Achei uma frase da professora de budismo Elizabeth Namgyel muito feliz para pensarmos sobre coisas importantes: “O maior respeito que podemos prestar a alguém é não pensar que sabemos quem ele é”. Ocorre que quando achamos que sabemos quem o outro é a espontaneidade fica prejudicada, e sem espontaneidade os relacionamentos se tornam empobrecidos.
Seja nos relacionamentos amorosos ou nas amizades estamos sempre descobrindo o outro. Até porque ninguém é estático, vai mudando conforme o tempo passa e as experiências de vida são assimiladas. É bem comum que amigos, após um período de tempo sem se verem, voltem a se encontrar e se estranhem, inicialmente. Nesta situação, ao não se reconhecem imediatamente, necessitam de tempo e paciência para que cada um vá se dando conta de quem é a outra pessoa agora.
Um relacionamento amoroso que se iniciou em uma determina época, depois de algum tempo muda, porque o casal já não é mais o mesmo. Na verdade, cada membro do casal vai mudando e, com isso, o relacionamento vai se transformando. Muitos casamentos e uniões se desfazem justamente por esse motivo: o par já não se reconhece mais, cada um olha para um lado diferente, o que faz com que sigam caminhos que tomam direções distintas.
Se acreditamos que sabemos quem o outro é ficamos numa zona de conforto, damos o outro como garantido, bem como deixamos de explorar lados diferentes e interessantes no outro. Por mais convivência partilhada ou por mais intimidade que tenha sido construída com uma outra pessoa, ainda assim, sempre há o que conhecer, sempre há com que se surpreender. Concordo com a autora da frase que diz que se nos disponibilizarmos para estar constantemente conhecendo o outro (cônjuges, amigos, familiares, etc) estaremos mostrando um grande respeito e abrindo novas possibilidades para o relacionamento.
Essa postura de buscar conhecer o outro, aliás, é vital para a prática clínica de um psicanalista. Se um analista se colocar na posição de achar que já conhece seu analisando o tratamento ficará impossibilitado de acontecer. No processo analítico é de suma importância que o analista esteja sempre aberto ao que ele não sabe de seu analisando para poder ajudá-lo a se aproximar do que ele não percebe em si.
É um equívoco achar que se sabe quem o paciente é. Isto limita a percepção do analista e faz com que ele tenha uma visão estereotipada do seu paciente. Seria uma atitude bem arrogante e desrespeitosa. No atendimento clínico e na nossa vida pessoal tal desrespeito não deve ter lugar. Caso o analista pense que sabe tudo sobre quem atende transforma o processo terapêutico, que deveria ser algo vivo e transformador, numa coisa imobilizada e, portanto, morta.
A espontaneidade de estar sempre conhecendo o outro permite que os vínculos de uma relação se fortaleçam e, também, oferece espaço para que o outro possa se transformar de maneira livre para ser e viver o que lhe for possível. Aí sim, o respeito tem como nascer.
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