segunda-feira, 6 de maio de 2019

A Dor da Alma




            A dor é algo assustador e que todos nós tememos. Passar por uma doença que causa dores no corpo, sofrer um acidente, se submeter a um tratamento dolorido, tudo isso tira a paz e o sossego de muita gente. A dor física é facilmente reconhecida e tratada, graças à medicina e farmácia cada vez melhores. Além disso a dor no corpo é aceita com mais naturalidade, o que facilita o seu entendimento e tratamento. Porém, quanto à dor emocional, mais comumente chamada de angústia, a história é outra.
            Por mais avançada que estejam a tecnologia, a ciência médica e farmacêutica a dor emocional continua presente e minando a vida de muitas pessoas. Para o que se passa na dimensão subjetiva os remédios podem ter efeitos paliativos, mas não são a solução. Os médicos, frequentemente, encontram em seus consultórios gente que padece de um sofrimento que está além do físico e para a qual eles não têm preparo para enfrentar: a dor mental.
            Verdade seja dita, os pacientes exigem muito dos seus médicos, cobram que eles sejam da categoria dos deuses e que para tudo encontrem ou deem a solução definitiva. E quando os médicos se submetem, mesmo sem perceber, a essa exigência acabam ficando impotentes e confusos porque o que precisa ser tratado é de outra dimensão porque tem a ver com a mente e esta é mais do que o corpo.
            Depressões, fobias, estados obsessivos, psicossomatizações são todas formas pelas quais a dor emocional se manifesta. Quem sofre dela não sabe dizer dessa dor, não tem palavras, mas reconhece que sente angústia. O que fazer com essa angústia quando hoje em dia demandamos que tudo seja resolvido para ontem? Como suportar uma dor que não tem analgésico que dê conta? Como superá-la?
            Seja desde a dor de um distúrbio mental ou a dor de um processo de perda ou luto, ou de um sentimento de humilhação, a única possibilidade é saber lidar com o que se sente. Lidamos com nossas dores de maneira ineficaz e de forma que só traz mais dores. Ninguém nasce sabendo lidar de maneira eficiente com a dor psíquica, mas é algo que se aprende ao longo da vida e através das experiências. Para lidar com a dor subjetiva é preciso ser humano e ninguém nasce humano, porém torna-se humano.
            A cura psicológica existe, contudo é diferente da cura do senso comum. A palavra cura vem do latim e significa cuidar. Portanto curar é cuidar. Um curador de um museu cuida das obras de arte. Nossa vida é uma bela obra de arte e aprender a cuidar de nós mesmos é imperativo para podermos viver com qualidade. A cura psicológica só se dá quando alguém passa a cuidar de si, ou seja, a se relacionar consigo e com o mundo de uma maneira diferente e mais favorável.
            Uma pessoa que come demais comidas nada nutritivas não tem só um problema orgânico, mas uma dificuldade pessoal de se relacionar melhor com sua fome. Quem não cuida de um órgão que requer atenção, não mostra que está sendo displicente só com seu físico, mas com toda a sua integridade. Se cuidamos tão bem de nossos corpos, porque não damos um passo a mais para cuidar da forma como vivemos de fato? Talvez, porque mudar como vivemos exige que lidemos com a angústia, agora não mais como inimiga que precisa ser eliminada, mas como um alerta de que algo não vai bem.
            Usar a angústia a nosso favor ocorre dentro de um processo analítico ou psicoterapêutico. Quando se se permite falar da dor emocional que existe ela passa a ganhar outra forma. Esse tipo de dor só se supera entrando nela para poder transforma-la em algo que não nos doa mais. O consultório de um analista ou psicoterapeuta é o melhor espaço para cada um aprender como lidar com a dor que sente de uma maneira mais humana.

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