segunda-feira, 5 de abril de 2021

Limites, agressividade e frustrações



        Quem nunca presenciou a cena de uma criança fazendo birra e esperneando publicamente e os pais, constrangidos, cedendo ao que o filho(a) deseja? Pois é, realmente é difícil impor limites aos pequenos, mas fundamental para a saúde de suas futuras vidas mentais. É difícil porque limites frustram e tememos que frustrações sejam o mesmo que violência. Entretanto, todas as crianças, e adultos também, precisam saber que querer nem sempre é poder.
            Impor limites à uma criança é dizer-lhe não, algo que ninguém gosta de ouvir. Mas quem disse que as crianças devem ser atendidas e gratificadas em todos os seus desejos? Agir assim é fazer um mal terrível à criança, que passa a ver as frustrações como coisas terríveis na vida e não como coisas naturais. Hoje em dia há um excesso de má psicologia que proclama que não devemos frustrar as crianças senão elas ficarão recalcadas e inibidas, esquecendo que na vida as frustrações fazem parte. Claro que uma criança só ouvir "não" vai sofrer inibições, mas se por outro lado tudo for permitido, ela terá uma falsa ideia do que é a vida.
        Tanto o "não" quanto o "sim" são importantes. Quando há um equilíbrio entre eles a criança pode perceber e internalizar que na vida nem tudo se pode. Saberá melhor avaliar o que deseja e se esse desejo pode ou deve ser realizado. Se a educação emocional dada promove tanto a frustração quanto a autorização dos desejos infantis cria-se uma possibilidade de surgir um adulto que saberá lidar com as frustrações de maneira eficiente, bem como se permitir realizar aquilo que de fato lhe importa. Caso não haja proibições abre-se espaço para surgir alguém despreparado para a vida e entregue às próprias pulsões agressivas.
        Ao espernear e fazer birras uma criança dá vazão à sua agressividade, e se os pais cedem, para acabar com o escândalo, dão a entender que a agressividade é que resolve tudo. As crianças acreditam, então, que sua agressividade é extremamente poderosa e que se utilizando dela terão tudo o que desejam. Bom, está aí a receita para se criar seres agressivos, sem limites e totalmente alienados sobre como a vida funciona. Tornam-se adultos insuportáveis e altamente destrutivos que ainda acreditam que querer é poder. Vão espernear por tudo e em qualquer momento, porque são incapazes de tolerar a menor frustração que seja.
        Infelizmente, há muita gente desavisada que acredita fervorosamente que é uma violência permitir que crianças pequenas se apercebam de frustrações. Essa gente presta um enorme desserviço, já que alimenta a crença infantil, que já existe naturalmente, de que os desejos infantis são poderosos e imperativos. Ora essa, só podemos amadurecer quando passamos a saber desejar, quando podemos transitar por nosso labirinto de desejos e compreender que nem tudo que desejamos é bom.
        Uma pessoa madura emocionalmente, em outras palavras, é alguém que sabe impor limites aos seus próprios desejos e que não fica submetida a eles. Dá para ver então como
impor limites, de maneira adequada e amorosa, é uma ajuda imensa que damos às crianças.
        Quando uma criança recebe um "não", em princípio, ela o sente como um desprazer muito grande. Depois ela tem a chance de sentir esse mesmo não como uma proteção, porque entende que será contida quando isso se fizer necessário, compreende que não ficará perdida em tudo o que deseja e poderá aprender a saber desejar. Quem nunca ouviu "não" jamais poderá ser capaz de pensar sobre a vida e viver plenamente.

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