segunda-feira, 20 de abril de 2020

O desespero e a busca pelo prazer


          Nesses tempos onde devemos praticar o isolamento como forma de nos proteger e proteger os outros do contágio da Covid-19, muitas pessoas acabam por usar os aplicativos de encontros amorosos com mais intensidade. Tanto para o público heterossexual quanto para o público homossexual esses aplicativos sempre foram usados largamente e mais do que para viabilizar um encontro “amoroso”, serviam como um facilitador de encontros sexuais. As pessoas entravam neles para procurar possíveis parceiros para aventuras sexuais. Geralmente, para uma única aventura, sem maiores compromissos.
          Numa matéria do site UOL foi noticiado que esses aplicativos estão sendo usados mais do que nunca. Segundo o artigo há pessoas apenas “conversando”, se conhecendo e trocando fotos provocativas, mas que há inúmeras pessoas que estão marcando encontros, colocando os outros e a si próprias em risco. Isto é preocupante. Fiquei pensando nesse artigo e refletindo sobre como as pessoas vivem a dimensão sexual.
          Parece que o sexo é vivido por essas pessoas não como algo saudável, mas como algo um tanto quanto desesperador, quase como uma válvula de escape, como uma maneira de se lidar com a ansiedade e o medo. Usam de um mecanismo de defesa chamado negação e atuam como se nada houvesse de perigoso. Geralmente, quem usa da negação está com tanto medo que não consegue processá-lo e aí negam o que sentem como uma forma de se proteger. Só que o tiro, como já diz o ditado, pode sair pela culatra e acarretar sérias consequências.
          Que o sexo traz prazer todo mundo o sabe, mas na vida há prazeres e prazeres. Há prazeres que nos causam muito mal, que nos trazem imensos prejuízos. A droga, por exemplo, é um desses prazeres. É autodestrutivo. As drogas ilícitas, cigarro, bebidas, comidas e até o sexo podem ser vivenciados de forma destrutiva. É o desespero que leva à compulsão, é o não conseguir tolerar dentro de si emoções difíceis, pensar sobre elas e as transformar.
          Muita gente está se dando conta de seus conteúdos internos nesse período de isolamento. No dia a dia esses conteúdos passavam despercebidos devido a tantas obrigações e distrações. Ficavam “abafados”. Agora, com mais tempo consigo próprios, as pessoas estão notando que carregavam emoções e sentimentos que nunca foram devidamente elaborados e que as faziam se arriscar na vida de maneira temerária. Quando vemos que nessa época perigosa pessoas estão saindo para transar com desconhecidos ou para comprar drogas, se colocando em contato com vários outros sujeitos que podem oferecer riscos, é possível dimensionar o quanto as pessoas não sabem lidar com o que sentem e agem com inconsequência.
          O prazer é necessário na vida. É impossível uma vida sem prazer. Mas qual prazer? O sexo pode ser algo muito bom, mas tudo depende de como está sendo vivenciado. Pode ser algo que nos enriquece ou algo que nos empobrece. Um prazer está a serviço da vida, o outro prazer a serviço da destruição. Até mesmo para viver o prazer a gente precisa da mente para elaborar as coisas de forma que sejamos capazes de viver com dignidade.

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