O ano de 2021 chega perto do fim e o de 2022 aproxima-se do começo. Em si, trata-se apenas de uma mudança artificial criada pelos humanos para mudar o calendário e significar o tempo. Os anos letivos, a organização e planejamento das empresas, as temporadas dos programas de televisão, as eleições, são todos regulados pela passagem dos anos. Na natureza não existe mudanças na folha do calendário, mas o que existe são as estações do ano chegando e indo, mostrando que mais um ciclo termina e começa. Todavia, nossas vidas, do nascimento à morte, são medidas em anos e por isso contamos a nossa idade. O ano mede a duração de tempo que vivemos e quanto ainda podemos viver.
Entretanto, possuir muitos anos de vida não significa, realmente, que se viveu de fato. Há uma diferença gritante entre viver e acumular idade. Há pessoas que existem há dezenas de anos, mas ainda estão à espera de viver a vida e há outras que não duraram muitos anos, mas que viveram em intensidade e profundidade tudo o que podiam. Alguns se assustam com a idade que têm e se perguntam aonde foram parar todos os anos que já se passaram. Sentem-se roubados, como se a vida tomasse o tempo e o fizesse passar muito depressa. Podemos, porém, pensar que a vida não roubou tempo, mas que ele não foi devidamente aproveitado.
No fim do ano são muitas as pessoas que se questionam sobre o que conseguiram, sobre o que acumularam e conquistaram. Sobre se arrumaram um namorado ou namorada, se compraram aquela casa espetacular, se adquiriram o último modelo de celular, etc. Nas festas de fim de ano as comparações com os demais familiares e amigos são cruéis. Cada um avaliando como foi o ano do outro e o quanto o outro, aparentemente, se deu melhor. Até a felicidade do outro é quantificada e nos sentimos fracassados quando achamos que alguém foi muito mais feliz que nós.
São poucas as pessoas, no entanto, que se indagam sobre a qualidade das experiências e relacionamentos que puderam usufruir ao longo do ano. Se a passagem do ano pudesse ser um ponto a partir de onde refletíssemos sobre o que vivemos de fato, as festas de fim de ano seriam muito agradáveis e não tão cheias de dissabores e dores. Quando a gente pode olhar com gratidão para o que viveu ficamos abertos ao que ainda podemos viver, ao que o desconhecido ainda pode trazer e nos surpreender. Agora, se medimos a mudança no calendário baseado no que acumulamos, ficamos apenas atentos ao que não temos, ao que nos falta, e isso empobrece a vida.
Escolher como vamos viver a passagem de mais um ano é fundamental. Mas escolher requer consciência. Quem escolhe mal é porque está inconsciente dos valores da vida. Coloca os valores em lugares equivocados e espera encontrar neles o que eles não podem jamais oferecer. Assim muita gente vive, ou melhor, sobrevive. Sobreviver não é o mesmo que viver e confundir um com o outro é reduzir muito as possibilidades que temos.
Obviamente que há adversidades nessa vida, dores que nos machucam severamente, mas mesmo com todos esses percalços, o que ainda podemos desfrutar? O que podemos viver? Afinal, quem disse que a vida só vale a pena se não houver dificuldade e sofrimento nela? Como se isso fosse possível!
Que o ano que se aproxima venha a ser usado para criarmos uma consciência de como melhor viver, de como sermos mais eficientes em nossos acordos ao longo da vida. Sempre teremos que fazer acordos com nossas dores, angústias e adversidades que impedem de melhor apreciarmos a vida, mas a forma que fazemos esses acordos pode fazer com que paguemos muito alto ou um preço justo. Que a melhor resolução para 2022 seja vivermos verdadeiramente melhor.
Um feliz ano novo!