A astrofísica usa, entre outras formas, para mensurar a distância entre corpos celestes o conceito de ano-luz. Então, se uma estrela estiver três mil anos-luz de nós isso significa que sua luz leva três mil anos para chegar até aqui. Se nós olharmos para a luz dessa estrela estaremos vendo como essa estrela era três mil anos atrás e não a vemos como ela é agora. Portanto, olhar para o céu é como ver o passado do universo e não como ele é exatamente agora.
Usando esse mesmo modelo da astrofísica podemos, ao olhar para uma pessoa, para como ela vive, ver como era o seu passado e como este interfere na sua vida atual. O passado nos deixa marcas, molda muita coisa em nós, mas é importante entender que apesar do passado ter grande influência em quem somos agora, ele não nos define.
Infelizmente, muita gente acredita que é escrava do passado e foca sempre nesse passado em detrimento das condições atualmente presentes. Às vezes ao longo da nossa vida, o presente se mostra bem diferente, bem distinto do que já foi, mas tudo o que é conseguido ser visto é o passado e não o presente. Nesses casos a ‘luz’ que é notada tem origem anos-luz atrás na história de vida de alguém.
Quando isso ocorre muitas pessoas vivem coisas que não mais existem como por exemplo dores e situações que hoje já não mais acontecem, mas que dentro das pessoas estão sempre sendo reeditadas, sempre acontecendo de novo. Algumas estrelas que vemos no céu hoje, por exemplo, já deixaram de existir há muito tempo, mas sua luz que leva um tempo considerável para chegar aqui nos mostram como elas eram a milhares de anos atrás. Pode ser que estejamos vendo estrelas que no atual momento não estão mais lá, mas temos a impressão que ela estão lá agora, só porque vemos a sua luz ‘atrasada’.
Com nossa vida mental o mesmo fenômeno pode acontecer. É notável o número de pessoas que sofrem por coisas que não mais ocorrem em suas vidas, a não ser dentro de suas próprias mentes. Olhando para muitos dos sintomas hoje podemos ter uma ideia de como era o ‘universo’ da pessoa tempos atrás. Entender o passado é importante, não porque resolvemos o passado, já que isso seria impossível, mas porque temos a chance de abrir mão do passado para viver o aqui e agora.
Estar em análise levará, em muitos momentos, nos fazer voltar e reviver o passado, mas não no intuito de ficar envolvido com ele, de procurar as razões e culpas lá atrás, porém é uma forma de elaborar o que passou para não se repetir mais. Se não prestamos atenção podemos estar frequentemente repetindo o passado, ele passa a ser a única coisa que conseguimos ver. Viver assim é muito limitador e custoso.
Na astrofísica não há, pelo menos ainda, um meio de saber o que está acontecendo agora numa estrela localizada a milhares de anos-luz, mas na nossa mente há meios de podermos perceber como está o nosso presente e até mesmo de escolher como queremos viver esse presente. Tudo dentro das nossas possibilidade, é claro. Não precisamos ficar aprisionados no que o passado nos mostra, contudo podemos viver algo novo e muito mais favorável a despeito do passado.