Toda pessoa tem o potencial de ser feliz. Se
vai desenvolver ou poder desenvolver esse potencial é outra história. No
entanto, a felicidade é algo almejado e muitos a procuram com desespero fazendo
com que a felicidade se torne quase que como uma caça ao tesouro, ou seja, como
se pudéssemos encontra-la ali ou em algum outro lugar onde ela esteja escondida.
No imaginário, os piratas de antigamente escondiam os seus tesouros em ilhas
desertas e faziam mapas que eram roubados e passavam de mãos em mãos até alguém
voltar a tal ilha e encontrar onde o “x” marcava para daí levar o ouro.
Felicidade não se trata disso e sua procura pode ser um peso na vida.
Quase
todo ano escrevo ou falo sobre o tema da felicidade. Não só eu, mas muitos
outros profissionais da saúde mental discorrem ou voltam a esse assunto de
tanto que ele se faz importante. Todo mundo quer ser feliz. Não há ninguém que
não queira, porém a felicidade apesar de ser tão desejada é muito mal
compreendida e quando não compreendemos bem o que desejamos vamos terminar
sofrendo porque vamos procurar de maneira equivocada. E quanto mais
equivocadamente procuramos algo mais não vamos encontrar e mais vamos sentir
que estamos fracassando.
Hoje
em dia a busca pela felicidade se tornou uma verdadeira maldição na vida das
pessoas. Não apenas de pessoas, mas de muitas empresas também, já que num
artigo recente da revista Você RH da
editora Abril mostrou o quanto muitas empresas buscavam “trazer” uma felicidade
aos seus funcionários que resultava no oposto: eles ficavam mais ansiosos e
menos felizes. Em muitas empresas colocavam-se salões de jogos, festas e demais
alternativas com o objetivo de que seus colaboradores ficassem felizes, mas
quanto mais procuramos a felicidade menos a encontramos e mais a buscamos
aflitivamente e isso tudo cria um ciclo sem fim e desesperador.
Felicidade
não se trata de mercadoria que pode ser comprada ou encontrada por aí. Não é
caça ao tesouro como disse acima, mas de algo subjetivo, portanto imaterial e
não depende tanto dos detalhes externos e concretos da vida, mas do quanto
somos capazes de cuidar de nós mesmos e de lidar com a vida. Obviamente, que um
ambiente ao redor miserável e com faltas de coisas básicas para a vida impede
mesmo a felicidade. No meio da guerra, da privação dos direitos, da fome e
constante violência a felicidade vai ser apenas utopia, só que quando as
necessidades básicas são atendidas a felicidade se torna uma questão do quanto
nos cuidamos verdadeiramente.
Ser
feliz não se baseia em ter-se tudo materialmente ou estar a todo instante
gratificando os desejos ou levar uma vida sem sofrimento. Se a felicidade é
entendida assim nunca mesmo vai ser possível ser feliz e vamos a toda hora
atrás de algo que não tem como existir. A felicidade depende de nossa
habilidade de tolerar até mesmo as adversidades da vida e aproveitar tudo o que
for possível. Só pode ser feliz quem se permite abrir mão da vida perfeita e
idealizada. Quem abre mão do tesouro (idealização) fica livre para apreciar o
que está disponível de forma mais fluída. Se não corrermos desesperadamente
atrás da felicidade ficamos disponíveis para desfrutar a vida como ela é com
todas as suas dificuldades, mas também com todas as suas maravilhas. Em outras
palavras, felicidade tem mais a ver com as condições internas que desenvolvemos
do que com o que recebemos externamente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário