Imagine

        A música Imagine, de John Lennon, é daquelas que faz história. Quase todo o mundo já a ouviu e quando pensamos em um mundo melhor, com menos violência, mais justiça, menos divisões e mais humanidade, ela normalmente vem à cabeça. Essa música tornou-se até trilha sonora para indicar que podemos sonhar com um mundo sem fronteiras, sem países, sem religiões, sem razões para matar ou morrer, sem cobiça. Um mundo onde o céu acima de nós seja justo para todos e onde as pessoas ao redor do mundo compartilhem a paz. É realmente lindo.

        Porém, fica a pergunta. Seria possível isso? Ou trata-se de algo muito utópico para se imaginar? Na música John Lennon diz que podem até chamá-lo de sonhador, mas que ele não é o único e que espera que quem a ouça possa se juntar e sonhar junto um mundo melhor. Não devemos mesmo jamais deixar de sonhar e alguns sonhos são importantes demais para não ser sonhados. Sonhos, entretanto, precisam ter base na realidade, senão passam a ser apenas ilusões e, no momento atual, esse sonho exposto na música parece estar bem longe de se realizar.

        Toda jornada, como já diz um antigo ditado, começa com um primeiro passo. Antes de se chegar ao destino é preciso caminhar. Sem esse primeiro passo, que leva ao segundo, que leva ao terceiro, e assim os passos vão se juntando até chegar ao destino, não há caminhada. Lennon escreveu essa notável canção em inglês e nessa língua há uma expressão que diz: First things first. Significa que devemos fazer as coisas mais importantes primeiro. Assim também devem ser os sonhos.

        Antes de se pensar num mundo melhor, sem fronteiras, sem céu nem inferno, devemos construir isso dentro de nós. De nada adianta desejar um mundo mais aprimorado quando dentro de nós não há aprimoramento algum. Para algo ser verdadeiro de fato é preciso que seja de dentro para fora e não de fora para dentro. Queremos algo melhor, mas não adianta esperar isso vir de fora. Como tratamos primeiro nosso país, nosso estado, nossa cidade, nosso bairro, nossos vizinhos, nossa família e, principalmente, nós mesmos? Guerras e injustiças lá fora são frequentes porque tudo isso existe primeiro dentro de cada um de nós. Se isso não mudar de nada adianta falar sobre um mundo melhor.

        Necessitamos melhorar como vivemos e nos relacionamos com a vida. Sem essa mudança, imaginar todo o resto será apenas ilusão, algo infértil e que não leva a lugar algum. Quem sabe essa música de John Lennon não possa ser entendida não como algo sobre o mundo externo, mas sobre o mundo interno que existe dentro de cada um, nas nossas mentes?

        Estamos precisando derrubar nossas barreiras internas, que dividem tudo e causam mal-entendidos. O conceito de inferno e paraíso existe dentro de nós, e não fora, e eles precisam ser abandonados urgentemente. Se há inferno é porque há paraíso, e vice-versa, mas sem esses conceitos enganosos há apenas a vida. Essa, sim, merece ser vivida e entendida, bem como cantada. Portanto, é um trabalho individual, está nas mãos de cada um de nós sonhar primeiro com a própria vida para que ela se torne melhor. Quanto mais cada um fizer isso o mundo naturalmente se transforma. Não temos o poder de transformar o mundo, mas não importa, porque temos a possibilidade de transformar a nós mesmos, e é isso que vale.