Um
diretor de empresa poderoso gritou com seu gerente, porque estava com muito
ódio naquele momento. O gerente, chegando em casa, gritou com sua esposa,
acusando-a de gastar demais, com o almoço. A esposa, nervosa, gritou com a
empregada, que havia quebrado um prato. A empregada chutou o cachorro no qual
tropeçara. O cachorro saiu correndo e mordeu uma senhora que trombou com ele. A
senhora foi à farmácia fazer um curativo e gritou com o farmacêutico porque
estava doendo. O farmacêutico foi a sua sessão de análise e gritou com o
analista porque estava frustrado. E o analista disse: “Estou vendo o quanto
você está frustrado, cansado, cheio de raiva. Dá para notar o quanto está
intolerável o que está sentindo. É quase como se você quisesse derramar para
fora o que sente.” Ao escutar isso o sujeito se sentiu compreendido e pôde se
acalmar. Percebeu também que não estava bravo com o analista como havia pensado
inicialmente.
Neste instante, quando
a sessão de análise aconteceu, o círculo de ódio foi quebrado. Vamos ao longo
do dia, dos meses e dos anos acumulando raiva e ressentimentos que sem nos darmos
conta acabamos pegando como nossos. Nos apropriamos daquilo que não nos pertence
e vamos mantendo essa repetição de jogar a batata quente para quem estiver mais
perto. Geralmente é assim que as pessoas vivem e agem.
Obviamente, é uma maneira muito empobrecedora. Queremos
nos livrar do que sentimos como se isso fosse possível. Não é. Já que não nos
livramos daquilo que nos é despertado através das emoções, só podemos mesmo
aprender a lidar com elas. Romper os círculos de ódio que existem por aí só se
torna viável quando aprendemos a lidar com nossos sentimentos e não em querer jogá-los
longe rapidamente.
Numa análise somos convidados a conhecer o que sentimos.
Quem se escuta pode decidir de maneira consciente qual medida tomar. Quem pode
tolerar os próprios sentimentos cria a condição de escolher o que quer e o que
é melhor fazer de fato. Numa análise círculos que há anos se faziam presentes
na vida de muitos, podem ser reconhecidos e quebrados. E no lugar desse círculo
repetitivo pode surgir uma nova maneira de se relacionar com os outros e com a
própria vida.
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