Um dia andando pelo calçadão no centro de Londrina havia
um grupo de religiosos gritando a plenos pulmões “Arrependei-vos, pois o Reino de Deus está próximo e o dia do Juízo está
chegando e Jesus virá para julgar todos os pecados”. Muitos dentre eles estavam
fora de si e entregues a um frenesi que não era preciso ser profissional algum
para entender que se tratava de loucura. A loucura pode se vestir de várias
maneiras e uma delas é de religioso ortodoxo que não entende o que fala e
interpreta tudo da maneira que lhe convém.
A frase que repetiam de forma tresloucada, no entanto,
até que é interessante, mas apenas se pudermos interpretar e não toma-la
literalmente. Não sou teólogo, sou só um psicoterapeuta curioso que gosta de
pensar sobre o que vê e experimenta. Penso que “O reino de deus está próximo” é
algo verdadeiro, pois cada vez mais nos encaminhamos para a morte, essa
desconhecida geradora de tantas angústias. Chamamos a morte, o que não
conhecemos, de Reino de Deus, afinal ninguém voltou de lá para nos contar e ela
está cada dia mais próximo em nossas vidas. Nesse sentido o reino de deus está
realmente chegando.
O arrependimento deve ser compreendido não como algo
moral, para nos trazer peso e sentimento de culpa, mas como um lembrete de que
estamos passando rápido por essa vida e que devemos vivê-la bem. Perdemos
frequentemente muito tempo com coisas que não nos acrescentam nada e deixamos
com isso de viver de maneira mais verdadeira. Devemos nos arrepender do quanto
de vida que já desperdiçamos para tirar vantagem do tempo que ainda nos resta viver
para fazer um bom proveito. Nesse caso a exortação para o arrependimento serve
para nos alertar que não temos a vida inteira e que nosso tempo é contado.
Sobre os pecados podemos pensar no termo original da
palavra que em latim significa errar o
alvo. Assim os pecados são todas as nossas ações e maneira de ser que na
verdade não nos possibilitam acertar nosso alvo que é viver bem. Qual o melhor
objetivo nessa vida que não viver bem? Quando nossas atitudes nos aprisionam
erramos feio o alvo e não atingimos nossas potencialidades. Devemos sempre
avaliar os nossos “pecados” para não desperdiçarmos energias valiosas com
coisas que não nos ajuda a desenvolver. Nesse caso avaliar os pecados é apenas
uma questão de ajuste de mira e correção de rota.
Vendo por essa perspectiva essa frase pode ser levada
conosco para criar sabedoria e não perdermos tempo. Na verdade, estamos
passando por esta vida e não somos donos dela. Nosso tempo é limitado e devemos
começar, o quanto antes, a aprender como viver cada vez melhor e com mais
dignidade. Quanto aos religiosos do calçadão fico com a impressão de que ao
invés de seguirem o que pregam estão fazendo justamente o oposto: perdendo
tempo e não aprendendo a viver a vida que têm.
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