente com notícias as mais aterrorizadoras e desanimadoras possíveis. Nos noticiários não há trégua, é notícia ruim atrás de notícia ruim e se fossemos nos fiar apenas por isso o mundo estaria cheio somente dos piores tipos de pessoas, más e inescrupulosas. Aliás, há muitas pessoas que vivem baseando-se unicamente nos noticiários e desenvolvem uma perspectiva sombria da vida, desalentadora e deprimente.

Com certeza o mundo está repleto de pessoas ruins e má intencionadas. Isso não deixa de ser verdade, infelizmente. Porém, não é toda a verdade, apenas uma parte dela. A verdade mesmo é que a maioria das pessoas são boas ou tentam, dentro do possível para elas, ser boas. Caso contrário o mundo já teria se destruído. Sim, a destruição do mundo pelas nossas mãos não é algo da ficção cientifica. Isso pode vir acontecer, mas ainda não aconteceu, é preciso perceber isso.

Não desejo aqui dourar a pílula e mostrar um mundo cor de rosa. Até porque isso não seria verdade e o mundo está lotado de pessoas ruins, corruptas, querendo tirar vantagem de tudo e de todos, criando injustiças e prejuízos. Há misérias de todos os tipos pelo mundo, violências, guerras as mais bestas, atos os mais estúpidos, mas também no meio e junto a tudo isso há pessoas buscando o bem, fazendo das tripas o coração, como diz o ditado popular e isso tudo é importante observarmos.

É imprescindível notarmos que há mais pessoas em busca de fazer o bem do que o mal, que ajudam o outro, que vão atrás de justiça e que buscam criar ao seu redor um ambiente mais agradável. São atos de generosidade que ocorrem todos os dias, pequenos, mas extremamente poderosos e necessários. Isso torna o mundo mais tolerável e causa um impacto positivo indispensável. Infelizmente nos noticiários os maus atos ganham mais notoriedade, as pessoas desonestas ficam mais evidentes e recebem até mais “audiência”. Algumas dessas pessoas acabam até sendo admiradas e copiadas mundo afora e num olhar mais desatento parece que só existe esse tipo de gente. Contudo, ali, entre seus vizinhos pode muita coisa boa estar acontecendo só que não é notado, não é noticiado.

A reflexão que também convido sobre isso é compreender que somos nós que criamos o mundo e a pergunta que se faz necessária é que mundo você quer criar? Que tipo de ambiente a sua volta você quer construir? Que tipo de relações interpessoais você quer desenvolver? Todas essas coisas não são coisas que simplesmente acontecem, mas que são diariamente confeccionadas pelas nossas atitudes. Não precisamos fazer nada grandioso, não necessitamos realizar grandes obras para contribuir no mundo, apenas precisamos seguir o básico de respeitar o próximo, tratá-lo com dignidade e quando isso for muito difícil ao menos não atrapalha-lo nem prejudica-lo. Simplesmente fazer a nossa parte para que o mundo fique com mais pessoas boas que ruins. Será que vale essa reflexão?