Fala-se muito, atualmente, sobre ecologia,
proteger o meio-ambiente, efeitos climáticos, mas é curioso notar que todos
esses temas são falados como se se tratasse de algo externo, algo lá fora, mas
na verdade somos parte disso tudo. Não devemos cuidar da natureza apenas porque
ela é boa e que dependemos dela, porém a verdade é que somos parte da natureza,
ou seja, somos mais uma engrenagem dentro de tanta complexidade que é a
natureza. Cuidar dela, do meio-ambiente, etc., é cuidar de nós mesmos. Todavia,
isso não é sentido assim.
Há
inúmeras coisas que a gente sabe, mas que não percebemos. Há uma diferença.
Sabemos que somos parte da natureza, mas não quer dizer que necessariamente
percebemos isso. Veja uma exemplo bem simples: pergunte a qualquer fumante se
ele sabe que o hábito de fumar faz mal a sua saúde. Ele prontamente e sem
titubear responderá que sabe, sim, que fumar é prejudicial, mas mesmo assim ele
fuma. Por que? Porque o que sabemos nem sempre coincide com o que percebemos.
Caso o sujeito fumante em questão realmente percebesse os danos e os ricos de
fumar, ele pararia.
Sabemos
muitas coisas nesse mundo, só que a grande maior parte do que sabemos não
implica que obrigatoriamente nos damos conta. Dar-se conta de algo envolve toda
nossa consciência enquanto saber algo requer apenas a intelectualidade, o
pensamento lógico-racional. E ao contrário do que muitos acreditam o ser humano
não é um animal tão racional assim. Até temos racionalidade e podemos
desenvolver grande pensamentos lógicos, mas de fato agimos muito pouco racionalmente
quando vivemos.
Quando
nossa consciência está envolvida a gente consegue pensar com muito mais clareza
e não ficamos tão submetidos aos nossos mecanismos de defesa. Em outras
palavras, ficamos mais livres para realmente ver as coisas, travar contato com
a realidade e não procuramos tapar o sol com a peneira. No entanto, quando é
tão somente nossa intelectualidade que está envolvida na matriz de nossas
atitudes ficamos cheio de arrogância, cheio de defesas que nos impossibilitam
ter contato com a realidade e ver de verdade. Acabamos dividindo tudo o que
experimentamos: “é a natureza lá fora, é o meio-ambiente e não mais nós
mesmos”. Cria-se uma desconexão entre o que sabemos e o que somos capazes de
perceber.
Uma
coisa que venho cada vez mais notando tanto no caminhar da vida quanto no meu
trabalho clínico é que é apenas quando alguém percebe a si mesmo e o que vem
fazendo consigo é que torna-se capaz de realmente mudar, de transformar como
vem vivendo. Ao dar-se conta de que o que faz consigo está levando à
sofrimentos desnecessários uma pessoa decide comprometer-se efetivamente com
uma transformação. Quem permanece unicamente no terreno da intelectualidade vai
saber toneladas de ideias, mas vai se sentir separado do que sabe e com certeza
esperará que as mudanças sejam feitas lá fora, pelos outros. Ela mesma nada tem
a ver com isso. Se insistirmos achar que a natureza está lá e nós aqui corremos
sérios riscos.