segunda-feira, 12 de setembro de 2022

Saúde mental falada e saúde mental vivida

 



Desde a chegada da pandemia em 2020 nunca se falou tanto sobre saúde mental. Pelo fato de muitas pessoas terem ficado mais ansiosas, deprimidas e por muitos outros mal-estares como consequência do isolamento e do medo que foi imposto pelo clima de terror a procura pela saúde mental foi alta. Na mídia mesmo a saúde mental estava frequentemente presente e continua até hoje. Ao contrário de antes, quando se havia certa vergonha e impedimentos de se falar sobre saúde mental, agora ela é conversa que domina os diálogos corriqueiros entre as pessoas.

Antes da pandemia não se falava tanto assim. Algumas pessoas ficavam encabuladas de admitir que faziam algum tratamento visando a melhora ou a mitigação dos sofrimentos mentais. A mídia também não colocava esse assunto em pauta com tanta frequência, mas as coisas mudaram. Compreender que saúde mental é uma necessidade fundamental que interfere nas nossas vidas profissionais, familiares e sociais é atualmente de conhecimento geral.

Ficou até mesmo ‘chique’ as pessoas falarem que fazem análise, psicoterapia, tomam remédios psiquiátricos, etc. É até esperado que as pessoas debatam sobre o mundo ‘psi’. Só que, infelizmente, esse assunto está presente mais na boca do que no coração das pessoas. Ou seja, está mais nos discursos do que numa real dimensão da experiência. Discursos podem ser lindos, mas só viver verdadeiramente a experiência que realmente transforma.

Aliás, no início da pandemia muito se falava que a humanidade como um todo ia mudar, que a política ia ser mais humana, que os relacionamentos interpessoais seriam modificados para melhor, tudo porque a pandemia teria como consequência buscarmos mais a saúde mental. No entanto, as pessoas, a política e os relacionamentos mudaram muito pouco. Alguns nem mesmo mudaram.

Isso ocorre porque ao mesmo tempo que se fala sobre saúde mental como nunca antes, o número de pessoas que realmente se engajam com seus tratamentos é pequeno. Em outras palavras: a procura por tratamentos ‘psis’ é ampla, mas a permanência nesses mesmos tratamentos é passageira. Sendo curto, esses tratamentos não têm como ser eficazes. No mundo ‘psi’ todo tratamento é um processo que demanda tempo, tolerância e dedicação. E uma boa dose de coragem também.

Uma análise, por exemplo, requer que a pessoa tenha coragem de se deparar consigo mesma, com suas angústias e tenha paciência para esse processo. Precisa também tolerância às frustrações e que aprenda em se responsabilizar pela própria vida ao invés de muitas vezes sentir que é vítima de tudo e de todos. Como pode ver não é mesmo algo que se dá rapidamente, mas implica em todo um envolvimento com o próprio processo que vai se desdobrando ao longo de uma análise. São poucos os que ‘aceitam’ isso. Grande parte das pessoas querem uma mágica, algo que as livre delas mesmas. Nenhum tratamento pode curar alguém de ser a si mesmo.

Remédios psiquiátricos precisam ser ajustados ou trocados conforme o tratamento avança e não são uma operação matemática onde dois mais dois é sempre igual a quatro. Mais uma vez requer paciência e tempo. Não existe mágica nem atalho quando nos referimos à nossa saúde mental. Só há trabalho e muito.

Portanto, apesar de haver tanta conversa sobre saúde mental há pouco comprometimento de fato. Enquanto isso não mudar, não evoluir para o próximo passo, as coisas em nossas vidas e no mundo permanecerão sendo as mesmas.


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